O protagonismo da Ciência no Brasil

Marcia Simões
Blog do Fator
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4 min readJul 5, 2020

Digam-me uma coisa… olhem com atenção para essa foto por alguns instantes e pensem: qual é a primeira coisa que vocês observam, além do All Stars vermelho do moço na primeira fileira?

Essa foto é um registro da última Conferência de Solvay, datada do ano passado. Se você nunca ouviu falar sobre a Conferência de Solvay e não reconhece estes rostos, eu te conto: é um Congresso Anual que reúne cientistas de vários países, no qual as grandes descobertas do ramo da química e da física são debatidas. Para você ter uma ideia, essa conferência já reuniu, ao mesmo tempo, personalidades como Marie Curie, Albert Einstein e Erwin Schrödinger.

Sempre que eu penso nessa conferência, eu normalmente imagino o quanto ainda somos bebês nessa jornada do conhecimento. Mas hoje, minha intenção não é derrotar a gente nesse sentido.

Se você observou bem essa imagem, pode ser que você tenha reparado o mesmo que eu: a maioria destes cientistas são homens, brancos e com uma aparência bem europeia. Eu me pergunto onde estão, por exemplo, os cientistas do Brasil e de tantos outros países que não parecem estar contemplados por esta imagem. Surge um questionamento: quem são as mulheres e homens que estão construindo a ciência no nosso país?

Os dados da UNESCO informam que, no Brasil, existem 700 pesquisadores a cada milhão de habitantes. Considerando a população do Brasil na casa de 200 milhões de pessoas, estamos falando que neste país enorme, existem cerca de 140 mil cientistas. Para você ter uma ideia, em São João de Meriti existem cerca de 598 mil habitantes. Você está tão chocado quanto eu agora?

Existem vários motivos que podem explicar este panorama, desde a falta de incentivo à pesquisa à falta de oportunidades de trabalho. Mas o ponto principal passa pelo distanciamento entre as pessoas e a ciência. Enquanto a gente cresce, nós pensamos em ser médicos, advogados, professores… mas cientista? É muito raro!

Parece que a ciência é aquele monstro indecifrável, cheia de cálculos, fórmulas e equações. Mas, ainda assim, há alguns brasileiros que se aventuram nesse universo e colaboram para que a ciência permaneça viva em nosso país.

No passado, tivemos César Lattes (1865 – 1950), físico paranaense que participou da descoberta do méson-pi, uma partícula 300 vezes mais pesada do que o elétron. Na Biologia, Graziela Maciel Barroso (1912 – 2003), ficou conhecida com a primeira dama da Botânica no Brasil. A carioca Suzana Herculano-Houzel é um exemplo vivo de cientista que revolucionou o estudo da neurociência, criando um método utilizado no mundo todo para contabilizar as células do cérebro.

Neste panorama de pandemia de CoViD-19, vemos, mais do que nunca, o quanto a ciência é importante para a sociedade. É fundamental saber que, apesar de não sermos o país com o maior número de cientistas em atividade, a ciência desenvolvida no Brasil é de extrema qualidade.

Temos exemplos como Celina Turchi, uma cientista brasileira eleita pela revista Nature como uma das dez cientistas mais importantes de 2016 por sua descoberta da zika congênita. Simone Maia Evaristo é a primeira mulher negra brasileira a ser doutora em física pela University of Manchester Insitute of Science and Technology (MIT) e há 24 anos é professora do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). O paulista Miguel Nicolelis é neurocirurgião e responsável por pesquisas de integração entre o corpo e a mente, com objetivo de recuperar movimentos de pessoas com restrições.

E estes são apenas três exemplos. Há uma lista de nomes que permanecem no anonimato, mas que nos colocam em conexão com a ciência desenvolvida ao redor do mundo e, muitas das vezes, em posição de prestígio e referência. São pessoas que dedicam suas vidas para que nós possamos construir o conhecimento, expandindo os limites do nosso saber.

Isso tudo só para te dizer que, quem sabe, daqui há alguns anos, essa foto não vai ser diferente? Em um futuro breve, pode ser que a gente viva a ciência de uma outra forma, entendendo que todos nós podemos ter um papel de protagonismo nessa história. Todas as áreas do conhecimento necessitam de cientistas, sejam elas humanas, exatas ou biológicas. Pode ser que uma próxima coluna no Blog do Fator fale sobre a sua trajetória e sobre o quanto você contribuiu para a ciência do Brasil. Já imaginou isso? Das salas do Fator para o mundo?!

Para a gente fechar, deixo vocês com uma frase de Marie Curie, física e química do séc. XIX, responsável pela descoberta da Radioatividade:

Nada na vida é para ser temido, apenas compreendido. Agora é o momento de entendermos mais para que, talvez, possamos temer menos.

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Marcia Simões
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Gosto tanto da escola que escolhi não sair mais dela. Professora de química que divide o tempo com o amor pela ciência,família, amigos, reality shows e dogs.