Entre Voegelin e Bolsonaro: pneumopatologia totalitária.
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Voegelin ensina em “Hitler e os Alemães” (É Realizações, 2007, p. 119) que o problema central que caracterizava a “pneumopatologia” de Hitler é o “ da desdivinização e desumanização” do ser-humano. É isto que fundamentava, segundo ele, a segunda realidade na qual vivia Hitler.
Continua (p. 204).: “Esta humanidade elementar — o que diz respeito a meus vizinho diz respeito também a mim — estava faltando [em Hiter]”. A respeito do suicídio do Füher, diz o autor: “O que ele não podia dominar, ele destruía, e no final destruiu a si mesmo” (___, p. 207).
A concepção de uma segunda realidade onde se realizaria o desejo de dominar a tudo e a todos e o desprezo destrutivo por aquilo cujo domínio não fosse possível são os fundamentos, segundo Voegelin, da doença espiritual — humana, demasiadamente humana — que acometeu Hitler.
Voegelin insiste que essa não é uma pneumopatologia que acometeu apenas o Füher, mas seria algo como que metastático no zeitgeist moderno, cuja expressão mais grave, mas não a única, foi a ideologia nazista.
Sem dizer que o nosso presidente é nazista, é possível afirmar que ele parece sofrer da mesma pneumopatologia. Não é à toa que o @andreazzaeditor caracterizou no #3em1de hoje os arroubos retóricos do presidente como ditatoriais. Vejamos.
1. O presidente parece viver num mundo no qual ele e seus apoiadores são portadores do sumo bem e da verdade. Dai todos os ataques retóricos à imprensa profissional que divulga as suas falhas e as suas mentiras.
Está dada a “segunda realidade”, o mundo-como-ideia, no qual aquilo que está na subjetividade da mente presidencial é a verdade indiscutível.
2. O presidente despreza profundamente as pessoas se elas rejeitam a primeira premissa: teriam dignidade tão somente aqueles que com ele concordam e a ele obedecem. Por isso, não surpreende que trate a morte de alguém com tanto deboche como na live do barbeiro.
Aí está a desumanização, a concepção de que nem todos possuem a dignidade intrínseca à natureza humana. Dignidade teriam os pertencentes ao “povo”, e “povo” é o conjunto de pessoas que com ele compartilham sua cosmovisão e seus valores morais e que a ele se submetem.
3. O presidente deseja a tudo controlar. Um exemplo é o caso recente da Ancine e a sua surpresa quando soube que algo fora aprovado sem o seu conhecimento. Não passa pela cabeça do seu ser soberbo que algo lhe possa fugir do controle.
Nesse sentido, é ele absolutamente incapaz de perceber o por quê da imoralidade — e talvez da ilegalidade — da viagem de seus parentes com o helicóptero da FAB ou da nomeação do Eduardo como embaixador. Ele é o presidente, ele tem o controle, ele domina todo o Estado.
4. Aquilo que não pode ser dominado, é destruído, ao menos retoricamente. De Bebianno à Santos Cruz, da Ancine à OAB. Aquilo que não cabe na sua ideia de mundo não possui direito à existência, sequer à existência moral.
O espírito do Bolsonaro é um espírito de ditador. Enquanto sua excelência, porém, tenta a todo custo moldar o Brasil e o “povo” brasileiro à sua imagem e semelhança, 14 milhões estão desempregados, as reformas passam com dificuldade apesar da sua atuação…
…e a sua popularidade cai. Estaria ele também “destruindo a si mesmo”? Quanta destruição — a destruição política do presidente e a das estruturas democráticas e econômicas deste país — teremos que assistir até que Bolsonaro resolva, finalmente, governar? O fará?
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