Nagi no Oitoma: uma jornada de autoconhecimento

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8 min readOct 6, 2019
Cartaz oficial do dorama.

Alguém já disse pra você “dançar conforme a música”? Já foi cobrado para se comportar de acordo com o ambiente em que estava? Trabalha ou estuda em algum lugar porque é o que todos esperam de você? Caso você esteja nessa situação, não tem momentos em que você se sente afundando e só tem vontade de tirar férias de si mesmo? Então, Nagi no Oitoma fala exatamente sobre isso: como sofremos por não podermos ser quem somos. Este dorama é uma adaptação de um mangá josei, da autora Misato Konari, e já tem cinco volumes publicados. Infelizmente sem tradução para o inglês ou português.

Capas do mangá Nagi no Oitoma

País: Japão
Episódios: 10
Emissora: TBS
Título em japonês: 凪のお暇
Diretores: Doi Nobuhiro, Tsuboi Toshio
Roteirista: Oshima Satomi
Gênero: Romance, Slice of Life

Sinopse: Oshima Nagi, 28 anos, trabalha para um fabricante de eletrodomésticos em Tóquio. Ela vive de acordo com as expectativas dos outros, observando constantemente o humor das pessoas. Por isso, seu objetivo é passar todos os dias sem incidentes. No entanto, como resultado de ler demais situações e se esforçar demais, ela entra em colapso devido à hiperventilação. Um dia, o namorado de Nagi diz algo que parte seu coração. Isso a leva a reexaminar sua vida e ela decide mudar. Renuncia à sua empresa, cancela o contrato do apartamento em que está morando e também para de se comunicar com todos, inclusive com o namorado. Ela planeja redefinir sua vida para ser feliz e deixar seus cabelos naturalmente encaracolados crescerem como estão.

Nossa protagonista segue à risca todos os requisitos de como ser uma boa mulher: é extremamente prestativa no trabalho, assumindo cargas que não a correspondem, só para não entrar em conflito com ninguém. Também sai com suas colegas de trabalho, tentando manter a imagem que é sociável e tem muito dinheiro para gastar, mesmo que não saiba o que falar e também não tenha tanto dinheiro assim para gastar. E claro, namora um colega de trabalho mais velho e bem sucedido, já que quer estar casada antes dos 30 anos.

Para manter toda essa máscara social, Nagi sofre muito, vive em constante tensão, prestando atenção o tempo todo no que as pessoas podem pensar ou falar sobre ela, criando mil cenários possíveis para cada ação que pretende tomar. Mesmo quando está tensa, está sempre sorrindo, sendo gentil e prestativa, não sabendo como dizer não aos outros, já que acredita que ao dizer não, perderá todos a sua volta. O maior símbolo da tentativa desesperada de Nagi para fazer parte da sociedade em que vive é o alisamento do cabelo. Todas as manhãs, ela passa mais de uma hora alisando seu lindo cabelo crespo, para ficar igual ao das suas colegas de trabalho.

O esforço diário para alisar o cabelo, mostrado no mangá.

No primeiro episódio vemos como isso também gera muito sofrimento nela, pois ela se sente feia e inadequada. Na verdade, Nagi tem baixa autoestima, não só por ter problemas em aceitar sua aparência física, essencialmente representada pelo cabelo, mas também por se sentir incompetente, desinteressante, incapaz de seguir a vida sem seu trabalho, colegas e namorado. Mas a história tem uma grande virada, Nagi vê seu mundo “perfeito” desmoronar quando escuta seu namorado a menosprezando, neste momento ela tem uma grande crise de ansiedade. Ela mergulha fundo dentro de si e depois do colapso, num ato de extrema coragem, se desliga de tudo que lhe faz mal e resolve tirar umas longas férias, para repensar sobre que rumo seguir em sua vida, para se conhecer melhor e tentar ser feliz.

Nagi de cabelo liso, antes do colapso nervoso.

O que mais me chamou a atenção nesse dorama foi como os temas autoestima, ansiedade e identidade foram tratados. Nagi é uma mulher com baixa autoestima, se sente insegura o tempo todo, já que não acredita na sua própria capacidade, pensa que precisa agradar a todos para ser aceita, tem medo de expressar as suas opiniões e não gosta da sua aparência, especialmente dos seus cabelos. O cabelo cacheado de Nagi é a grande metáfora deste dorama, quando seu cabelo está liso ela está seguindo o que a sociedade espera dela, e usando os seus cabelos da forma natural, ela toma as rédeas de sua vida e decide o que quer e o que não quer mais viver. Uma das cenas mais bonitas é quando a pequena Urara, vizinha de Nagi, diz que seu cabelo é maravilhoso, porque parece pelo de um cachorro fofinho, então a personagem começa a perder a vergonha de ter cabelo crespo.

Conversas agradáveis com o ventilador no apartamento novo.

Outras personagens também tem problema com autoestima na trama, a nova amiga de Nagi, Sakamoto-chan, também não consegue arrumar emprego, por se sentir inadequada e sofrer muito pressão para ser muito competente, já que se formou na Universidade de Tóquio. A pequena Urara, que ajuda tanto Nagi com a questão dos cabelos, também sofre por não gostar de si mesma. A menina tem vergonha de morar num prédio simples e de sua mãe trabalhar demais. Gostei muito que os problemas de autoestima das personagens vão além da aparência física, mostrando como se sentir inadequado, inseguro e incapaz também são características de quem tem autoestima baixa. Isso fica bem claro com a personagem Ichikawa-san, considerada a moça mais bonita do escritório, ela tem os mesmos problemas de autoaceitação vividos por Nagi.

amigos no apartamento de Nagi.

A ansiedade é outro tema mostrado de maneira impecável neste dorama. Nunca tinha visto alguma obra de audiovisual que retratasse tão bem a vida de alguém que sofre de ansiedade, assim como as possíveis origens do problema (não posso contar porque é um spoiler) e o principal: mostrar que dá pra viver uma vida saudável mesmo com ansiedade. Durante os episódios vemos Nagi tendo vários comportamentos comuns em pessoas com Transtorno de Ansiedade Exagerada, como quando pensa nos mil cenários possíveis a cada tomada de decisão, o quanto se martiriza quando comete um erro, refletir o tempo todo sobre assunto até conseguir resolver, procrastinar algumas ações porque não consegue se concentrar para executá-las. E claro, os sintomas físicos, muito bem retratados na crise de ansiedade protagonizada por Nagi no primeiro episódio e a sensação de estar à beira da crise que ela vive em outros episódios.

É muito bom ver Nagi aprendendo a viver com sua ansiedade, tendo dias ótimos e dias complicados, entendendo que precisava mudar sua forma de pensar e que isso seria uma jornada para muitos anos. Pessoalmente, isso me deu muito esperança de também conseguir aprender a lidar com minha ansiedade.

Outro aspecto muito bem trabalhado em Nagi no Oitoma foi a questão da identidade. Nagi não sabe quem é, pois viveu sua vida de acordo com as expectativas da sua família, dos seus colegas de trabalho e do namorado. Durante suas férias, ela tem tempo para pensar no que gosta e porque gosta. Também aprende a conviver com seu corpo e sua personalidade, descobre o que é realmente seu e o que era falso, feito apenas para agradar as outras pessoas, percebe que pode ter sonhos e lutar por eles.

Nessa jornada de autoconhecimento a presença dos dois protagonistas masculinos é muito importante. Shinji, o ex- namorado, é a representação de tudo que oprime Nagi, tudo que ela não quer mais, Gon-san, o vizinho e novo amor, representa a liberdade e a tranquilidade. Ao conviver com esses dois homens, Nagi percebe que na vida real não há mocinhos e vilões. Gon-san não é tão perfeito e Shinji não é só defeitos. Ela consegue perceber que todos erramos, todos magoamos alguém, e assim, entende melhor o comportamento dos protagonistas masculinos. Os dois servem como um espelho para Nagi, já que através do comportamento dos dois, ela descobre mais sobre seu próprio comportamento e suas emoções.

Gon-san, Nagi e Shinji.

A escolha do elenco também foi extremamente acertada, Kuroki Haru deu um show de interpretação como protagonista, amei a química dela com Nakamura Tomoya, que faz Gon-san, os momentos cômicos e brigas com Takahashi Issei. Aliás, Takahashi Issei deu um show a parte com as cenas de choro e os momentos cômicos, que eram fundamentais para dar um bom ritmo aos episódios. Gostei muito também da interpretação de Ichikawa Mikako como Sakamoto-chan, as cenas dela com Kuroki Haru eram as mais ternas, as duas conseguiram mostrar o quanto a amizade de Nagi e Sakamoto-chan era verdadeira.

Os recursos gráficos usados nas cenas em que Nagi e Shinji precisavam tomar decisões, baseados no mangá, foram perfeitos, parecia que realmente os personagens estavam vendo as opções estampadas por todos os lados. Queria dar destaque especial para a OST do dorama, simplesmente tem tudo a ver com a história e não paro de escutar!

Nagi no Oitoma é a jornada de uma mulher comum buscando entender a si mesma. Nagi nos ajuda a entender como a falta de amor próprio pode gerar muito sofrimento, a ponto de não sabermos mais quem somos, já que vivemos para atender a expectativa do outro, o que nos faz entrar num ciclo vicioso de não aceitação, dor e o distanciamento da nossa essência. Nagi também nos traz esperança ao mostrar que o cenário pode mudar, que podemos reprogramar as nossas mentes, aprender a pensar diferente, enfrentar o que nos oprime e compreender que errar faz parte do processo.

Faça como Nagi, quando tudo parecer estar desmoronando, tire um tempo para você, desacelere, entenda mais sobre o que está sentindo e quem você é. Solte seu cabelo ao vento, converse com si mesmo, e depois desse tempinho, siga em frente. Viver é uma jornada de autoconhecimento!

“Não tenha medo. Faça suas próprias escolhas. A vida é mais divertida assim”.

Link para assistir Nagi no Oitoma: Mahal Fansub

OST de Nagi no Oitoma: Reboot, de Miwa.

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vejo muitos jdramas e gosto de escrever sobre eles.