Everesting na Pedra Selada

Leo Cavallini
Blog Leo Cavallini -  Portugues
19 min readJun 6, 2016

Pedalando em uma serra até alcançar 8,848m de altitude acumulada e o testemunho de um fotógrafo ciclista

(Read in english here)

Fred é professor universitário. Um cara em forma e com seus 40 anos que encara o ciclismo como hobby.
Se você o ver em alguma rua de São Paulo, o chamaria de mediano. Nada especial.
Mas o bastardo é duro na queda.

No meio de maio, ele pegaria sua bicicleta de estrada Merida e faria o desafio Everesting, criado pelo Hells 500, pela segunda vez.
O local escolhido foi a RJ-163, uma estrada que serpenteia através da Serra da Mantiqueira, na área protegida do Parque Estadual da Pedra Selada.

Eu fotografei o desafio rolando, acompanhe essa história abaixo.

Esse tal de Everesting

O desafio Everesting não é para pessoas fracas.

Foi criado pelo Hells 500, uma porção de caras australianos que gostam de pedalar morros e o rolê precisa ser difícil para ser memorável. O Everesting é um de seus desafios, que consiste em pedalar qualquer subida no mundo e repeti-la até acumular o ganho altimétrico de 8,848m. Essa é a altura do Monte Everest como você deve ter notado.

8,848 metros de suor-sangue-e-lágrimas. Em um rolê só. Sem dormir.

O Hells 500 tem uniformes exclusivos para os que completam o Everesting. Apenas estes caras podem vestir a listra-cinza ou o logo do suor-sangue-e-lágrimas.

“Quando você vê a listra-cinza na estrada, você sabe que está olhando para um bastardo durão.”

Segunda tentativa de Everesting

Fred traria sua jersey com a listra-cinza para uma segunda tentativa. Seu primeiro Everesting foi completado dentro do campus da universidade onde ele dá aula. Um pequeno segmento, centenas de repetições, trânsito (quando existente) controlado.

Para sua segunda tentativa, no final de abril, Fred fez uma chamada pública em seu perfil no Facebook. Convidava amigos para pedalar junto ou apenas encontrá-lo para fazer alguma companhia enquanto ele estivesse encarando a porra toda.

Um amigo dele topou a ideia. Bruno Rosa. Mais tarde ele viria a ser uma parte vital na tentativa de mais um Everesting. Bruno dirigiu de São Paulo a Visconde de Mauá e vice-versa, dirigiu o carro serra acima algumas vezes e ajudou em diversas tarefas durante aquele fim de seamana.

Como eu já sabia do sucesso do primeiro Everesting de Fred, pensei que seria uma chance bacana para fazer algumas fotos e engordar meu portifa fotográfico. Então também topei o convite.

Mas dessa vez ia ser mais foda. Fred escolheu uma serra.

Serra da Pedra Selada. Uma *$%@#& duma serra.

Foto: Robson Souza / Wikipedia via Creative Commons.

A Pedra Selada é uma cadeia de montanhas na porção oeste do estado do Rio de Janeiro, fazendo divisa com os estados de São Paulo e Minas Gerais. O ponto culminante é o Pico da Pedra Selada, à direita na foto acima, alcançando 1,755m de altitude. A região é parte da Serra da Mantiqueira.

Fred escolheu a RJ-163, uma estrada de 24 km que conecta as cidades de Resende e Visconde de Mauá. Ele pegou um segmento de 12 km no Strava como mostra o mapa abaixo, que vai dos 525m aos 1,288m de altitude. Soma 763m de ganho vertical.

Nota: O Pico da Pedra Selada, da foto abaixo, está a nordeste da nossa estrada, próximo da porção mais verde-escuro à direita no mapa.

O segmento cruza a faixa verde de sudeste a noroeste e alcança a crista da cadeia montanhosa.

Então, para completar o desafio do Everesting, ele precisaria repetir esse segmento por doze vezes.

É uma repetição de doze vezes em um segmento de 12 km que sobe 763m em cada perna. A inclinação média é de 6% com algumas partes passando dos 12%.

E de acordo com nossas contas, ele alcançaria os 8,848m escalados na metade da 12ª subida. Mas nas regras do Everesting ele precisa terminar a última subida do segmento e parar o contador onde ele começou, na base da montanha. Ou o ponto verde no mapa acima, onde fica a Estação Capelinha, um restaurante/lanchonete que falaremos adiante.

Tudo empacotado. Bora!

Fred decansando enquanto Bruno dirige / Minha Scott e a Merida de Fred projetadas na estrada
Montanhas começando a dar as caras / Paradinha para um lanche. Essas caixas de plástico no chão contém ovos cozidos e batatas

Estudei a serra no Google Streetview. É uma via de mão dupla com pista simples sem acostamento. O segmento de 12 km onde iríamos trabalhar tem meia dúzia de bolsões onde podíamos parar o carro. Então planejei levar minha bicicleta junto para fazer algumas subidas com ele.

Partimos no sábado logo após o almoço. A viagem de 280 km levou 4h com uma parada para comer, chegando ao fim da tarde.

Nossas bases

Alugamos um chalé confortável com duas suítes a 1,6 km do começo do segmento, que coincidente e estrategicamente era um restaurante/lanchonete, a Estação Capelinha. Não havia lugar melhor para ter nossas coisas por perto. Era na base da subida, próximo a um lugar para comer e tomar uma cerveja e Fred poderia usar a estrutura do chalé entre as voltas.

Estação Capelinha, começo do segmento de 12 km
Nosso chalé, 1,6 km depois do começo do segmento. Aqui eu estava armando a luz para um retrato antes que ele começasse.

A máquina e o ciclista

A boa e velha fita isolante / Uma super Merida Race Lite / Um cockpit de dar inveja
Lá vem ele de novo com ovos e batatas cozidos / Aquecendo os Garmins / Monitor cardíaco ok, fechar zíper

Em seu primeiro Everesting, Fred teve um problema com seu Garmin 800 e quase perdeu a atividade no GPS. Como diz o ditado “Se não está no Garmin, não aconteceu”, dessa vez ele trouxe um Garmin 500 como backup.

Meu equipamento e fluxo de trabalho

Essa cadela nos perseguiu durante todo o fim de semana atrás de um teco de comida. Nenhum restaurante no interior do Brasil é completo sem um cão suplicando por sua comida.

Fotografando e publicando

Eu assumi o Instagram do Fred (@fredcostapinto), assim poderia manter seus seguidores (e esposa) a par do que estava rolando.

A maioria das fotos foram tiradas com uma Canon 5D Mark II, retocadas em um Macbook Pro e enviadas para o celular para subir no Instagram via 4G. Então, repostava cada foto para minha conta (@leocavallini), que automaticamente era replicado para minha fanpage e perfil pessoal no Facebook, já que temos uma porrada de amigos ciclistas em comum que curtiriam acompanhar a história.

Algumas das fotos foram tiradas com o LG G4 e retocadas no Snapseed.

Usei um cartão CompactFlash Sandisk de 16 gb que foi praticamente suficiente para todo o fim de semana, apesar de eu ter precisado deletar algumas fotos-lixo no domingo à tarde. Não formatei o cartão em nenhuma ocasião, então eu acabaria tendo duas cópias. Depois pensei que poderia ter levado um disco rígido externo ou copiar tudo para um outro cartão CF, tendo assim uma terceira cópia.

Iluminando

Iluminei a maioria das fotos noturnas, quando não havia luz artificial disponível, usando um flash compacto Canon Speedlite 600 EX e um rebatedor portátil próprio. Também levei uma tocha de estúdio Digiflash 400w (a melhor marca nacional na minha opinião) e um refletor parabólico, alimentado por um gerador à bateria de íon de lítio Paul C. Buff Vagabond Mini, mas tudo isso era meio trambolhão e acabei usando somente uma vez, para o retrato de Fred antes de começar.

A conversa câmera-flash foi feita com o bom e velho kit radioflash Cactus V4.

Bicicleta

Levei uma Scott Speedster S40 com uma bolsa de câmera de ombro adaptada para o guidão, assim eu poderia carregar minha câmera com o Speedlite e os radioflashes por aí. Tinha uma capa de chuva pra proteger a bolsa da umidade da floresta e possivelmente chuva.

Havia também um bagageiro traseiro onde eu amarrei um tripé. Não fotografei a bike equipada desta forma, infelizmente.

Sábado, 14 de maio, 17:45. Valendo!

Reinando em seu trono / Não pude evitar associar com Hells 500 quando ele ligou a luz traseira

Que o jogo comece.

Pulamos no carro e Fred pedalou do chalé até a Estação Capelinha, a largada per se.

Ele já havia escalado esta serra há alguns meses antes, mas somente uma vez. Então ele conhecia o caminho morro acima, que tinha pouca ou quase nenhuma descida durante a escalada. Ou seja… era subida direta, sem choro nem vela.

Nós o seguimos durante a primeira escalada, indo à frente dele em alguns trechos para parar nos bolsões, assim eu poderia conhecer cada ponto e tentar fazer algumas fotos acontecerem. Já estava escuro, então eu tinha que usar luz disponível de postes ou tentar iluminá-lo com o flash portátil.

Uma porrada de Freds fazendo uma porrada de curvas fechadas

Fred subiu os 12 km em 0:59 minutos conforme esperava. A primeira de doze subidas. Girando e tentando manter o ritmo cardíaco (ele descobriu mais tarde que seu sensor de batimento não estava funcionando por falta de bateria).

E a glória da subida era descer tudo aquilo de volta, que ele fez muito mais rápido que nós de carro, alcançando a Estação Capelinha em 20 minutos.

O topo, finalmente
Uma jaqueta seria confortável / Mais larica caseira
E mais larica da lanchonete / Bora escalar tudo outra vez

Nós encontramos Fred na Estação Capelinha, onde ele parou para comer algumas laricas do carro, pegar um pão com queijo minas na lanchonete e partir.

Bruno e eu sentamos em uma mesa acompanhados de uma garrafa de cerveja para subir a primeira leva de fotos e espalhar a notícia da sua primeira volta. Em seguida, pegamos algumas latinhas extras e fomos para o chalet. Subi mais algumas fotos e iria preparar minha bicicleta para caçar Fred na estrada.

Agraciado com sopa e café

Sopa quente / café quente

A dona do chalé, hospedada ao lado, foi gentil o bastante para bater em nossa porta e nos presentear com uma panela de sopa de abóbora com queijo gorgonzola e café em pó.

Fred chegou da sua segunda volta e se sentiu agraciado naquela noite gelada. A floresta acompanha a estrada por quase sua extensão, então umidade e neblina já eram presentes com temperaturas chegando aos 11°C. O curioso é que a base da montanha estava a 20°C.

Então ele partiu para sua terceira subida e preparei minha bicicleta para encontrá-lo em algum ponto da estrada. Foi quando demos início às

Fotos noturnas

Fizemos essa foto imediatamente antes de um carro fazer a curva na pista contrária

Ajeitei minha bike com a bolsa de câmera no guidão e tripé preso no bagageiro traseiro. O frio aumentava conforme eu pedalava morro acima, a neblina ficava cada vez mais densa a cada quilômetro até o ponto que eu não conseguia enxergar nada um metro à frente.

Nenhuma outra luz que não fosse a da minha bike, apenas completa escuridão, a neblina me encharcando e o som de animais na floresta densa.

Com minha bike bem mais pesada e uma droga de um resfriado fazendo companhia, não alcançaria Fred no topo da montanha por nada nesse mundo. Para ser honesto, arrumei minhas coisas esperando subir o segmento por completo para senti-lo, ver o que eu conseguiria fotograficamente e pelo prazer da pedalada em si, claro. Talvez colocar o flash portátil em algum canto bacanudo da estrada e esperar por ele.

Já tinha completado metade da subida, o trânsito de carros era praticamente inexistente àquela hora e vi o farol branco de Fred através da neblina.

Ele já pedalara 03:54 horas em 61 km com 2,284m escalados.

Fiz a volta e comecei a descer com ele, conversando sobre o clima, as subidas e como deveria ser bacana pra ele, de certa forma, ter alguém com quem conversar.

Foi quando fiz a foto acima em uma curva. Tentei fotografar com meu LG G4 mas o ISO não era suficiente para capturar as luzes das bikes, mesmo considerando que a câmera deste celular é sensacional em termos de captura e controle de luz. Nenhum milagre poderia ser feito com ISO 2700 naquele momento. Então pedi pra parar e peguei a Mark II. A luz da bike dele iluminando a estrada e a minha luz iluminando-o, sem flash.

Terminamos a volta fazendo o retorno na Estação Capelinha, que já estava fechado. Paramos no chalé. Tomamos um café, conversamos um pouco com Bruno e partimos pra quarta subida juntos. E em certo ponto senti que minha biclcieta estava pesada demais, eu estava doente demais e sem treino e senti que eu não conseguiria manter o ritmo de Fred. Então eu disse que ele seguisse ou iria causar atrasos. E mantive meu plano de achar algum ponto estratégico para parar e armar alguma luz.

A estrutura do “passa-macaco” com três Y de cada lado / Eu disparando o Speedlite / Luz natural escassa

A estrada tem três destas pontes para animais cruzarem evitando a estrada. A maioria macacos. Entre as subidas, chamamos a ponte de passa-macaco.

Então dispensei Fred entre o primeiro e o segundo passa-macaco e mandei um Whatsapp avisando que eu estaria esperando por ele no segundo, este nas fotos acima. Ele receberia a mensagem em agum ponto a caminho do topo.

Comecei a estudar a estrutura e iluminá-la, mas a neblina estava densa demais. As fotos acima foram feitas com o ISO máximo e melhoradas digitalmente no Lightroom. Não estava contente, então coloquei um flash num ponto da estrada onde eu poderia iluminá-lo por trás e ter o chão da estrada iluminado pela luz de sua bicicleta. Um backlight que me traria uma silhueta bacana.

De acordo com o Hells 500 no Instagram, “isto é mais uma missão para o Everesting Man”

Então ele veio e fizemos algumas fotos. A luz ficou do jeito que eu esperava. Gostaria de ter o passa-macaco no quadro mas estava extremamente contente com essa luz cinemática, a neblina densa o suficiente para desenhar algumas linhas. Dez minutos de fotos e terminamos de descer a montanha até o chalé.

Já era 1:30 da manhã e Fred partiu para sua quinta volta.

Tomei um puta banho demorado e bem quente. Fiquei até as 3h da manhã fazendo posts e organizando as fotos no notebook. Os amigos de Fred, sua esposa e os caras do Hells 500 estavam curtindo e comentando, dando a ele um apoio moral. Postei uma foto no Instagram dizendo que não conseguia manter o ritmo de Fred e iria tirar um cochilo até o sol nascer, para o desespero da esposa dele.

“Como você vai dormir? Você que tem evitado que eu tivesse uma úlcera gástrica. Belas fotos, parabéns!”

Luz do dia, enfim

A mesma curva da noite com uma visão um pouquinho mais clara

ou eu deveria nomear essa parte da história de

Fred e a sessão de análise

Fred em busca da felicidade em um cobertor e uma xícara de café

O relógio mal contava 6 da manhã. Meu despertador tocou e acordei com uma conversa na sala. Encontrei Fred assim.

Ele estava bastante cansado e um pouco desanimado, pensando em desistir do desafio. Noite longa e gelada, a neblina impedindo-o de descer rapidamente a montanha, curvas fechadas, chão molhado, atmosfera super úmida e me deixe falar do puta frio mais uma vez, que chegou a 9°C durante a madrugada.

Continuamos conversando, fiz uma propaganda do delicioso chuveiro quente do chalé.

Eu e Bruno o convencemos de tomar um banho quente e iríamos todos tomar um café da manhã na Estação Capelinha. Com as primeiras mordidas de outro pão com queijo minas, ele escreveu em seu Facebook:

“O que eu achei estar sentindo (cansado e desanimado) era na verdade hipotermia”

Posso anotar (e comer) seus pedidos, senhores? / Uma sincera e profunda olhada nos olhos de um humano não pode dar errado / Vai comer esse pedaço, senhor?

Problema resolvido. Banho tomado, uniforme molhado trocado por um seco, pança cheia e feliz. Até sua bike foi presenteada com um shot de lubrificante. Partiram para um recomeço.

Um recomeço para mim também. Minha gripe estava de bem comigo, descansei um pouco e havia luz natural disponível, as coisas agora podiam ser vistas. Curvas, florestas, cenários.

Luz do dia, enfim.

Um shot de lubrificante / A jersey sangue-suor-e-lágrimas com listra-cinza, exclusiva para quem conclui o desafio
Bruno, meu tripé e a concentração sobre rodas / Uma checadinha nos Garmins

8 da manhã. 5,000m escalados. Fred partiu pra sua sétima subida e o seguimos de carro. Mesmo esquema da noite anterior, parando o carro nos bolsões para esperá-lo.

Domingo, 15 de maio, 8 da manhã. Recomeçando…

Esses cachorros cumprimentaram Fred em todas as voltas / “Vai Fred, mais doze subidas e você termina” “O que?”
O verde em toda sua glória
Neblina ainda presente / Bebê jurássico

9 da manhã.
7 de 12 subidas completas.
10h de bunda quadrada.
15h passadas.
156 km pedalados.
5341m escalados.

Era hora da sua sétima descida. Eu e Bruno pegamos o carro e descemos a montanha antes dele. Bruno me deixou no primeiro passa-macaco e partiu. Deixei Fred avisado de que eu iria fotografá-lo descendo naquele ponto.

Pendurei a câmera cruzada no meu peito e coloquei-a repousada nas minhas costas. Comecei a escalar a estrutura de metal do passa-macaco. Era um Y gigante sustetando a ponte, três de cada lado da estrada. A intersecção dos três segmentos desse Y era alto o bastante. O que, uns 5m talvez? Alto o bastante. Joguei meu corpo pra frente e abracei um dos braços do Y, câmera na mão, aguardando por Fred.

Logo, ele fez uma rápida e bonita curva e fotografei a cena como esperava.

Ele freiou no fim da curva e fez a volta, rindo da situação. Se aproximou da estrutura, pegou minha câmera e fez algumas fotos minhas.

História engraçada, tudo para conseguir uma boa foto.

A curva perfeita
O retorno e a risada
O macaco albino fotógrafo que vos fala

Flora e paisagens

Fiz o caminho do passa-macaco até o chalé a pé para fazer algumas fotos de paisagem e flora. Aquela parte da estrada cruza a Mata Atlântica, rica em biodiversidade em forma de plantas, flores, insetos e animais.

Algumas espécies de plantas ali existem desde quando os dinossauros dominavam nosso planeta.

Domingo, almoço e tarde

Fred negou um gole na cerveja ou ele a culparia em caso de falha / Bora fazer tudo isso de novo
Um dos inúmeros pães com queijo consumidos naquele fim de semana

Àss 11 e pouco da manhã, Bruno e eu fomos à Estação Capelinha almoçar. Fred chegou de sua oitava volta próximo dos 200 km pedalados com 6,000m escalados. Suas próprias palavras no Instagram:

“Six fucking thousand #verhurtical meters”

Seis mil malditos e doloridos metros verticais.

No restaurante, ele pediu o mesmo de sempre.

Fred é certamente o recordista de pão com queijo minas e café com leite consumidos em um fim de semana no local.

E é claro que tinha cachorro flertando com nossa comida.

Eu e Bruno ficamos por lá durante a nona volta de Fred e às 2 da tarde seguimos com ele de carro para dar um suporte em sua décima volta.

No topo, Fred deitou em um colchonetezinho de ioga. Não podia dormir. Não podia cochilar. Não podia nem dar uma pescadinha. No máximo uma esticada para descansar.

“Força Fred, mais doze subidas” “O que?!”
Luz do sol rasgando a floresta
Um pouco de clareira / Chegada ao topo / Visão do alto
Descansando um pouco / Alongamento / Descer novamente

Domingo, noite, última volta

O céu limpo de presente em uma noite um pouco mais generosa

Fred descansou um pouco e partiu para sua décima descida às 15:40. Fez sua 11a volta sem nosso apoio, já que fomos pro chalé fazer as malas para partir, tomar um banho e estarmos disponíveis para sua 12ª e última volta.

Agora o céu estava mais claro e eu podia brincar um pouco com as estrelas.

A floresta e a vastidão do céu
Fred na velocidade da luz / O carro com minha bike já guardada

Quase 20h. Em certo ponto da 12ª subida, Fred alcançou os 8,848m escalados e parou para fazer uma foto do Garmin com seu celular. Alguns quilômetros adiante, paramos o carro para comemorar.

Veja só você, 8,851m. Deu certo.

Alcançamos o cume 25 minutos depois.

Ele conseguiu.

Três latas de cerveja para fazer a foto oficial. E claro, Bruno só segurou a latinha para ficar bonito na foto mas não poderia beber, já que ia dirigir pelas próximas quatro horas.

A parte final era descer a montanha, encerrar os dois Garmins, botar a bike no suporte do carro e voltar pra casa.

A glória da subida é a visão lá de cima / Uma antena de comunicação no alto da serra
Saúde, Fred!

Epílogo

Reprodução do Strava e do Veloviewer

16:43 horas pedaladas em 27:20 horas passadas.
286 km de bunda quadrada.
9,109m escalados da meta de 8,848m.
Temperaturas de 9ºC a 24ºC com diferenças de 11ºC a 20ºC numa mesma descida de 20 minutos. Ótima receita para uma gripe, que nosso amigo duro na queda não pegou (e a minha não evoluiu muito, recuperei nos dias seguintes).

O lugar é mágico, como ele descreveu num texto em seu Facebook. Você pode também dar uma olhada no Veloviewer e no Strava para mais dados e estatísticas.

Bruno foi super colaborativo e Fred é um cara admirável. Como ele disse a mim em uma das subidas:

“Eu adoraria desistir agora mesmo, voltar pra minha família e sentar no sofá com uma cerveja na mão. Mas posso fazer isso amanhã. E farei.”

Como fotógrafo, foi de fato uma puta oportunidade para capturar imagens fantásticas. Tive neblina, toda a gama de luz do dia e um céu estrelado. Quisera eu não estar gripado e adequadamente treinado para escalar a serra pelo menos uma vez. Quisera eu ter uma moto e um piloto especializado como tive em dois outros trabalhos de ciclismo. Mas encerrei o fim de semana muito feliz com as imagens finais.

Como ciclista, Fred me convenceu a treinar e ir em busca de subidas, ou in search of up, como diz um dos motes do Hells 500.

Leo Cavallini é fotógrafo e ciclista.
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Yep, that's Don Corleone with a cycling helmet! Professional photographer, amateur cyclist, used Medium as my former studio blog. Based in London, Canada.