Registramos o Eclipse Solar de 2020!

Usando a técnica pinhole, o eclipse solar parcial não passou batido por nós

Julia Brazolim
Blog Exoplaneta
6 min readDec 19, 2020

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Sombra projetada no chão, pinhole — técnica de observação do eclipse solar parcial. Arte: Julia Brazolim

Enquanto no Chile e na Argentina foi possível observar o Eclipse Solar Total, em algumas regiões do Brasil (e em outras partes de alguns países da América Latina) foi possível acompanhar o eclipse solar de forma parcial. O fenômeno aconteceu no dia 14 de dezembro e a Missão Exoplaneta recorreu ao uso da antiga técnica conhecida como pinhole para observar e registrar o ocorrido. Levamos a atividade para o nosso Twitter para incentivar as pessoas em casa a fazerem o mesmo e o resultado foi bastante positivo!

O que é um Eclipse Solar?

Créditos: NASA Giphy

Um eclipse solar acontece quando a Lua acaba passando entre o Sol e a Terra. Quando a Lua bloqueia toda a luz do Sol chamamos de eclipse solar total e quando a Lua cobre apenas uma parte do Sol, chamamos de eclipse solar parcial. O Chile e a Argentina foram os países que estavam dentro da faixa de sombra e sendo assim, presenciaram o Eclipse Solar Total!

Já em determinadas regiões de países como Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil, o eclipse solar só pode ser observado parcialmente, visto que quanto mais ao norte a possibilidade de observação diminuía. Para efeito de comparação, o estado do Rio Grande do Sul pôde presenciar a Lua ocultando entre 50% a 60% do Sol! Já em São Paulo teve cerca de 31% do Sol eclipsado e em Recife apenas 0,5% eclipsado. A porcentagem do quão o Sol ficou eclipsado refere-se a sua aparência crescente, como vou explicar adiante.

O perigo de olhar diretamente para o Sol

Sempre quando ocorrem eclipses solares é certeza que algum ser humano desavisado com seu forte ímpeto curioso, acabe olhando diretamente para o Sol a olho nu — tem uns avisados que olham mesmo assim… e talvez se arrependam. Mas por que não podemos olhar diretamente para o Sol? A resposta curta: porque queima a retina dos olhos, podendo causar cegueira permanente. A resposta longa como bem explica o Instituto de Visão Assed Rayes:

“O tipo e a gravidade dos danos depende do tempo de exposição direta aos raios solares, dos quais o mais perigoso é o Ultra Violeta. Olhar diretamente para o Sol pode causar danos na córnea, parte mais superficial do olho, chamada de Fotoceratite. Exposições mais longas podem causar danos na retina, a parte do olho responsável pela formação da imagem, essa lesão é a Retinopatia Solar. Quando a retina é atingida os danos podem ser irreversíveis, como pontos cegos e perda parcial ou total da visão.”

Por isso que para observar um eclipse solar existem ferramentas e métodos para se proteger: óculos especiais voltados para esse tipo de observação ou um filtro de solda elétrica número 14. Até para observar usando um celular ou telescópio você precisa de um filtro de proteção. Mas se você não tiver a disposição nenhuma dessas coisas, a ciência não te deixa na mão.

O que é pinhole? Como funciona?

O nome vem de pin-hole (orifícios);

Existem diversas formas de você fazer um pinhole e a mais famosa e antiga delas é a Câmera Pinhole. Deixo aqui duas recomendações interessantes para você aprender, como funciona e sua história: How to Make a Pinhole Camera e Pinhole history (ambos em inglês).

“Podemos usar qualquer orifício que não tenha mais do que alguns mm de largura para formar uma imagem do Sol eclipsado em uma superfície a um metro ou mais de distância.”

Ou seja, a técnica de pinhole que eu usei foi a de tapar a luz do Sol com a peneira (mas de costas pra estrela), como definiu com bom humor uma internauta:

Sobre a minha observação

Acho que a forma mais legal, bonita e divertida é usar um escorredor de macarrão para visualizar o eclipse solar. Sim, foi isso mesmo o que você leu. A experiência fica mais interessante se for um eclipse solar parcial, pois a luz do Sol (que está sendo parcialmente eclipsado) irá passar pelos furinhos e reproduzir no chão o eclipse acontecendo de forma crescente. Você vai precisar só de:

  • um escorredor de macarrão, espumadeira ou similar
  • do chão ou alguma superfície sem muitas imperfeições
  • o horário do momento máximo do eclipse
  • celular para fotografar e registrar sua experiência
  • paciência

Com tudo pronto, me preparei uns 20 minutos antes do horário de máximo eclipse. Isso porque dá tempo de ir escolhendo um lugar legal para visualizar ou qual ferramenta perfuradinha fica mais bacana para observar.

Como moro no litoral sul do Estado de São Paulo e sabendo que por aqui seria cerca de 31% do Sol eclipsado em sua máxima às 14h05, subi as escadas às 13h45 para fazer o experimento na laje com a minha mãe. O Sol estava bem forte e testamos alguns utensílios de cozinha para ver qual ficava mais bonito e nítido no chão. A essa hora, o eclipse tava quase lá.

Créditos de imagem: Silvia Brazolim

Uns 15 minutos depois já deu para perceber que o eclipse solar parcial tava rolando e tiramos fotos do que foi projetado no chão. Eis o resultado:

Crédito de imagem: Julia Brazolim

Como o público observou o eclipse solar usando pinhole?

O pessoal de casa pegou a onda da dica e nos mandou imagens de suas observações usando o pinhole!

Conversei com o @dvdfrancoque que presenciou o eclipse solar parcial com o seu filho usando essa técnica e perguntei pra ele como foi fazer a experiência e se houve alguma dificuldade:

“Pra mim foi emocionante compartilhar uma experiência dessa juntos, senti uma certa ligação entre nós por estarmos curtindo um interesse em comum ❤ Observar, foi no improviso: pegamos um escorredor de macarrão e corremos lá pra fora. Zero dificuldades pra operar o equipamento.”

Fiquei feliz demais com os relatos do Franco e de outras pessoas, que por causa da postagem no Twitter, descobriram esse método de observação, testaram em suas casas e tiveram assim, a oportunidade de presenciar um fenômeno tão bonito. Confesso que é complicado lutar na internet contra informações falsas sobre ciência. Ainda mais quando perfis de grande alcance espalham a desinformação. Mas usando esse caso em particular, do eclipse solar, a desinformação pode ser prejudicial diretamente para aqueles que tomaram como correta essas postagens e olharam diretamente para o Sol a olho nu, usando um óculos de Sol comum ou até com binóculos… #sad

Parte da minha preocupação era diretamente com jovens que estavam animados em presenciar sem proteção o eclipse solar parcial. Por isso, resolvi resgatar um texto que havia escrito para enviar a um jornal local um tempo atrás (mas que acabei não enviando) e o adaptei para o fio no Twitter. A recepção dos seguidores e de diversos usuários foi super positiva e instantânea, levando a informação e espalhando a ideia do pinhole por aí. No fim, foi gratificante!

Recomendação de Leitura

Tive o prazer de conversar com o

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Julia Brazolim
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Designer que fala em podcasts, escreve códigos e resenhas por aí