Recomendação de leitura: Poderia o capitalismo ser mais brutal? Por Outras Palavras
Poderia o capitalismo ser menos brutal? O capitalismo conseguiu ser menos brutal mediante o estabelecimento do Estado do Bem Estar Social. Este resultou do pacto político, efetivado no pós guerra, em que um dos grandes protagonistas foi a classe trabalhadora. Os partidos de esquerda que governaram vários países europeus e, mais recentemente, na América Latina, instituíram um conjunto de políticas públicas de inclusão e de redução das desigualdades sociais. No entanto, sob o argumento da crise fiscal do Estado, esse pacto começou a ser desmontado pelo neoliberalismo.
A lógica de “menos Estado” e “mais mercado” produziu a situação atual. Esta situação tende a se agravar pelo desenvolvimento do capitalismo 4.0 e pela ampliação do domínio do capital dinheiro na acumulação capitalista. Estima-se uma redução brutal dos empregos tradicionais, que não será compensada pelos novos empregos criados, gerando uma mudança quantitativa e qualitativa da classe trabalhadora. Além disso, não há nenhum sinal do que os rentistas, em seu conjunto, estejam dispostos a reduzir seus ganhos segundo a lógica do “dinheiro que gera mais dinheiro sem passar pelo processo de produção”.
Um desenho institucional possível para esse quadro é o seguinte: o grande capital financeiro globalizado mantém e amplia a sua autonomia diante do Estado, o Estado assume funções basicamente repressivas, implementando algumas ações sociais especialmente para atender as populações mais pobres. A arrecadação de impostos não vai diminuir, mantendo-se a transferência dos mesmos para os bancos e instituições financeiras privadas, através da dívida pública, e mesmo de novos mecanismos que podem ser inventados. Nesse sentido, fica a pergunta: quem vai fazer o capitalismo menos brutal?
