Soshite, Ikiru: resiliência e autorresponsabilidade

O que você faria se o mundo literalmente desabasse e todos os seus planos fossem por água abaixo?

Suca
blogADQSV
6 min readDec 19, 2019

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Toko e Kiyotaka em Kesennuma.

Atualmente, com a moda dos coachs e dos livros de autoajuda, cada vez mais vemos palavras como resiliência e autorresponsabilidade em redes sociais, em vídeos, em palestras… Eu tinha uma certa dificuldade em entender estes conceitos e como eles poderiam se aplicar no meu dia a dia. Assistindo Soshite, Ikiru tive meu pequeno momento de revelação e me dei conta do que significavam de verdade essas palavras e de quanto amadurecimento emocional era necessário para colocá-las em prática.

Desde que foi anunciada a produção deste dorama, eu tinha grande expectativas, pelo elenco e principalmente pelo roteirista e diretor. Yoshikazu Okada foi responsável pelos roteiros de filmes e doramas que me marcaram muito (The 8 Year of Engagement, In This Corner of The World) e o Sho Tsukikawa dirigiu filmes que estão na lista dos meus favoritos pra vida (Let me Eat Your Pancreas, The 100th Love With You). Minhas expectativas foram muito mais que alcançadas, esse dorama mudou minha maneira de enxergar o mundo e de como viver.

Título original: そして、生きる
Roteiristas: Okada Yoshikazu
Diretores: Tsukikawa Sho
Episódios :6
Emissora: WOWOW
País: Japão

Sinopse: Toko Ikuta perdeu seus pais em um acidente de carro quando tinha 3 anos. Mais tarde, seu tio, que administrava uma barbearia em Morioka, a criou e deu-a uma infância feliz. Toko Ikuta era ativa como ídolo local e sonhava em ser uma atriz. Com 19 anos de idade, ela planejava participar de uma audição em Tóquio. Um dia antes de sua audição, no dia 11 de Março de 2011, o grande terremoto Tohoku e um tsunami atingiram o Japão. No outono de 2011, Toko Ikuta trabalhou em um café. Ela foi com sua colega coreana, Han, fazer trabalho voluntário em Kesennuma, para reconstruir a área devastada pelo tsunami. Lá, Toko Ikuta conhece Kiyotaka Shimizu, um estudante universitário de Tóquio e membro de um grupo estudantil voluntário. Enquanto passam um tempo juntos em Kesennuma, Toko Ikuta e Kiyotaka Shimizu desenvolvem sentimentos um pelo outro.

A ídolo e o universitário: resiliência

Limpando e organizando por fora e por dentro.

Toko teve sua infância marcada por uma grande tragédia: a morte de seus pais. Criada pelo tio, ela se sente devedora, já que este abriu mão de sua vida para educá-la. Como forma de agradecimento e reparação, ela sonha em ser uma grande atriz e enchê-lo de orgulho. Fazendo todos os tipos de propaganda, peças de teatro, comerciais e aparições artísticas em sua cidade, chegou a hora dela ir para Tóquio e tentar a sorte como artista. É impossível não se identificar com Toko e todas suas dúvidas em como será sua vida em Tóquio. Ela sente uma pressão interna enorme, já que a autocobrança é muito maior do que as expectativas do seu tio ou amigos.

Este início da obra é uma história bem familiar para quem consome cultura pop do leste asiático, a maioria dos idols que acompanhamos e gostamos viveu o momento que Toko está passando. A cobrança interna para ser um orgulho para família e também de alguma forma, através da sua fama e riqueza, pagar os esforços dos pais por criá-los.

Em Tóquio, Kiyotaka também passou por uma tragédia familiar e vive com sua tia. Ele também tem o pensamento constante de querer ser um homem de sucesso, dar orgulho e não mais perturbar sua família. Não quer ser um peso, alguém que traz problemas e incomodações. Este sentimento de não querer ser um peso também é bem conhecido de quem assiste muitos doramas, já que é uma característica de algumas sociedades da Ásia, como acontece no Japão.

Nossos protagonistas são jovens com muito medo do futuro, mas com um planejamento de como querem viver a próxima etapa de suas vidas. Tudo isso é modificado devido o terremoto e tsunami que acontece em 2011. Os planos de um futuro como idol de Toko são adiados e o trabalho voluntário vira fuga para Kiyotaka.

Toko usa o desastre natural como desculpa para sua síndrome da impostora, ela não se sente capaz como atriz, não acredita que fará sucesso em Tóquio, sente um grande medo de fracassar, então resolve não seguir em frente e continuar na sua cidade natal. Enquanto isso, Kiyotaka também usa o desastre natural como desculpa para não assumir para sua família o que realmente quer fazer da sua vida. Com muito medo de decepcionar sua tia e não se visualizando na profissão em que estuda, acaba usando a oportunidade de ser voluntário em Kesennuma para não precisar estar em Tóquio e participar de processos seletivos que sua família tanto cobra.

Durante a reconstrução da cidade, Toko e Kiyotaka se encontram e começam a construir uma relação, os dois sentem que têm muito em comum, enquanto limpam e organizam a cidade, também limpam e organizam suas mentes. Nesta parte há lindas cenas de desabafos de ambos os personagens, podemos ver que estão conseguindo superar suas inseguranças, traumas e medos. Aqui eu pude ver de verdade o que é o movimento de resiliência, já que os dois são sobreviventes que seguiram em frente, cada um com seu tempo de desenvolvimento, com sua trajetória, mas superaram essas dificuldades gigantes e resolveram recomeçar.

Escolhas boas, escolhas ruins: autorresponsabilidade

Uma noite mágica, tantas consequências…

Depois de se entenderem e tomarem as rédeas de suas vidas, Toko e Kiyotaka encontram novamente dificuldades em suas trajetórias pessoais. Toko tenta retomar sua vida artística, e não dá muito certo. Nossa protagonista faz escolhas difíceis de serem feitas, decisões que não sei se eu em algum momento da minha vida teria coragem de tomar. A força interior de Toko é admirável, nada a derruba. Dificuldade após dificuldade, ela segue sempre em frente.

A interpretação de Arimura Kasumi é emocionante, a maneira como ela fecha os olhos, mostrando como Toko se reconecta e encontra seu ponto de força me deixou completamente admirada, tamanho talento. A atriz teve muito cuidado em não cair no dramalhão, já que o dorama é um melodrama, ela conseguiu dosar a emoção de uma maneira impecável.

Um dos momentos mais importantes e emocionantes para mim, foi quando Toko fala que nada do que aconteceu com ela não é de sua responsabilidade, escolhas ruins, boas ou não escolher nada, era sua escolha e portanto ela se sentia responsável e não uma vítima. Nossas circunstâncias nem sempre podem ser mudadas, no entanto a maneira como decidimos agir diante dessas circunstâncias são de nossa responsabilidade. Não preciso nem dizer que minha cabeça explodiu em mil pedaços e fui tomada por uma forte emoção. Finalmente entendi o que era autorresponsabilidade.

Kiyotaka também tenta viver conforme o que acredita ser seu propósito de vida, entretanto nem tudo saiu como o planejado. Vítima de mais um tragédia, nosso protagonista se vê destruído, pois suas crenças e planos não fazem mais sentido. O que mais achei admirável nesse personagem foi sua capacidade de respeitar os processos pelos quais estava passando. A primeira vista pode parecer isolamento, mas Kiyotaka precisava se reconstruir e encontrar um novo caminho para viver.

Com atitudes diferentes de Toko, ele também mostra que pode superar tudo de ruim que atravessar seu caminho e ser responsável por seu próprio destino. Depois de viver sua dor, seu luto, se reconstruir, ele faz as pazes com ele mesmo e entende que ele precisa seguir adiante e não ser vítima de suas circunstâncias. Os momentos de estresse pós-traumático e depressão que ele vive foram maravilhosamente interpretados por Sakaguchi Kentaro. Aliás, Arimura Kasumi e Sakaguchi Kentaro foram além das altas expectativas que eu tinha sobre eles como protagonistas: atuações magistrais! Fiquei emocionada do início ao fim do dorama.

Um novo recomeço para Toko e Kiyotaka.

Como o nome do dorama já diz, Soshite, Ikuri é sobre viver. Não apenas existir, mas sim viver. Entender que estamos neste mundo para sermos protagonistas das nossas vidas e responsáveis por nossas jornadas. Assim como Toko e Kiyotaka, siga à diante, haverá dias bons e também dias ruins, não desista, respeite seu processo, encontre sua força interior e viva!

A felicidade é algo que se deve agarrar com as próprias mãos, uma vez que a tenha, você não deve soltá-lá nunca.

Link para assistir com legendas em português: Subarashiis Fansub.

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vejo muitos jdramas e gosto de escrever sobre eles.