Pronto para uso!

Pedro Henrique Hecht
Try Consultoria
Published in
3 min readMay 11, 2015

--

A experiência de não ter que esperar

Há alguns anos tínhamos na Nokia a referência em celulares. Todo mundo queria aqueles telefones coloridinhos. A pior parte de comprar celulares naquela época era a espera: após a compra o aparelho deveria ficar carregando durante 24 horas até que estivesse pronto para uso. Caso você não fizesse isso, estaria condenando sua bateria a nunca mais ter uma carga de 100%, então ela duraria no máximo 3 dias!

Vieram os primeiros iPhones e a espera não existia mais: agora você tirava o celular da caixa, ligava e já estava usando seu smartphone. Nesse momento ficamos mal acostumados. Não precisávamos mais esperar para nada, não queríamos mais esperar.

Estava fixado um marco e todos seguiriam esse padrão!

Imagine uma manhã de Natal, quando não há como conter a animação de uma criança em brincar com os presentes que ganhou na noite anterior. A dúvida por qual começar é grande. O pequeno então decide começar pelo tão esperando videogame — ele é o primeiro do bairro a ter a nova geração do brinquedo. Ele chama os amigos para jogar.

O momento tão esperado, por todos na casa, enfim chega. É até difícil segurar a emoção. Todos os cabos estão conectados, as primeiras imagens começam a aparecer e… “O seu dispositivo precisa ser atualizado — tempo de download: 2 horas”.

tela do Nexus 9 — “seu tablet precisa fazer o download de uma atualização e reiniciar”

Um fã da Apple decide trocar o (agora não tão) inovador iPad por um Nexus 9. Uma decisão difícil, já que até então todos os seus aparelhos foram da Apple, mas ele se dá por vencido.

Chega em casa animado com o seu gadget novo, a ansiedade para usufruir de todas as interações do Material Design — bom, pelo menos se você for um designere aplicativos não pode ser contida.

Ele começa a configurar o aparelho, so far so good, não faz ideia de quantos passos faltam e… — “seu tablet precisa fazer o download de uma atualização e reiniciar”

A frustração gerada é imensa e provavelmente desnecessária. As atualizações poderiam ser feitas em segundo plano, deixando apenas o aviso de que estão pendentes — uma solução fina, elegante e sincera.

A Amazon, em contrapartida, resolve melhor.

Se há um produto que leva a frase “Ready for use” a sério, esse produto é o Kindle.

A aplicação do conceito começa pela sua embalagem: nada além do bom e limpo papelão. Sem lacres ou plásticos. Completa e perfeita, deixaria Loui Sullivan satisfeito. Depois de aberta, pode jogar fora. Ela já cumpriu seu dever.

Tela Kindle: — “se você comprou o seu Kindle online usando a sua conta da Amazon, o dispositivo já está registrado e pronto para uso”

O Kindle vem com bateria pronta para uso, e em alguns caso com internet própria, conexão 3G. Caso você compre o seu Kindle pela Amazon, ao ligá-lo terá uma surpresa — sua conta e livros já podem ser encontrados no aparelho, ou seja, seu novo brinquedo está pronto para uso.

Não, a Amazon não me pagou para escrever. Ainda!

Com exceção de grandes problemas de softwares, as pessoas conseguem lidar com pequenos bugs, e mesmo que o aparelho seja atualizado no momento inicial, nada garante que o sistema não irá travar nos primeiros segundos.

Então deixo a pergunta:

Até onde devemos priorizar a última versão do sistema em detrimento da experiência inicial?

--

--