A JUVENTUDE RADICALIZADA

Rafael Bartoletti
Blog do Bart
Published in
3 min readOct 30, 2021

“Bem pior, contudo, era a situação nas ruas, onde todos os lados organizaram esquadrões armados de capangas; brigas e altercações tornaram-se coisa comum, e espancamentos e assassinatos eram largamente utilizados.
Aqueles que levavam a cabo tais atos de violência não eram apenas ex-soldados, mas também homens no final da adolescência que haviam sido jovens demais para lutar na guerra e para quem a violência civil tornou-se uma forma de se legitimar diante do poderoso mito da geração mais velha de soldados do front”.
(Evans, Richard J. A Chegada do Terceiro Reich. p. 106)

Fotos: Reprodução

Esta é uma nota rápida. São apenas pensamentos que me vieram quando li aquela passsagem acima citada.

Richard J. Evans descreve aqui a situação da luta política existente nas ruas alemãs do período entre guerras. Essa situação de guerra interna, cujos protagonistas da barbárie sangrenta eram ex-solados e jovens formados durante a guerra, é para Evans um espelhamento prático daquilo que ocorria no parlamento: o desprezo pelo outro.

O problema da radicalização e da exaltação violenta da juventude me parece um problema que, aqui no Brasil, teremos que lidar num futuro não muito distante.

Com efeito, há uma geração que formou-se no período pós 2013 ouvindo discursos cada vez mais inflamados dos nossos políticos e formadores de opinião. Em especial, deve-se ter uma procupação ainda maior com aqueles que tornaram-se adultos durante o governo Bolsonaro.

Enquanto nós aqui estamos discutindo a pandemia e a política do momento em artigos de jornais, há grupos e cursos de formação, e também youtubers, espalhados pela internet, que atingem milhares de adolescentes e jovens adultos, transmitindo-lhes uma visão de mundo neomaniqueísta cuja espinha dorsal é o ódio e a vontade de aniquilação do mau encarnado no grupo político adversário.

Os nossos políticos, independentemente do lugar no espectro político que ocupam, adotaram também a retórica dos políticos alemães do entre guerras quase como uma cópia fiel.

São grupos de formação da juventude sectários quase inatingíveis pelos formadores moderados e racionais.

Olhem os grupos gamers de bolsominions, a Turma Boa cirista. a galera do Lula Livre e a juventude do Boulos.
Vejam eles se estapeando nas redes sociais. Olhem para a agressão ao Ciro no protesto contra o Bolsonaro.

Imaginem quando isso sair das redes e ir para as ruas.

Se hoje assistimos a morte de uma nação levada à cabo por pessoas formadas em uma época em que não existiam os algorítimos, mas que foram especialmente radicalizadas usando-os como ferramenta, tentem conceber como estará o país quando essa rapaziada, que hoje têm entre 15 e 18 anos, formada nas bolhas da retórica virtual inflamada, tomar as ruas nas eleições de 2026 se não houver um trabalho forte de pacificação do país.

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