My Country — The New Age: qual é o seu país?

Resenha do k-drama My Country (Meu País: A Nova Era)

Samantha Sant Ana
blogADQSV
7 min readOct 19, 2020

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A verdade é que quase dropei My Country: The New Age (Meu País: A Nova Era). Eu não queria ver mais uma história à la Conde de Monte Cristo (alô, Flor do Caribe! — novela da Globo). Embora eu até goste do plot do cara traído pelo melhor amigo e que volta anos depois em busca de vingança, eu esperava algo diferente disso.

Em maio deste ano, a estreia de The King Eternal Monarch (O Rei Eterno) fez com que minha atenção fosse cravada no talento do ator Woo Do Hwan (quem não ficou admirado com a construção dos personagens de Eun Seob e Yeong que atire a primeira pedra!). Confesso que foi por causa dele que dei uma nova chance a esse drama histórico. Dois episódios depois, fui golpeada por uma espada que rasgou meus pré-conceitos e por perguntas que só seriam respondidas se eu continuasse a ver. A história me surpreendeu e me entregou a mesma questão que rodeia os personagens principais: qual é o seu propósito e até onde você iria para alcançá-lo?

“É apenas um pedaço de terra se você permanecer parado, mas se torna um caminho quando você anda” — Yi Seong Gye

SINOPSE: Dois amigos sonham em conquistar seus objetivos de vida em meio a um período delicado do país — final da era Goryeo e início da Joseon. Seo Hwi é um jovem pobre, capaz de manter a esperança mesmo quando sua vida desmorona. Nam Sun Ho é um rapaz com uma posição social mais privilegiada. Ao contrário do amigo, ele mantém uma tristeza profunda no olhar. Os dois apontam suas espadas um contra o outro devido às diferenças de opinião sobre o destino da nação.

My Country: The New Age (2019)
Emissora: JTBC e Netflix
Transmissão: 4 de outubro a 23 de novembro (16 episódios)
Gênero: épico, melodrama, trágico.
Elenco principal: Yang Se jong (Seo Hwi), Woo Do Hwan (Nam Sun Ho), Kim Seol Hyun (Han Hee Jae) e Jang Hyuk (Yi Bang Won).

O propósito de Nam Sun Ho é mudar o rumo que seu destino aparenta ter e se libertar da opressão do pai. Seo Hwi é um órfão que aceita as limitações que a vida impôs e vive um dia de cada vez, sem nunca abrir mão dos valores que possui e das pessoas que importam para ele, como a irmã mais nova que ele faz de tudo para proteger. Ambos carregam feridas desde crianças e encontraram um no outro o apoio necessário para prosseguir. Pelo menos até a fatídica prova do exame militar, que é o estopim para o embate.

“O nascimento define metade do seu destino […]” — Seo Hwi

“Significa que podemos mudar a outra metade.” — Nam Sun Ho

Nem mesmo o triângulo amoroso (que, pessoalmente, costumo odiar nos doramas) é um motivo tão forte de desavença entre os dois amigos quanto suas diferentes percepções sobre o mundo que desejam para si. Aliás, se eu fosse apontar uma fraqueza de My Country é não explorar a força das personagens femininas, que apesar da importância, não ganham muito destaque. (Ai, ai… não se pode ter tudo).

Seol Hyun, do grupo AOA, interpreta Han Hee Jae, uma jovem obstinada que vive em uma casa de kisaeng. Foto: JTBC.

O confronto de crenças entre eles e os outros personagens é o combustível da trama que faz você refletir sobre as diferentes ideias de país que são mencionadas. No entanto, o que sustenta o desenvolvimento de My Country são as escolhas e ações de cada um em momentos de conflito. Em relação a Nam Sun Ho e Seo Hwi, a todo momento, o que eu pensava era: Os dois vão sacrificar tudo que sentem um pelo outro para ter o que querem?

Foto: JTBC.

Aliás, a atuação de Yang Se Jong e Woo Do Hwan são críveis e emocionantes do início ao fim. Na verdade, o elenco todo é sensacional nesse drama, e as cenas de lutas de espadas são outro efeito à parte. É fácil deduzir que esse tipo de produção histórica exige um esforço maior por parte de toda a equipe em termos de caracterização, locais de gravação, construção de personagens etc. As filmagens dos 16 episódios com cerca de 70 minutos cada custaram 20 bilhões de wons aproximadamente 16,5 milhões de dólares.

Contexto histórico

Embora a maior parte da trama seja focada em personagens fictícios, dois deles realmente existiram e merecem atenção, Yi Seung Gye (Kim Yeong-cheol) e Yi Bang Won (Jang Hyuk), pai e filho, respectivamente. Aliás, quando vi o drama pela primeira vez, fiquei um pouco confusa com datas e nomes, por isso vou destacar algumas informações que podem te ajudar a compreender o contexto desse sageuk.

1388 — Ano da retirada de Wihwado: marca o início das ações de oposição do general Yi Seung Gye, que decidiu começar as revoltas contra o governo de Goryeo nesta região. Por causa dessa decisão, ele desiste de atacar a península de Liaodong, dando início a um golpe de estado.

Vale destacar que Goryeo tinha dois grupos militares, um deles comandado pelo general Choi e outro pelo general Yi Seung Gye. Este último era bastante reconhecido por sua liderança em batalhas contra povos que ameaçavam a soberania da nação em diversas tentativas de invasão e conquista de territórios.

Quem é Poeun? Jeong Mong-ju (pseudônimo Poeun) foi um importante estudioso e diplomata. Ele foi assassinado em 1392 porque se recusou a trair sua lealdade à dinastia Goryeo.

Não vou detalhar para não dar spoilers, mas tanto a Primeira Batalha dos Príncipes quanto a Segunda Batalha dos Príncipes são eventos históricos reais.

Ficção e realidade

Em períodos de crise como o retratado na história, onde a única certeza é que o país está desmoronando, esse drama nos faz refletir sobre nossa ideia de “mundo melhor” e o preço que estamos dispostos a pagar para alcançar nossos objetivos e ainda proteger quem amamos.

Em uma entrevista com o autor do drama, foi lembrado que, em 2017, a presidente da Coreia do Sul, Park Geun Hye, sofreu um impeachment. Embora o autor Chae Seung Dae tenha dito que para o dorama jogou fora grandes preocupações sobre o conceito de “meu país” na era atual, para mim, foi inevitável pensar sobre esse aspecto.

Durante o processo de impeachment coreano, a população foi às ruas com placas que questionavam: “É este país?”.

O “país dos abandonados” e o “país dos súditos”

Infelizmente a trama não fala tanto assim sobre esses conceitos que aparecem no desejo de dois personagens antagonistas. Ao pesquisar um pouco sobre a história da Coreia nessa época, fiquei pensando sobre as analogias que poderia fazer com a realidade.

Nam Jeon fala do “País dos súditos”. Foto: JTBC.

O “país dos súditos” almejado por Nam Jeon (personagem fictício, mas inspirado em um personagem histórico real, Jeong Do Jeon) é um país onde o rei seria muito mais uma figura simbólica. Sendo o governo regido pelos ministros, “os súditos”. Um tipo de monarquia parlamentarista sem primeiro-ministro.

Yi Bang Won quer construir o “País dos abandonados”. Foto: JTBC.

O “país dos abandonados” é o propósito de Bang Won. Ele deseja ter poder irrestrito, implantando uma monarquia absoluta. Desse modo, podemos pensar que suas palavras e decisões seriam automaticamente lei.

Depois dessa minha divagação, não é difícil pensar que os dois conceitos carregam inúmeros incômodos, e a resposta definitivamente não é tão simples quanto parece. Você vai perceber isso no drama.

Pais e filhos

Além da famigerada disputa por poder, My Country fala de sobrevivência, amizade, lealdade, feridas e cicatrizes profundas. E também da influência que as pessoas que você ama e daquelas que deveriam te amar têm sobre sua vida.

A relação dos protagonistas masculinos com seus pais é um ponto importante. Os sentimentos existentes entre eles influenciam suas evoluções ao longo da trama, seja positivamente ou negativamente.

Em My Country você vai amar alguns personagens? Sim! Você vai odiar facilmente outros? Sim de novo. E talvez você também sinta compaixão pelos que odeia e raiva daqueles que ama.

“Você foi mais do que suficiente” — Nam Jeon

O alívio cômico necessário + bromance

Fora do círculo dos protagonistas, My Country apresenta um núcleo cômico mais do que necessário entre tantas lutas, mágoas e sangue derramado. O trio de amigos de Seo Hwi é capaz de provocar senão risadas, no mínimo, sorrisos maravilhosos.

Minha vó dizia que se eu encontrasse pelo menos um amigo verdadeiro em meu caminho, já poderia me considerar sortuda. Eu cresci com essa certeza e aprendi a aproveitar o melhor de cada pessoa que entrou e saiu da minha vida. Os pouquíssimos que ficaram são o maior tesouro que eu poderia ter.

O amor foi mais forte em muitos momentos de My Country e espero que seja na minha e na sua vida também.

Fontes utilizadas: Wikipedia, Korea Post, Korea Post 2 e Youtube.

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Samantha Sant Ana
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Noveleira desde criança, adora discutir sobre as histórias da vida real e da ficção. É formada em Jornalismo e trabalha com criação de conteúdo online.