“Os perigos de um usuário único”

Gabriel Cardoso
Try Consultoria
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3 min readJun 24, 2015

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Milhares de serviços digitais são lançados todos os dias ao redor do mundo (só em aplicativos de celular, são esperados até 270 bilhões de downloads até 2017), mas isso não significa que tudo que é lançado vai se dar bem em mercados globais — existe uma necessidade de adaptação do modelo de negócios aos usuários locais.

Isso já deveria ter sido aprendido com as diversas franquias e produtos que apareceram por aqui sem olhar para os usuários tupiniquins e tentaram aplicar o mesmo modelo de negócios de outros países. O resultado é quase sempre prejuízo à imagem e financeiro; e muitas vezes culmina na saída da franquia do nosso mercado.

Como exemplos dessas franquias temos a Dunkin’ Donuts que esteve já aqui no Brasil nos anos 1980, mas não agradou muito aos consumidores e acabou tendo que fechar em 2005. Quando eles resolveram voltar, trouxeram uma abordagem diferente: olharam para quem são os consumidores e chegaram a adaptar o cardápio ao gosto dos brasileiros, trazendo sabores de donuts com frutas brasileiras, sanduíches e pão de queijo.

Com o mercado digital não é diferente. Sites e aplicativos aparecem e desaparecem com mais frequência do que conseguimos lembrar deles.
O Caio Simon escreveu, falando dos aplicativos e virais da moda que logo perderam o brilho. Mas e quando eles não conseguem nem ter os seus 15 minutos de fama?

A resposta é simples: assim como as franquias e outros produtos que não deram certo eles saem do mercado com a mesma velocidade que entraram.

Mas de quem é a culpa? De quem não pesquisou o público ou de quem tentou impor um produto a ele?

Na hora de entrar em um mercado diferente, muitas empresas de tecnologia estão esquecendo que usuários são diferentes em cada lugar do mundo, que tem necessidades diferentes a serem atendidas. A cultura de um país acaba sendo esquecida nas pesquisas para saber se um mercado é lucrativo para investir ou em quanto tempo um negócio deve ter retorno financeiro.

Antes de todas essas pesquisas é necessário conhecer bem o público a quem um serviço ou produto se destina e se necessário adaptar sua forma de utilização ou fabricação para atende-lo melhor. Essa é a fórmula que deu certo para as franquias que fizeram sucesso no mundo todo (como o Mc Donald’s que adapta seu cardápio de acordo com o país, modelo copiado agora pela Dunkin’ Donuts) e que funciona muito bem com os produtos digitais, como é o caso do Easy táxi que começou no Brasil e está em mais de 30 países.

Em entrevista durante o 14º Tela Viva Móvel o coCEO do Easy táxi, Dennis Wang, explica que ao entrar no mercado da Arábia o Easy táxi focou o serviço em mulheres (nos países árabes mulheres só podem sair sozinhas ou dirigir se for de táxi) e hoje elas representam 75 % dos usuários do aplicativo nesses países. Nas Filipinas, onde boa parte dos motoristas do país não são alfabetizados e possuem baixa renda, foram distribuídos smartphones e firmados acordos com as provedoras de internet móvel para que o serviço não fosse descontado dos motoristas.

“Desenhamos uma cartilha de como expandir para outros países. Mas como o McDonald’s, que tem sanduíches diferentes em cada país, aprendemos ao longo do tempo que temos que adaptar o serviço a cada país.” — Dennis Wang

A capacidade de adaptar-se é o que garantiu a sobrevivência dos seres humanos ao longo dos anos e isso também é o que tem garantido a sobrevivência de diversos serviços em mercados internacionais, vale investir um tempo para conhecer grupos de pessoas seus costumes, modos e a cultura local.

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