Oh My Baby: amor e maternidade depois dos 30

Resenha do k-drama Oh My Baby (com spoilers)

Suca
blogADQSV
7 min readJul 19, 2020

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Jang Ha Ri e seus pretendentes

Oh My Baby foi uma grande surpresa positiva no mês de maio para mim, já que normalmente não costumo ver comédias românticas, mas acabei me conectando muito com a história, ao ponto de escrever sobre um k-drama, logo eu, a redatora oficial de j-dramas. Todas as dificuldades de Jang Ha Ri me pareceram extremamente reais, não teve como não me identificar com ela e pensar bastante sobre como é a vida das mulheres depois dos 30 anos.

Título: Oh My Baby
Título em Hangul: 오 마이 베이비
Diretor: Nam Ki-Hoon
Roteirista: No Sun-Jae
Emissora: tvN
Episódios: 16

Jang Ha-Ri (Jang Na-Ra) é uma mulher solteira e tem 39 anos. Ela trabalha como vice-gerente da empresa de revistas para pais “The Baby”. Ela tem uma aparência bonita, mas não namora nos últimos 10 anos. Isso ocorre porque Jang Ha-Ri é viciada em trabalho. Ela desistiu de encontrar amor ou se casar, mas ainda quer ter um bebê. Jang Ha-Ri logo se envolve com 3 homens. Han Yi-Sang (Go Joon) trabalha como fotógrafo freelancer. Ele procura continuamente hobbies que o farão feliz. Ele reclama de praticamente tudo, mas está entusiasmado com seu trabalho. Yoon Jae-Young (Park Byung-Eun) trabalha como pediatra. Ele é amigo de Jang Ha-Ri. De repente, Yoon Jae-Young se torna um pai solteiro e ele luta para lidar com sua situação. Choi Kang Eu Ddeum (Jung Gun-Joo) é um funcionário novato que trabalha para Jang Ha-Ri. Ele tem uma personalidade positiva e a adora. (Fonte: AsianWiki)

Oh My Baby é uma comédia romântica, com todos os elementos que fazem este gênero tão popular, temos uma protagonista e muitos pretendentes, muitas dificuldades para a relação amorosa se estabelecer, muitos alívios cômicos e muitas cenas em que você fica falando sozinha “por favor, se beijem”. Porém, também traz um elemento bem corriqueiro que adiciona um frescor e aquele sabor de novidade ao roteiro: a maternidade e o amor depois dos 30. Apesar de não ter tido uma grande audiência na Coreia do Sul, o drama trouxe muitos exemplos de como mulheres acima dos 30 anos são vistas e tratadas em sociedade. Muitos desses exemplos são comuns aqui em nosso país também, o que demonstra que esse tema é bem atual e, infelizmente, recorrente.

Jang Ha Ri: uma mulher correndo contra o tempo

Jang Ha Ri é considerada uma perdedora pelas pessoas com quem convive. Ela ainda mora com a mãe, trabalha há 15 anos na mesma revista e nunca foi promovida, não tem namorado e seu relógio biológico está disparado, pois ela deseja mais que tudo ser mãe. Ao longo da trama, percebemos que apesar do comportamento amável e generoso, Ha Ri se sente diminuída e angustiada por não corresponder com as expectativas que a sociedade impõe a ela. A pressão vem de todos os lados, através da mãe, ansiosa por netos; das amigas, que querem que ela case logo; do trabalho, porque é complicado ela escrever sobre bebês sem ser mãe. Ha Ri usa as armas que tem para atingir seu objetivo: procura pretendentes da sua faixa etária, insiste em conseguir encontros, cogita a produção independente e até mesmo uma inseminação artificial com doador anônimo.

Infelizmente, aqui vemos um reflexo cruel das cobranças que as mulheres depois dos 30 sofrem. Parece que há um prazo de validade e que se a mulher não atingir as expectativas impostas pela sociedade, ela não terá valor algum, será alguém digno de pena, alguém patético e sem objetivos. A vida da mulher é resumida a ter uma carreira, casar e ter filhos, tudo antes dos 30. Ha Ri não conseguiu nada disso e já tem 39 anos, com problemas de autoestima e totalmente pressionada, ela se coloca em várias situações absurdas, em que começamos a cena rindo e acabamos chorando, pois o sofrimento dela é tão real, não há coração que não se compadeça com Ha Ri. A interpretação de Jang Na Ra, como sempre, foi maravilhosa, conseguiu dar o tom certo para a personagem, sem cair no dramalhão.

Ha Ri e seu fascínio por bebês

Mas por que Ha Ri deseja tanto ser mãe? Filha de pais separados, a protagonista teve como exemplo a própria mãe como ideal de mulher, alguém que quase se matou de trabalhar e fez de tudo para mantê-la alimentada, segura e amada. Há uma cena em que isso fica muito claro, quando Ok Ran (Kim Hye Ok), mãe de Ha Ri, lembra-se da filha fazendo o dever de casa, colocando que a profissão que gostaria de seguir no futuro é ser mãe. Para a pequenina Ha Ri, não havia outra profissão mais admirável que cuidar de um filho, assim como sua mãe fazia.

Ao longo da trama vemos que as duas ainda não resolveram dentro delas a saída do pai de casa, Ok Ran quer que a filha tenha um bom marido para não passar pelo que ela passou. Ha Ri deseja ser mãe para cuidar bem do seu filho, como sua mãe cuidava dela. Porém, também deseja ter uma família padrão, com pai, mãe e filhos, algo que nunca teve, por isso durante toda a trama tenta engravidar, mas nunca desiste totalmente de encontrar um parceiro e formar uma família. É importante frisar aqui que Ha Ri tem sua visão do que é ser uma família a partir do que a sociedade em que vive acha válida, ela é uma personagem de uma obra sul-coreana, por isso a questão de ser mãe solo é muito mal vista e comentada como algo ruim pelos personagens e a adoção nem é cogitada, pois ainda é uma grande tabu no país.

Como toda comédia romântica, não podia faltar o amor. É muito bonita a maneira como o drama mostra que Ha Ri pode sim amar e ser amada. Como é construída a sua relação com os possíveis pais de seu filho. A retomada da amizade com Jae Young ajuda imensamente Ha Ri, que começa a perceber que é capaz e suficiente para fazer o que desejasse, tanto no trabalho como na vida pessoal. Também foi muito divertido e nada problemático como a situação do amor unilateral que ele nutria por Ha Ri foi mostrado na trama. Jae Young conseguiu também amadurecer junto com a amiga e reorganizar sua vida, entender mais sobre o amor e sobre si mesmo.

Já com Yi Sang , Ha Ri consegue sair da sua zona de conforto e perceber como os dois eram parecidos, ela vê a possibilidade de amar e também ter um filho com ele. O relacionamento dos dois é imensamente lindo e mostra como dar uma nova oportunidade para alguém vale a pena. Os dois começam de uma maneira muito errada, ela desesperada para ter filho, ele fugindo de relacionamento, mas no decorrer da trama, vemos que Yi Sang também tem muitos problemas e a relação com Ha Ri é o empurrão que faltava para ele aprender a se aceitar e se amar como ele é.

A questão da infertilidade foi bem trabalhada na trama, podemos entender e sofrer juntos com Ha Ri e Yi Sang, além de nos fazer entender muitas coisas sobre o comportamento dele durante a trama, humanizou muito o personagem e faz com que tenhamos empatia por ele. E Eu Ddeum? Este personagem foi um ponto negativo da trama, não foi bem aproveitado e foi difícil mesmo pensar que ele teria alguma possibilidade de relacionamento com Ha Ri. Tanto que ele acabou sendo mais aproveitado dentro de uma casal secundário do que como protagonista, junto com os outros pretendentes.

Quando comecei a ver Oh My Baby pensei que seria a história de Ha Ri tentando ser mãe, mas é muito mais que isso — é sobre como esta jornada em tentar encontrar um pai para seu filho fez com que ela amadurecesse, visse outras possibilidades para sua vida e finalmente encontrasse um grande amor. Esta surpresa no enredo me deixou bem feliz, pois enriqueceu a trama. Ha Ri se torna uma mulher forte, independente, que consegue ver que a felicidade não está em outras pessoas, mas em ser ela mesma. Não há uma idade certa para ter sucesso no trabalho, nem para se apaixonar, nem para casar ou ter filhos. Não temos prazo de validade, viva cada estação da sua vida e lembre-se de Ha Ri. Sempre dá tempo de ser feliz.

Ha Ri aprendendo a se a amar e a ser feliz depois dos 30.

Link para assistir com legendas em português: Viki.

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vejo muitos jdramas e gosto de escrever sobre eles.