Metáforas desastrosas em prol de uma experiência diferenciada

Desde os primeiros computadores estamos utilizando diversas metáforas e paradigmas de interação, mas paramos de experimentar novas metáforas em busca de uma experiência de uso diferenciada.

Gabriel Cardoso
Try Consultoria
4 min readSep 30, 2016

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Desde os primórdios dos computadores estamos tentando arranjar a melhor forma de passar informação para os usuários e com isso fomos desenvolvendo metáforas que nos auxiliam a evitar uma quebra completa do modelo mental desse usuário. Esse é o caso de computadores como o XeroxStar 8010 que foi um dos primeiros a possuir o sistema operacional baseada em WIMP (windows icon menu pointer) que usamos até hoje.

Contudo nem sempre a metáfora é bem entendida ou funciona 100% aos propósitos de quem a projetou. Podemos ver isso em “erros” antigos da Microsoft como o BOB, um software criado em 1995 para ajudar usuários novos em computadores a se familiarizar com os recursos do sistema operacional. Na tentativa de criar algo familiar e com um assistente pessoal para o usuário foi criada uma interface que era muito difícil de se mexer e que muitas vezes nem fazia muito sentido (como não imaginar que para fazer login você tem que clicar na porta, afinal tem que bater antes de entrar!). Mas, nem tudo foi visto com maus olhos na tentativa da Microsoft, por exemplo o Rover, cachorro/assistente pessoal que se tornou um clips nas versões seguintes de softwares da microsoft permaneceu por muito tempo e enquanto conceito ainda existe mesmo que mais discreto na interface (na verdade, agora os assistentes pessoais estão mais próximos do J.A.R.V.I.S. do Tony Stark que do Rover, mas ainda existem).

Telas de login e sala de estar no BOB. Fonte das imagens: http://toastytech.com/guis/bob.html

No campo do mobile temos o Magic Cap OS, um sistema operacional para PDAs (ou PalmTops) muito similar ao BOB da Microsoft, mas sem a simpatia do Rover, novamente a metáfora exagerada acabou por decretar prematuro o fim do Magic Cap OS.

Tela de uma mesa de trabalho e uma gaveta aberta com as ferramentas no Magic Cap OS. Fonte das imagens: http://toastytech.com/guis/mcap.html

Outro exagero de metáfora que complica a vida de alguns usuários é quando uma ação promocional fala mais alto que a usabilidade de um site, não necessariamente é uma experiência ruim, mas sim um problema na capacidade do usuário usar um site.

Print do The Deepest Site.

Um exemplo disso é o The Deepest Site (ou o site mais profundo), com uma proposta bem legal de mostrar a profundidade que a empresa mantém sua fonte de água ele usa uma rolagem de tela quilométrica onde o usuário tem que literalmente chegar ao fundo do poço para ver todas as informações. Mesmo sendo uma proposta bem legal no sentido de mostrar o esforço da empresa e de desafiar os usuários, ele acaba por criar uma navegação complicada para acessar todas as informações.

Print do site da produtora de áudio. Se não está vendo é porque está funcionando perfeitamente.

Um problema similar pode ser visto com o site da produtora de áudio Croácia, nele o usuário passa por uma experiência de navegação totalmente por som. Ao acessar o site não é exibida nenhuma imagem ou texto para o usuário, uma assistente fala que o site não possui nenhuma interface visual e que toda a navegação será por comandos de voz, visto que eles são uma produtora de áudio essa pode ser uma experiência bem diferente. Mas, ao mesmo tempo que utilizar esse tipo de tecnologia pode tornar a experiência única, a dependência de um hardware e a dificuldade de encontrar informação ao abrir o site pode ser visto como um problema. O site não apresenta nenhuma resposta visual ao carregar, dependendo que o usuário possua (e esteja usando no momento) fones de ouvido ou caixas de som, e mesmo que ele consiga perceber que o site está carregado e que ele pode navegar ele vai precisar de um microfone.

Nos casos do The Deepest Site e da Croácia o exagero em metaforizar seus produtos não criaram experiências ruins, mesmo deixando possíveis falhas na navegação. A boa experiência criada por eles acaba por superar os potenciais problemas tornando esses exemplos memoráveis mesmo depois de alguns anos do lançamentos.

Diferentemente o BOB e o Magic Cap foram descontinuados por não facilitar nem a navegação nem a experiência que se tinha, ao subestimar quem vai usar o seu produto e ao tentar facilitar demais podem ter tornado esses produtos chatos e fáceis de se abandonar.

Outro efeito (não direi se acho desastroso ou não) é a criação da Comic Sans. A tipografia foi criada especialmente para ser as falas do assistente pessoal do Microsoft BOB, mas nunca foi implementada como dito pelo próprio criador da fonte ao The Guardian.

Ao menos o Rover conseguiu sair ileso das frustradas tentativas da Microsoft (e sem Comic Sans).

No gif: Rover lê um livro tranquilamente.

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