A força do design integrado

Bruno Canato
Try Consultoria
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4 min readNov 27, 2015

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Pensando design de ponta a ponta

Quando a Fast Company escreveu o artigo How Google Finally Got Design, este reverberou chancelando o que já se tornou público e notório — o gigante de tecnologia, cuja ambição era tornar toda informação do mundo acessível, conseguiu subir ao panteão de uma empresa que entrega, também, design.

Google sempre foi sinônimo de tecnologia e performance. Desde que começou como um buscador e colocou de ponta-cabeça o mundo digital mudando os parâmetros de cuidados com conteúdo, liderando novos modelos de pagamento por inserção de mídia focados em entrega e buscando sempre novos modelos de entretenimento e serviços com aquisições notáveis de Analytics, Youtube e Waze, a empresa ficou conhecida por fornecer serviços que, acima de tudo, funcionavam, e foi essencial para que digital crescesse e se tornasse, inclusive, o segundo maior meio em investimento publicitário, ultrapassando a TV paga e ficando somente atrás da TV aberta.

Material Design foi uma boa maneira de devolver ao mundo dominado por Flat Design alguns conceitos de UX, como a importância de um fluxo claro e affordances para dizer ao usuário para onde seguir.

Entretanto, até mesmo para a empresa multinacional, “só” funcionar não é o suficiente. Por razões competitivas em um mercado ágil. ficou claro que ele precisava abraçar uma nova dimensão do design — e lentamente seus produtos melhorando em qualidade. As comparações com a concorrente e por muito tempo líder inabalável de pensamento no mercado mobile, a Apple, têm se tornado mais comuns e o refinamento na entrega é notável. De uma empresa que “funciona”, o Google tem liderado conversas sobre design visual e como este pode melhor a experiência do usuário por meio de fluxo, profundidade e consistência, especialmente desde que cunhou o termo Material Design.

É verdade que um design que enche os olhos mas que, no final das contas, não promove uma boa experiência por deixar de levar em conta as características de uma pessoa para quem foi projetada e portanto não fornece a ela um conteúdo ou serviço com valor é um design oco. O apelo estético, por si só, não é capaz de reverter a frustração e o desgaste.

Entretanto, há uma maturidade agora na discussão em entender que o design exponencializa a experiência. Ter um bom design visual não é um diferenciador estratégico — é uma commodity em um mercado com ferramentas rápidas de edição e bootstraps -mas vê-lo indissociável da estratégia, dos requisitos mais essenciais que compõem uma experiência significativa é criar um design informado e baseado em evidências.

A ideia tem circulado por baixo dos panos faz um tempo. Quando Garrett escreveu o Elements of User Experience, por exemplo, ele já havia postulado sobre como uma experiência do usuário é composta por camadas cumulativas, com o design visual refletindo os mais básicos requisitos dos usuários e objetivos dos sistemas.

Já Donald Norman, um verdadeiro Papa da área, narrou em Emotional Design o caso de uma experiência de caixa eletrônico testado nos EUA, com os mesmos rótulos e fluxos, mas grupos controlados em uma versão de design visual mais simplório e outra um mais refinado. O segundo grupo teve visível maior facilidade. Descontente com o resultado e certo de que isso derivava da cultura excessivamente imagética norte americana, foi repetido o teste, em um país do Oriente Médio. Spoiler: os resultados foram iguais.

Integração entre app em smartphone, fluxo do parque, lojas, restaurantes e uma pulseira? Só se a aparência dela não acabar com a magia Disney.

A preocupação com a entrega visual dialogando com a entrega da experiência afeta outras empresas. Netflix, que agora está prestes a bater a audiência de televisão tradicional, recentemente passou por um redesign visando uma melhor experiência de binge watching. E no incrível projeto Magic Band dos Parques Disney, que revolucionou o fluxo de gestão de pessoas, de modos de pagamento e integração presencial e digital, a aparência e o tamanho da própria pulseira foram um ponto de tensão e preocupação — sempre tentando manter a magia. Da estratégia à visualização mais sensível, o cuidado de um design integrado e informado é capaz de emancipar e fortalecer experiências digitais.

O momento se torna propício para a discussão de uma união inegável destes aspectos de design justamente pela proliferação de produtos, ideias e serviços entregues de maneira digital. Muitas vezes, a ideia de um app começa com um layout interessante — e um MVP (mininum viable product, uma proposta de valor de produto) mal delineado. Nestes casos, a ideia de fail fast torna-se o atestado de uma reação ao mercado, e não um empreendedorismo pleno. E, ao mesmo tempo, o acesso a maneiras de provar, como ferramentas de heat tracking, teste de usabilidade remoto etc. tornaram acessível saber o impacto de cada escolha — no nível mais conceitual, ou mais visual.

E você? O que você acha que mais contribuiu para a mudança de mindset do mercado sobre UX e uma integração mais plena entre estratégia e implementação de experiências?

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Bruno Canato
Try Consultoria

Senior UX Manager at Nubank. UX teacher at FIAP, Tera and ESPM-SP. MSc in Communication and Semiotics.