O que os borrões em dramas policiais nos ensinam sobre a censura coreana

Luana Marino
blogADQSV
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4 min readFeb 5, 2020

Eu costumo dizer que a dramaland é democrática e agrada a todos, e de fato é muito difícil não ter ao menos uma produção que seja ao gosto do mais exigente espectador. As minhas favoritas são as policiais, pois sou muito fã do gênero, mas nem por isso digo que foi amor à primeira vista quando resolvi assistir a um drama do tipo.

O escolhido, se não me falhe a memória, foi Heartless City. Descobri esta preciosidade quando estava à procura de histórias mais adultas (estava um pouco saturada dos “oppaaaaaa” das comédias românticas, rs), mas apesar de a trama ser muito, muito boa, uma coisa começou a me incomodar ao mesmo tempo que me deixava curiosa: por que as facas estão borradas?

A censura coreana

Isso é uma coisa muito constante nos dramas policiais e de ação, que geralmente são os que mostram facas sendo usadas como armas. O que poucos sabem é que as emissoras de TV seguem normas estabelecidas pela Korea Communications Standards Commission(Comissão de Normas de Comunicação da Coreia, em tradução livre). O artigo 37 da lei 81 da KCSC diz o seguinte:

“Os seguintes itens, que podem transmitir choque excessivo, ansiedade ou desgosto aos telespectadores, não devem ser transmitidos. Pode haver exceções limitadas se essa representação for inevitável para a discussão do conteúdo [da cena]; mesmo em tais casos, esses itens devem ser abordados com cautela.

  1. Representação gráfica da decapitação, estrangulamento ou desmembramento;
  2. Representação direta do momento do suicídio ou descrição que implica o método do suicídio;
  3. Representação de mutilação ou morte com armas de fogo, facas ou outros objetos;
  4. Representação de cadáver ou partes do corpo;
  5. Representação da morte de um animal;
  6. Outras representações semelhantes às descritas acima;”
Tell Me What You Saw, novo drama da OCN

Claro que a gente lê isso e pensa logo na quantidade de cenas que mostram momentos de suicídio ou métodos do mesmo e mortes com armas de fogo que não são censuradas, mas como o texto fala que pode haver exceções, acredito que haja critérios na hora da edição dos dramas e prevalece o bom senso — ou não, já que a parte das facas chega a ser meio bobo, enfim.

Vale destacar que esta censura é usada em qualquer gênero de drama, não só em tramas policiais. Se a cena escrita esbarrar em um dos cinco tópicos descritos na lei, vamos ter aquele borrão incomodando.

Tatuagens e cigarros borrados

Em Heartless City, o protagonista vivido pelo ator Jung Kyung Ho tem uma tatuagem enorme nas costas — sério, toma as costas TODA do rapaz. Em todas as cenas que ele aparece sem camisa, porém, o desenho está borrado.

Ficar horas pintando um desenho pra ele ser censurado. Ai, Coreia…

Sobre tatuagens, a questão é a seguinte: a profissão de tatuador é por lei considerada ilegal, pois, no país, entende-se que para alguém ser tatuador (ou seja, mexer com agulhas), precisa ser médico. O ato de tatuar alguém é visto como um procedimento médico.

Entenda: a tatuagem NÃO é ilegal, mas ser tatuador pode até levar alguém para a prisão. E aí a gente se pergunta por que a censura às tatuagens, mas a resposta tem outro motivo. Durante muitas décadas, tatuagens eram vistas como algo de membros de gangues ou mesmo da máfia. Fora que, para os homens, ainda tem a questão da obrigatoriedade do alistamento militar, e tatuagens muito grandes podem ser um problema na hora de servir ao exército (acho que menos pro G-Dragon, porque, né, ele é o G-Dragon!).

Há também uma preocupação quanto ao consumo de cigarros nos dramas, algo que também é visto nas novelas brasileiras, dependendo do horário em que passam. A Coreia do Sul possui um dos maiores índices de fumantes em sua população, e não são poucos os esforços do governo para diminuir esta quantidade. Claro que isso reflete nos dramas, ou seja: ou eles serão censurados da mesma forma que as tatuagens ou teremos apenas aquela insinuação, sem que o personagem fume o cigarro de fato.

Drama: The Lover

Em 2015, de acordo com o Ministério da Saúde e do Bem-estar (MHW) da República da Coreia, a porcentagem de fumantes entre a população adulta masculina era de 39,3%. Foi a primeira vez desde 1998, quando o governo começou a fazer estatísticas sobre o consumo de tabaco, que o número ficou abaixo dos 40%. Isso é um reflexo das campanhas antitabagistas.

E então, concordam com a lei ou acham exagero?

Fontes: Aska Korean

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Luana Marino
blogADQSV

Jornalista, revisora de textos, fã de dramas asiáticos, Bon Jovi, Game of Thrones e Fórmula 1!