Prototipação Projeto Experimentação

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7 min readSep 17, 2015

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Work Shop realizado na Faculdade Estácio de Sá — 10/09/2015

O espaço público de uma cidade é o lugar onde nos reunimos para bater um papo, fazer um pit stop pós almoço, nos distrair, realizar atividades ao ar livre, descansar e circular livremente.

Reconhecendo a relevância deste “lugar” e a sua contribuição para o contexto urbano, começamos a desenvolver o projeto Experimentação,
que tem como objetivo gerar reflexões e debates coletivos para pensar os espaços públicos do Rio de Janeiro.

A constante necessidade de requalificação e ressignificação destes espaços faz parte da dinâmica urbana, e o processo decisório está quase sempre centrado nas mãos do poder público, enquanto ocorrem também muitas interseções com a iniciativa privada, na forma das PPPs: parcerias público-privadas. O desafio, portanto, é tornar esse processo de tomada de decisão mais aberto, transparente e efetivo, garantindo o recebimento de inputs da população e a incorporação destes à tomada de decisão.

Assim, no espectro de subsídios que determinam a tomada de decisão, os setores técnicos devem avaliar com lupa quais são as reais necessidades das pessoas que exploram (ou deveriam explorar) estes espaços, e viabilizar a co-criação de novas formas de intervenção e ocupação no ambiente urbano. A intenção deve ser orientada pela contínua necessidade de tornar os espaços públicos mais atraentes e inclusivos para quem os vivencia diariamente, antes de realizar alterações permanentes.

Pois bem. Mas o que é o Experimentação e como o LAB.Rio pretende atuar neste sentido?

Bom, no dia 10/09/2015 o LAB.Rio foi convidado para realizar um workshop na Semana de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Estácio de Sá, Barra da Tijuca. A ideia era promover uma dinâmica de três horas para prototiparmos, junto com os alunos, o Experimentação. O espaço escolhido para a realização do exercício foi a Praça General Santander, localizada a 800m do campus da faculdade. Buscamos, através da metodologia aplicada, estimular um trabalho participativo e colaborativo, respeitando a diversidade das equipes.

Com base nos 12 critérios que determinam um bom espaço público criados pelos urbanistas Jan Gehl, Lars Gemzøe, Sia Karnaes e Britt Sternhagen Sóndergaard, as alunas e os alunos mapearam aspectos como acessibilidade, clima, projeção para escala humana, ruídos, entre outros.

Acreditamos que as soluções urbanas devem seguir uma abordagem de ‘baixo para cima’ (bottom up, aquela que favorece a visão de muitas pessoas envolvidas) em vez de uma abordagem ‘de cima para baixo’ (top down, aquela em que um executivo ou técnico responsável toma as decisões). Com os espaços comunitários não poderia ser diferente, por isso a participação da sociedade civil na idealização dessas soluções se torna muito importante.

A Prototipação

A metodologia ficou
dividida em 3 etapas:

ETAPA 1
Diagnóstico em campo

1 hora e 20 minutos

A etapa inicial do workshop envolveu uma saída a campo para identificação de possíveis “problemas” e necessidades da Praça General Santander, apresentados em post-its cor-de-rosa e um mapa A4 com a planta baixa do espaço. Esse exercício permitiu identificar problemas recorrentes entre os diferentes grupos e dar direcionamento para os investimentos públicos, gerando uma sensação de apropriação do espaço em análise por parte dos estudantes.

ALUNOS FAZENDO O DIAGNÓSTICO DA PRAÇA GENERAL SANTANDER — PARQUE DAS ROSAS / BARRA DA TIJUCA

Os alunos foram estimulados a ouvirem os frequentadores da praça e a mapearem não só problemas pontuais como buracos nas calçadas e lixo no chão, mas também questões relativas ao clima, à acessibilidade, aos ruídos, e à vegetação. Após o diagnóstico em campo voltamos para a sala de aula e os grupos realizaram discussões internas para interpretar os diagnósticos.

Os problemas mais levantados entre os grupos foram:

ETAPA 2
Avaliação individual

35 min

Na segunda etapa da dinâmica os 17 alunos fizeram uma avaliação individual dentro de sala seguindo a metodologia proposta. Foi pedido que cada participante avaliasse o lugar visitado de acordo com os 12 critérios para julgar a qualidade dos espaços públicos, preenchendo cada um dos critérios com o desenho de uma carinha (feliz, indiferente ou triste). Os critérios são agrupados em 3 macro categorias: proteção, conforto e prazer.

PROTEÇÃO:

1) Proteção contra o trânsito motorizado (acidente de trânsito, visibilidade, poluição, barulho)
2) Proteção contra crime e violência (bem iluminado, permite vigilância passiva)
3) Proteção contra experiências sensoriais negativas (vento, chuva, frio, poluição)

CONFORTO:

4) convidativo para caminhar (Espaço para caminhar, acessibilidade)
5) convidativo para ficar (Objetos para se apoiar, Espaços definidos para ficar)
6) convidativo para sentar (zonas definidas para sentar, vista agradável, oportunidade para descansar)
7) contato visual (paisagem interessante, iluminação, bom para conversar)
8) atividades diurnas/noturnas (Atrações, realização de eventos)
9) atividades lúdicas, recreativas (Permite atividades recreativas, diversão, reuniões informais)

LAZER:

10) Construído na escala humana (respeita a importância das dimensões humanas)
11) Aspectos Positivos do Clima (Sol, sombra, vento)
12) Estético Sensorial (Design agradável, bem cuidado)

Após a avaliação, os grupos sintetizaram suas respostas em uma ficha técnica, compararam os resultados para entender quais pontos da matriz precisavam de mais atenção e onde deveriam atuar criando soluções.

O quadro a baixo resume os resultados compilados pelos alunos.

No resultado, os principais pontos avaliados como negativos quanto à proteção se referem à falta de segurança contra crime e violência e outras experiências sensoriais negativas; quanto ao conforto, o local é pouco convidativo para caminhar, sentar e permanecer, para a realização de atividades diurnas e noturnas e não favorece o contato visual. Quanto ao lazer, foram identificados aspectos pouco favoráveis no que se refere ao equilíbrio estético sensorial.

A proteção contra o trânsito motorizado recebeu avaliação positiva, pelo fato de ser um ambiente fechado onde não circulam carros. Os alunos identificaram uma potencialidade no local para a prática de atividades lúdicas e recreativas quando 10 dos 17 participantes avaliaram com carinhas felizes esse ponto da matriz.

Na categoria prazer ficou evidente que as edificações respeitam as dimensões humanas — o que não quer dizer que seja um local que ofereça proteção contra sol, chuva e vento e que seja agradável visualmente. Em suma, a análise dos resultados indica que a categoria Conforto necessita de mais atenção, assim como a categoria Proteção, onde o ponto proteção contra crime e violência foi avaliado negativamente por todos os 17 alunos.

ETAPA 3
Soluções / Mão na Massa

1 hora e 10 minutos

Finalmente a etapa propositiva, a hora da mão na massa. Os grupos receberam uma planta baixa em formato A0 e post-its de cores verde e laranja. Essa etapa foi dedicada à proposição de intervenções no mapa, feitas por meio de desenhos, croquis, fotos, frases e post-its.

Os post-its verdes estavam ligados a propostas para alterações físicas e os post-its laranjas a intervenções de uso e gestão do espaço. Após o término do tempo estimado, cada grupo apresentou as soluções criadas em conjunto e debateram entre si.

As sugestões ligadas a alterações físicas foram chafarizes, área reservada para cachorros, investimento em manutenção dos jardins e melhoria da iluminação, ciclovia para estimular atividades físicas no local, área reservada para convivência, espaços cobertos protegidos do sol e da chuva, bancos confortáveis e pufs, bicicletário, pintura nos bancos, retirar a grade ao redor de toda a praça, novo projeto paisagístico, fazer um laguinho, abertura de novos acessos, reformulação do parquinho infantil, banheiros nas extremidades da praça.

Sugestões ligadas a intervenções de uso e gestão: feiras culturais, eventos infantis, feira de alimentos orgânicos, ampliar atividades comerciais, cinema ao ar livre.

Conclusão

A partir da experiência realizada, os alunos que participaram do projeto Experimentação refletiram sobre a necessidade de inserção da sociedade civil na idealização dos espaços públicos, assim como novos canais de interação e diálogo dos mesmos com os técnicos, técnicas, gestores e gestoras urbanos.

Agora, a proposta é dar continuidade ao Experimentação, estudar e aprimorar a metodologia aplicada, envolver ainda mais a participação do comércio ao redor dos espaços públicos e as pessoas que os vivenciam, além de trazer as técnicas e técnicos da prefeitura para participar da metodologia e avaliar tecnicamente as próximas soluções desenvolvidas.

Escolheremos espaços para intervir de maneira temporária, interpretando a análise dos participantes e as soluções co criadas para de fato poder experimentar e prototipar em cima da real necessidade dos usuários.

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Laboratório de participação da Prefeitura do Rio, para aproximar o poder público dos cidadãos e cidadãs cariocas. Mais em: lab.rio.gov.br