O SER E O NÃO-SER NOS FILÓSOFOS ATOMISTAS

Rafael Bartoletti
Blog do Bart
Published in
4 min readFeb 13, 2017
Leucipo ( Λεύκιππος) e Demócrito ( Δημόκριτος)

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Aporia eleática

A aporia do eleatismo, tratada aqui, é tida como ponto de partida para o pensamento atomista. Segundo Reale & Antiseri (1990, p. 65), Leucipo nasceu em Mileto mas foi para a Itálita e passou por Eléia, onde conheceu o pensamento de Parmenides, em meados do séc. V a. C. Partindo de Eléa, foi para Abdera onde fundou uma escola. Demócrito foi um dos discípulos de Leucipo e desenvolveu seu pensamento ontológico. Para a escola de Abdera o problema fundamental é conciliar a tese do ser imóvel, ingênito, imperecível e uno, condição fundamental para a epistemologia, e a percepção empírica da multiplicidade, mutabilidade e mobilidade das coisas realmente existentes apreendidas pelos sentidos. Neste sentido na doxografia recolhida da Physis de Aristóteles está escrito que “Leucipo pensou ter argumentos que defenderiam o que é compatível com a percepção sensorial e não aboliram o nascimento ou a morte ou o movimento ou a pluralidade dos seres existentes”. Neste sentido, afirma Reale & Antiseri (1990, p.67) que “está claro que os atomistas procuraram superar a grande aporia eleática, buscando salvar ao mesmo tempo a ‘verdade’ e a ‘opinião’, ou seja, os ‘fênomenos’.”.

O ser atomista: cheio e vazio

Para a ontologia da escola atomista existem dois princípios fundamentais: o átomo e o vazio. O átomo (ἄτομος), palavra grega que significa “o indivizivel”, é a partícula última de tudo o que há, são incriados, indivisíveis e indestrutíveis. O vazio, ou nada, não tem menos grau de ser do que o cheio, mas compõe com ele tudo o que existe. Em um fragmento doxográfico recolhido do texto de Simplício está dito:

Leucipo e seu companheiro Demócrito sustentam que os elementos são o cheio e o vazio, aos quais dão o nome de o que é e o que não é, respectivamente. O que é é cheio e sólido, o que não é é vazio e subtil. Visto o vazio não existir em menor grau que o corpo, segue-se que o que não é
não existe menos do que o que é. Os dois juntos constituem as causas materiais das coisas existentes. (DK67A14)

Os átomos constituem um “ser-pleno, do mesmo modo [do ser eleático], sendo diferentes entre si somente na forma ou figura geométrica — e, como tais, mantêm ainda a igualdade do ser eleático de si consigo mesmo”. (Reale & Antiseri, 1990, p. 65). É importante notar que para esses autores o átomo não é a mesma coisa que se entende contemporaneamente por átomo na física pós-Galileu, mas a última divisão do ser, interceptável pelos sentidos, ou seja, uma forma intelectual. Estabelecendo toda a carga de ser no átomo, os atomistas parecem conseguir assegurar nele a imutabilidade do ser de Parmênides e a possibilidade de conhecimento do real. Resta, agora, explicar como se dá a mutabilidade percebida pelos sentidos e que constituem a opinião dos mortais.

O movimento das coisas se dá, justamente, pela combinação do átomo, cheio, com sua contrapartida, o vazio. Nas palavras de Reale & Antiseri (1990, p. 67), “é claro que, para ser pensado como pleno (de ser), o átomo pressupõe necessariamento o vazio (de ser; portanto, o não-ser). Assim, o vazio é tão necessário como o pleno: sem vazio, os átomos-formas não poderiam se diferenciar nem se mover.”. É importante notar a grande diferença que há entre o que Parmênides chama de não-ser com o não-ser atomista. Para Parmênides, o não-ser é absoluto e, portanto, não tem há nele ser algum, é também, por isso, icognoscível. Já o não-ser atomista é uma substâcia sútil (DK67A14), poderíamos talvez dizer etérea, que é princípio ontológico do real e, portanto, pode ser conhecida.

A geração, mudança e perecimento das coisas são, então, um simpes rearanjo entre os átomos e os vazios segundo a forma, a ordem e a posição. “Afirmam, portanto, que os corpos crescem e se consomes e mudam e se formam e perecem por causa da combinação e da separação dos corpos primários” (DK68A58).

Este movimento ontológico nos permite afirmar que fundamentalmente tudo o que existe é uma coisa apenas, qual seja átomo e vazio, e a pluraidade se dá pela captação sensível dos diversos arranjos entre estes elementos principiais. Assim, Demócrito pode afirmar:

Por convenção existe o doce e por convenção o amargo, por convenção o quente, por convenção o frio, por convenção a cor; na realidade, porém,
átomos e vazio. Nós, porém, realmente nada de preciso apreendemos, mas em mudança, segundo a disposição do corpo das coisas que nele penetram e chocam. (DK68B9)

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