Desabafo de um direitista não-olavete

Rafael Bartoletti
Blog do Bart
Published in
4 min readMay 7, 2019

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Eu conheci o pessoal da nova direita em 2008, quando tinha 18 anos. Naquela época, essa turma era composta de jovens ente 18 e 25 anos que estavam cansados dos desmandos petistas e da ideologia esquerdista. Havia alguns mais velhos, veteranos de batalha, que desde os anos 90 militavam pelas ideias liberais ou conservadoras contra os socialistas e os sociais democratas.

Havia comunidades no Orkut onde se discutia livremente temas bastante interessantes. As melhores discussões, porém, eram nas mesas de bar.

Eu frequentava um curso de filosofia do excelente prof. Henrique Elfes, no Centro Universitário do Sumaré. Aos sábados, havia o Grupo de Filosofia pela manhã e o Grupo de Estudos Políticos a tarde. Ou vice-versa, não me lembro da ordem exata. No intervalo, almoçávamos feijoada numa padaria ali perto, próxima ao prédio da MTV.

Uma febre da época era a revista Dicta & Contradicta. Lá escreveram muitas pessoas que hoje estão por aí, nos jornais e programas de debate. Lá eles iniciaram as suas carreiras.

De lá pra cá conheci o pessoal do Elfes, o pessoal do Olavo, o pessoal do Fedelli, o pessoal do IPCO, os Integralistas, os liberais do MBL. Muita gente que conheci naquela época está hoje trabalhando no Planalto, especialmente da turma olavista.

É mentira que o Olavo tenha sido o único a quebrar a hegemonia da esquerda. O Elfes, o Consentino, o Constantino, o Vásquez da Cunha, o Tolentino, o Monticelli, o Joel Pinheiro da Fonseca, o Razzo, o Carlos Ramalhete, além de muitos outros estavam nesse burburinho.

Os alunos do Olavo atuavam nesses grupos como apóstolos de uma religião. Faziam proselitismo. A coisa que mais lhes interessava era atuar na propaganda do COF. Não obstante, não houve um só período nestes muitos anos no qual o Olavo não estivesse brigando com alguém: brigou com o Constantino, brigou com o Fedelli, brigou com o Nougue, brigou com o Sidney Silveira, etc.

Evidentemente, essas brigas não eram mero acaso: elas derivavam — e derivam — da própria estrutura teórica do olavismo. Para o Olavo, existem graus diversos de pessoas. Dada a sua concepção gnóstica da realidade, isto é, uma cosmologia segundo a qual a realidade é uma estrutura de entes que emanam de um único centro do ser-em-si segundo círculos concêntricos de rarefação, tanto superior será a pessoa quanto mais unida a esse princípio da realidade. É uma concepção derivada do perenialismo, um dos fundamentos da formação filosófica do Olavo. O que é a Teoria das Camadas senão uma derivação da antropologia filosófica e da moral da Tradição Perene?

Pois bem, segundo esta teoria existiriam 12 tipos ou graus de pessoas, que se diferenciam pela sua união com a realidade, a sua capacidade de entendê-la e de atuar nela para modificá-la. Entenda isto como graus de união ou dispersão da consciência humana com o princípio do real, o ser-em-si. Remeto o leitor para entender isso com mais profundidade ao excelente ensaio do Martin Vasques, ao livro Unidade Transcendente das Religiões do Schuon, às aulas do Olavo que estão no youtube sobre Deus e sobre as 12 camadas e aos podcasts do Yuri Vieira com o Olavo.

Para o Olavo, a maior parte das pessoas do nosso país estariam na 4ª camada. Jesus Cristo estaria na 12º. Ele, o Olavo, seria da 11ª — uma camada anterior ao próprio Cristo. Os seus alunos são hierarquizados segundo essas camadas (há notícias de que entre os alunos há competição para ver quem é de camada superior).

Pois bem, é daí que deriva essa postura bélica do Olavo. Ele se vê como superior a tudo e a todos, unido à realidade, único capaz de entendê-la, entender os rumos da história (p. ex. a revolução brasileira), e modificá-la para colocá-la no rumo correto. Portanto, apenas ele, como filósofo da 11ª camada, pode julgar quem são os verdadeiros filósofos,. Qualquer um que estiver em alguma camada anterior à dele deve se submeter intelectual ou moralmente às suas opiniões. Leia o capítulo “Descida ao Abismo” do livro “Hitler e os Alemães” de Voegelin, publicado pela É Realizações, para entender melhor sobre esses aspectos, que Voegelin chama de “autodramatização histriônica” e “desejo de domínio”. Cito apenas um trecho: “o que ele não podia dominar, ele destruía” (VOEGELIN, 2007, p. 205). E Voegelin continua: “no final destruiu a si mesmo”.

Este movimento que tensiona o domínio total e a autodestruição é o que se vislumbra nos últimos dias. O olavismo chegou num momento de tensão extrema: chegou ao poder e dali ataca os militares, os ex-membros que apostataram da seita, a imprensa, e, no final, a própria direita não olavete. Todos seriam inimigos, membros de um tal comunismo, globalismo, ou arautos da baixa cultura. A alta cultura é, evidentemente, a produzida por aquelas pessoas que estão acima da 9ª camada: no Brasil, a alta cultura são o Olavo e os seus alunos.

Os ataques dos últimos dias revelam o ponto culminante de toda essa história, que desde 2008 eu acompanho de longe, já que nunca fui aluno do COF, apesar de ler quase tudo o que o Olavo publicou e acompanhar a sua produção audiovisual: no final da vida, o Olavo agoniza pela percepção de que ele não pode a tudo dominar, auto-destruindo assim a sua reputação de intelectual e a sua capacidade de agir politicamente além dos limite dos seus fiéis seguidores fanáticos. Ele deseja dominar a tudo e destruir qualquer coisa que não seja a ele submetida. Está nas mãos do Presidente da República escolher entre o Brasil e tal seita macabra.

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