Interfaces hápticas

Estamos utilizando mal nossos sentidos?

Gabriel Cardoso
Try Consultoria

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A todo momento novos dispositivos digitais estão sendo lançados e todos eles buscam apresentar novas formas de se relacionar com o usuário e o ambiente ao seu redor. Contudo, esse excesso de informação a ser aprendida pelo usuário para controlar seus dispositivos nos leva a um beco sem saída, onde cada vez mais dependemos de interfaces visuais para receber respostas das nossas interações com esses dispositivos.

Estamos deixando de lado formas de interagir que ainda não foram completamente exploradas para substituir por novas interações a cada dispositivo lançado. Estamos sobrepondo interações — dos toques em botões físicos para toques com um único dedo em telas touch, para a criação das telas multi-touch, e agora o reconhecimento de voz e os gestos para os smartwatches e dispositivos como o Google Glass — e cada vez menos pensando em como podemos projetar as que já temos para os novos dispositivos.

Um caso interessante é o das interações hápticas (interações por meio das sensações táteis, não necessariamente o toque do usuário na tela, mas também os retornos que o dispositivo pode dar ao usuário). Esse tipo de interação foi projetada para avisar pilotos de avião que está ocorrendo um problema (por meio de vibrações no manche), mas que hoje estão no bolso de praticamente todas as pessoas vibrando nossos smartphones a cada mensagem recebida ou no controle dos videogames que vibram nas mãos dos jogadores.

As interações hápticas não ficaram esquecidas nos dispositivos atuais, mas continuam limitadas aos alertas incessantes dos aplicativos instalados em nossos dispositivos, sejam em telefones ou relógios. Interações hápticas não estão limitadas a vibrações, mas ainda não exploramos todas as possibilidades de utilização da tecnologia. Hoje é possível produzir reações por sensores elétricos ou por pressão e isso pode ser utilizado para gerar estímulos que tentam aproximar o mundo digital do mundo físico.

https://www.youtube.com/watch?t=55&v=kaoO5cY1aHk

Um exemplo de utilização de interfaces hápticas sem vibrações está nas “sensações fantasmas”, que podem ser causadas de diversas formas. Um estudo sobre isso foi realizado pela universidade de Bristol onde eles desenvolveram uma plataforma que utiliza ultrassons para criar objetos holográficos que podem ser tocados e sentidos, mas não podem ser vistos.

http://www.disneyresearch.com/project/aireal/

Outra forma de criar essas sensações é a utilização de deslocamento de ar como no AIREAL, projeto criado pela Disney research que dispara pequenas quantidades de ar na direção do usuário simulando situações como o bater de asas e bolas jogadas na direção do usuário.

http://www.disneyresearch.com/project/revel-programming-the-sense-of-touch/

Um exemplo diferente de utilização de interfaces hápticas é o REVEL (Reverse Electrovibration), um projeto desenvolvido pela Disney Research que possibilita uma experiência tátil diferente com praticamente todos os objetos do mundo físico. Com a utilização de um pequeno dispositivo que pode ser acoplado à diversos objetos, é possível sentir texturas diferentes em várias superfícies incluindo as telas touch ou mesmo em uma parede lisa.

Em pouco tempo não estaremos mais projetando pensando apenas em como um botão funcionará na versão mobile ou como visualizamos essa informação no desktop, mas pensaremos também em qual sensação o usuário terá ao passar o dedo pela tela, qual a textura da nossa interface; teremos, segundo Willian Harris, uma experiência cada vez mais completa no digital.

"Quando está combinado com outros sentidos, especialmente a visão, o toque aumenta dramaticamente a quantidade de informação que é enviada ao cérebro para processamento. O aumento na informação reduz erros do usuário, bem como o tempo que ele leva para completar uma tarefa" — Willian Harris

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