EDUCAÇÃO ATENIENSE

Rafael Bartoletti
Blog do Bart
Published in
6 min readAug 22, 2017

A Paidéia Grega

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O processo de ensino na Grécia Antiga: A Gramática e a Ginástica.

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Paidéia, do grego antigo “παιδεία”, é a palavra que os antigos usavam para denominar a formação do homem. Segundo Jeager (2013, p. 22) a palavra “formação” é a melhor tradução do termo paidéia, ainda que seja ela insuficiente. Os gregos antigos não pensavam em “educação”, segundo as categorias iluminista, num sentido meramente intelectual. Antes, pensavam em dar forma ao homem, ou seja, formá-lo em todas as suas dimensões.

A tese fundamental deste pensamento é um tipo ideal de homem a ser conquistado e segundo o qual os homens reais devam ser formados; “O homem ideal é “intimamente coerente e claramente definido” (JEAGER, 2013, p. 22). É um homem belo, no sentido que a palavra beleza, καλóν, tinha para os gregos: aquilo que atrai o olhar. Este homem belo não é apenas belo exteriormente, ainda que também o seja. Ele é um homem virtuoso em todos os sentidos, e por isso é belo, desejado; é o tipo segundo o qual todos devem ser formados. É o gentleman britânico (JEAGER, 2013, p.22).

Aqui virtude ganha um papel de grande importância. A palavra areté, ἀρετή, fará carreira na história do pensamento pedagógico. Areté significa virtude, excelência; é o nome dado àquela, ou àquelas, qualidade que deve ter o homem ideal. A virtude é o nome dado à qualidade que torna o homem excelente segundo o papel reservado ao homem no cosmos

Se é assim, então a formação depende necessariamente daquilo que se considera o tipo ideal de homem e, portanto, do conteúdo atribuído à palavra virtude.

Na Atenas Arcaica, período posterior às invasões dóricas e à chamada idade das trevas grega, de formação das cidades-estados, o conteúdo da palavra ἀρετή é exatamente o mesmo que em toda a península, e é expressado nos textos de Homero e Hesíodo: o homem excelente é aquele capaz de guerrear em tempos de guerra e de viver no campo em tempos de paz. Portanto a virtude é eminentemente corporal: o corpo excelente para guerrear e para cultivar. Além disso, é valorizado valores como honra e coragem. Nessa época a tradição é transmitida sobretudo no seio das famílias e por meio da religiosidade, das canções e da tradição oral.

Com o advento da Atenas democrática, que atingiu seu ápice sob o governo de Péricles, o tipo ideal de homem foi aos poucos refinando-se; não é que deixou de existir o tipo ideal de corpo, mas a este acrescentou-se o tipo ideal de alma. Foi quando a areté começou a caminhar para o seu ápice.

Nesta época era fundamental o poder retórico, sobretudo para a vida na cidade; o homem deve saber falar e argumentar para obter influência política. Neste contexto surgiram os sofistas com uma proposta de educação para este novo cenário.

Para Vernant (2003, p. 53) a palavra tornou-se o maior instrumento de poder dentro das polis: “Torna-se o instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade no Estado, o meio de comando e de domínio sobre outrem. ”. Neste ambiente, os discursos eram extremamente importantes para a política e nos tribunais, sobretudo nas polis em que vigoravam o modelo da democracia ateniense. Nas Assembleias, realizadas na ἀγορά, e nos julgamentos era crucial ter poder de persuasão.

Foi nessa época que os Sofistas, grandes mestres do uso persuasivo da palavra, surgiram.

Górgias, primeiro grande tratadista da Retórica, escreve uma paródia da obra de Parmênides intitulada “Sobre a não-existência”, aplicando, de maneira prática, sua máxima: “Destruir a seriedade de um oponente pela risada, e sua risada pela seriedade. ” (GUTHRIE, 1995, p. 182–183). Em tal tratado, Górgias procura defender as teses de que (i) nada existe, (ii) se existir algo não é possível conhecê-lo e (iii) se for possível conhecê-lo, não é possível comunicá-lo.

Protágoras assume posições teóricas diferentes: para ele “o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são o que são, e das coisas que não são o que não são. ”. (GUTHRIE, 1995, p. 173). Deste pensamento, deduz-se que, em última instância, tudo pode ser verdadeiro e falso concomitantemente, de maneira relativa ao juízo do sujeito. É fácil entender, então, porquê Protágoras poderia insistir: “Afirmações contraditórias sobre a mesma coisa são simultaneamente verdadeiras” e “é impossível afirmar ou negar alguma coisa de qualquer assunto”, concluindo que “Há dois argumentos opostos sobre todo assunto”.

Por conseguinte, os Sofistas acreditavam e educavam os jovens para destruírem seus opositores por meio das palavras, que não tinham nenhum fundamento na verdade, senão que a única verdade era o poder a ser conquistado.

Os sofistas fizeram grandes escolas onde ofereciam seus ensinamentos àqueles que podiam pagar seus onerados ordenados.

A educação sofística obteve grande oposição de outra escola que se formava em Atenas: os filósofos seguidores de Sócrates. A Retórica Sofista é, aos olhos de Sócrates, a perversão da verdadeira Sabedoria. Por ela, nada se conhece e nada se tira de proveito: serve ao prazer das palavras ou para atingir o poder de influência dentro de polis. Tal como a cosmética máscara o corpo e falseia a ginástica, tal como as receitas culinárias falseiam a verdadeira medicina, escondendo ambas os males do corpo, assim também a Sofística e a Retórica pervertem a Filosofia e falseiam os males da alma: a ignorância quanto aos seres verdadeiros (Ideias), o falso conhecimento.

O fundamento da educação socrática da alma é a busca da verdade. Para Sócrates há uma verdade objetiva a ser conhecida e o homem deve buscá-la. Ora, como se dá tal conhecimento? É preciso, com Amor, Ἔρως, buscá-lo dentro de si, rememorá-lo. E para isso há um método: a Dialética.

En cuanto a la naturaliza de esta dialéctica, evidentemente consiste en la capacidad de pensar y expresarse lógicamente, y, puesto que ha insistido en que los objetos del pensamiento lógico — los universales, las Formas — existen, puede hablar de la dialéctica como descubrimiento de estas Formas. (…) cabe considerar la dialéctica fundamentalmente como la capacidad de captar las Ideas, de pensar lógicamente, de forma que el contenido de nuestro pensamiento corresponda a la Realidad. (GRUBE, 1987, P. 362).

A partir deste pensamento Platão funda sua escola, a Academia, onde ensinará seus jovens a buscar a verdade segundo os métodos socráticos e, pelo conhecimento do Bem e da Verdade, adquirir a virtde prática. Um de seus alunos fora Aristóteles, que, anos depois, formou sua própria escola chamada Liceu.

Todo este movimento, filosófico e sofístico, mudou o pêndulo da educação; se antes a areté era a virtude do corpo, agora passa a ser cada vez mais a da alma. Evidente que jamais o corpo foi totalmente desprezado nesta época.

O homem deveria ser educado para ser belo, virtuoso, excelente, em todos os sentidos: corporal, volitivo e racional. Este era o ideal de homem. Esta era a virtude. Esta era a Paidéia, a formação do homem grego.

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