O QUE FAZ UM FILÓSOFO?

E o que é, afinal, filosofia?

Rafael Bartoletti
Blog do Bart
6 min readFeb 1, 2017

--

Para ajudar o nosso trabalho:

Veja como contribuir diretamente clicando aqui (a partir de R$ 10,00)

Use o nosso link para comprar na Amazon: https://amzn.to/2N8CqSF

Siga no twitter: https://twitter.com/rafa_bartoletti

Siga no instagram: https://www.instagram.com/rafa_bartoletti/

Você está num blog de um estudante de filosofia. Mas… o que é filosofia, afinal?

a. O que a filosofia NÃO É?

Nas investigações teológicas diz-se que em certas ocasiões é apropriado falar sobre Deus a partir daquilo que Ele não é, levando em conta seu ser infinito e a capacidade finita de intelecção e de expressão do conhecimento do homem. A isto é dado o nome de Teologia Apofática. É evidente que não se pretende aqui afirmar que a filosofia é deus e, portanto, deva-se falar dela a partir da perspectiva negativa, mas talvez seja este um método interessante para afastar falsas suspeitas e conclusões a respeito do tema.

Antes de tudo é preciso dizer: filósofo não é aquele que cursa a faculdade de filosofia. Ficarão indignados aqueles que, como eu, estudam neste curso, mas a faculdade ensina primeiramente certa cultura filosófica. Pode ensinar a filosofar, mas não necessariamente. A filosofia é algo que transcende o ambiente acadêmico. Espero que isto fique mais claro alhures.

Quanto ao questionamento proposto, a primeira resposta que surge é no sentido de que a filosofia é uma disciplina que ensina o homem a pensar. Esta afirmação, contudo, poderia levar ao seguinte silogismo: A filosofia ensina os homens a pensar. Ora, alguns homens não são filósofos e, portanto, não pensam — ou não sabem pensar. Uma conclusão notoriamente equivocada, visto que é específico do homem a própria condição de ente racional.

Poder-se-ia argumentar que a filosofia ensina ao homem a maneira correta de pensar, ou certa maneira de fazê-lo. Agindo assim a filosofia é reduzida a um simples método investigativo e de exposição, o que é um absurdo. Primeiro, porquê a história da filosofia admite pensadores que usaram diversos métodos diferentes. Se a filosofia fosse determinado método de pensar, investigar e expressar, então Platão e Aristóteles estariam em balaios diferente, já que profundamente diversos foram seus métodos. Além disso constata-se empiricamente que os filósofos trataram dos métodos de investigação, mas também de outros temas.

Há quem diga que a filosofia é a atividade de crítica ao sistema, ou algo do gênero, o que também é desmentido pela própria história da filosofia: há filósofos que faziam parte de sistemas e o defendiam, como fizeram certos filósofos ligados ao regime nazista, e outros que não tocaram sequer neste problema.

Seria, então, a filosofia uma maneira de entender COMO o mundo funciona.?Poderíamos dizer que até certo momento histórico era também, já que a filosofia abrangia o que hoje são outras áreas do conhecimento como a física por exemplo. Isto revela duas coisas: (i) a pergunta essencial da filosofia não é como as coisas funcionam e (ii) acidentalmente esta pergunta é importante para o objeto próprio da filosofia.

A filosofia não é, portanto, o nome dado ao pensar humano, não é um método investigativo, uma técnica de desenvolvimento do intelecto nem uma forma de ver o mundo. Também não é o exercício da crítica ao sistema nem o simples resultado de um curso superior, mas tem alguma relação com a maneira de entender como o mundo funciona. Depois de tudo, não chegou-se a nenhuma conclusão sobre o tema: o que é filosofia e o que faz um filósofo? Qual a utilidade disto para a sociedade?

b. Filosofia… e Sabedoria!

O termo “filósofo”, do grego antigo φιλόσοφος, foi provavelmente cunhado por Pitágoras para expressar aquilo que ele e outros homens estavam fazendo naquele momento histórico e foi, depois, utilizada por homens como Sócrates, Platão e Aristóteles. O significado de φιλόσοφος é “amigo (ou amante) da sabedoria”. Isto diz muito a respeito do que é a filosofia.

Desta definição emerge dois entes: o filósofo, aquele que ama, e a sabedoria, objeto amado.

Sobre a sabedoria pode-se falar o seguinte:

  1. Ela é algo que existe, de outra forma não poderia ser amada. Não há espaço aqui para nenhum nihilismo ou relativismo, nem para uma ideia positivista ou evolucionista da sabedoria. A sabedoria, tal como ela é, é objeto do amor do filósofo;
  2. É um objeto que existe fora do filósofo e independe de sua vontade e, exatamente por isso, é passível de ser amada;
  3. Porque existe fora do filósofo e é amada a sabedoria tem de ser buscada por ele;
  4. Para ser amada a sabedoria é algo bom, cuja posse dignifica e melhora o sujeito.

Sobre o amante pode-se dizer:

  1. Não é uma sociedade ou grupo, senão que deva ser apenas uma pessoa, o filósofo, o amante da sabedoria. Há algo de pessoal nesta busca;
  2. O filósofo não é o sábio. O sábio é aquele que possui a sabedoria, quase como uma encarnação, e por isso não pode buscá-la. Ao contrário, o filósofo é aquele que ama e busca a sabedoria, tendo a certeza de que jamais a possuirá em toda a sua extensão e profundidade.

Qual o conteúdo desta sabedoria buscada e amada pelo filósofo? Há várias respostas para este problema de acordo com cada corrente ou escola filosófica. Desta indicação do que seja a sabedoria deriva o tipo de filósofo, etc. É per si um problema filosófico. Mas há algo nos primeiros filósofos que apontam para alguma solução mais geral.

Os chamados filósofos pré-socráticos buscavam entender o princípio de tudo aquilo que existe (arché — ἀρχή) e entender o cosmos tal como ele se apresenta. As perguntas giram em torno do que é o cosmos, se há ou não um princípio fundamental de tudo o que existe e, havendo, qual seria ele. Queriam eles investigar a ordem do real.

Sócrates, Platão e Aristóteles mudam a clave para questões a respeito do que são as coisas: a verdade, a justiça, a amizade, o amor, etc, e quais são as suas causas materiais, finais, formais e eficientes. Nota-se que a pergunta principal dos filósofos é “o que é?” (τι εστιν; — quid est?). São questões que afetam diretamente a vida humana prática. Vale dizer, na tensão existente naquela definição de filosofia entre a sabedoria e o filósofo, objeto e sujeito do amor, ficou dito que a posse da sabedoria aperfeiçoaria o sujeito. Um eminentíssimo professor, de quem tenho a honra de ser aluno, diz sempre que todo e qualquer conhecimento filosófico necessariamente tem implicações prática, caso contrário não é conhecimento verdadeiramente filosófico.

Daí deriva-se as três grandes áreas da filosofia, quais sejam:

  1. A Metafísica, que busca entender a o que são as coisas naquilo que há de mais íntimo, aquilo que constitui as coisas tal como são, e as estruturas mais gerais e profundas da realidade;
  2. A Ética, que busca entender qual é o melhor comportamento humano;
  3. A Epistemologia, que busca entender o próprio processo de conhecimento.

Em síntese, o filósofo gasta seu tempo tentando entender o que as coisas são e as suas causas, entender o cosmos (se ele existir alguma ordem) levando em conta as implicações éticas de tais conhecimentos. Isto para crescimento pessoal sobretudo, mas também indiretamente de todos aqueles que, acertadamente, dão ouvidos a esses egrégios amantes da sabedoria!

Para ajudar o nosso trabalho:

Veja como contribuir diretamente clicando aqui (a partir de R$ 10,00)

Use o nosso link para comprar na Amazon: https://amzn.to/2N8CqSF

Siga no twitter: https://twitter.com/rafa_bartoletti

Siga no instagram: https://www.instagram.com/rafa_bartoletti/

--

--