Todo mundo já sabe como funciona?

Gabriel Cardoso
Try Consultoria
Published in
2 min readApr 30, 2015

Estamos cada vez menos perceptivos quanto ao que está ao nosso redor. Nos acostumamos tanto com as interfaces a ponto de esquecermos que elas estão ali. E com isso, a presença delas se tornou cada vez mais espontânea e natural no nosso dia-a-dia. Não que isso seja ruim (pelo menos para quem vai usar um produto que criamos aqui na Try! Rs…). Mas será que quem projeta ainda manteve a capacidade de observar de forma analítica a utilidade e presença dessas interfaces na nossa vida?

John Thackara escreveu em seu livro Plano B sobre as nossas percepções em relação ao ambiente e como cada vez menos temos a capacidade de observar a sua verdadeira natureza. Isso também se aplica ao projeto de interfaces quando nos acomodamos e nos prendemos a um recurso ou função não enxergando seu efeito ou impacto de uso para os usuários.

Esquema desenhado por Luke Wrobleski representando os pontos de fácil acesso em telas touch

Um exemplo: os “menus hambúrguer”! Eles foram criados basicamente para compactar os elementos num atalho único por causa do espaço reduzido das telas do celulares e, muitas vezes, são automaticamente colocados no canto superior esquerdo das telas. No entanto, com celulares cada vez maiores e nossas mãos tais como foram criadas a tempos atrás, esse recurso está se tornando cada vez mais difícil de ser alcançado nas telas dos nossos smartphone. E aí? Tem alguém pensando nessa mudança de entorno dos devices na hora de projetar o próximo produto mobile?

Mesmo que saibamos das implicações de usabilidade ao utilizar esse recurso no topo da tela, o hambúrguer vem sendo usado simplesmente se apoiando na sua característica básica de ser sinônimo de “limpeza na tela”. Estamos familiarizados com a sua imagem e isso está engessando o pensamento sobre a sua melhor aplicação e até mesmo sobre a sua ‘não utilização’! Quem sabe se não é o momento de nos libertar de um modelo para pensar em novas formas de dispor a informação que ele representa?

Criar exige um esforço mental muito superior a replicar modelos prontos. Com a velocidade que o ambiente muda, é arriscado não questionar a validade do que já sabemos a cada novo projeto. Voltando ao livro do Thackara, ele propõe um exercício com os ambientes que internalizamos para poder realmente enxergar suas qualidades. Ele experimentou isso com o aeroporto de Madri tentando ver o que está além das paredes, vidros e estruturas tentando imaginar a energia gasta para construí-las e mantê-las. Podemos fazer isso também com as interfaces que construímos: olhar além do “isso todo mundo já sabe como funciona”. Devemos procurar saber para quem vai funcionar. Procurar ver qual a energia empregada para manter a estrutura conhecida e qual é a hora de inovar e trazer algo diferente para o que estamos tentando fazer.

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