O que aconteceu com a Campus Party?

Carla Vieira
blogcarlavieira
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8 min readFeb 7, 2018

Participei da minha primeira Campus esse ano e acompanhei nas redes sociais muitas pessoas postando suas impressões, o que foi legal e o que não foi e decidi fazer um post sobre as minhas impressões do evento, levantando o que poderia ser melhor e como fazer um evento que, de fato, reúna uma galera interessada em discutir tecnologia, fazer networking e aprender junto às comunidades.

Faço este post não apenas como crítica, mas levanto pontos que precisam ser observados nas próximas edições, como alguém que se preocupa com esse tipo de evento e que quer rever novamente os amigos em um lugar que foi fonte de inspiração e oportunidades.

Espero que vocês não entendam esse post como “nossa, o evento foi uma m*rda”, mas com a perspectiva de que, se parte do que foi levantado aqui mudar, a Campus de 2019 vai ser o melhor evento do Brasil!

Quando decidi ir na campus, acampar vários dias e participar do dito maior evento de tecnologia no Brasil, coloquei as expectativas como as mais altas possíveis. Eu esperava ver novidades do mundo da tecnologia, palestras de altíssimo nível com muita qualidade (houve palestras ótimas, mas eu esperava mais) e muita interação.

Voluntários

Grande parte das pessoas envolvidas na Campus são voluntários. Desde o credenciamento até a curadoria do evento. Pelo que me lembre pouca gente, de fato, recebe algo pelo evento. O que senti falta aqui é sobre o treinamento desses voluntários. Todas as questões que tive, devido a organização e logística do evento faziam com que, enquanto participante, tivesse que correr atrás do “prejuízo”. Se tinha alguma questão no credenciamento, tinha que esperar alguém mais informado voltar e aparecer para resolver. A informação sempre chegava após 2 ou mais pessoas da organização conversarem.

Filas

Uma das coisas que sempre acontece na Campus é a quantidade e tempo nas filas, para quase qualquer atividade. Tratando-se da proporção do evento, é inevitável que haja horários de pico em certos dias. Por isso (creio eu), há sempre a opção do pré credenciamento para evitar as filas para pegar a credencial. Porém, esta opção é viável para quem chega antes ou quem mora em São Paulo. Devido à muitas caravanas e pessoas sozinhas/grupos menores chegarem somente na data de início, ainda teve fila. Eu não passei por essa experiência, pois cheguei no dia 31/01 bem cedinho e entrei em cerca de 20 minutos no máximo (contando fila para retirar credencial, fila para registrar os equipamentos e para entrar no camping).

Palcos e workshops

No total haviam dentro da arena cerca de 6 palcos diferentes: Palco Steam, Palco Entrepeneurship, Palco Feel the Future, Palco Creativity, Palco Games e Palco Makers, se não esqueci nenhum. Achei os nomes dos palcos uma melhoria muito significativa. Pelo nome, você tinha ideia do que ia encontrar ali, o assunto de seu interesse.

Eu acho legal o conceito de misturar vários temas e atividades e gerando aquela sensação de FOMO nos participantes. Isso faz com que você fique 100% do tempo ligado e achando que a palestra do vizinho vai ser mais legal e que vai ter que priorizar o que quer fazer na Campus.

Palco Steam CPBR11 (Fonte: Campus Party Flickr)

No entanto, achei que os palcos desse ano não tinham uma infraestrutura tão boa quanto os que vi de anos anteriores pela internet. As áreas de workshops, assim como as comunidades ali presentes muitas vezes sofriam interrupção devido ao barulho de outras atividades e som dos palcos maiores.

A impressão que tive era que não tinha profissionais escalados para cobrir todo o evento. Faltou um carinho com a estruturação sonora como um todo.

Área do workshop de IOT (Fonte: Campus Party Flickr)

Além disso, as áreas de workshops contavam com apenas 2 TV’s que mal dava para enxergar o conteúdo… A minha sugestão seria replicar o sinal em outras TVs (já que escolheram TVs para as áreas menores) e posicioná-las nas laterais a cada 3 linhas de mesa.

Página de streaming
Página de streaming

Mas um dos pontos positivos que posso apontar é a possibilidade e qualidade de assistir as palestrar por meio de streaming sem sair de casa. Acho que isso deve continuar acontecendo para que a Campus consiga atingir ainda mais pessoas em todo o Brasil.

Espaço para relaxar…

Outra coisa bacana e diferente foram os espaços para descanso. Rolou Ioga, massagens e até um espaço para futebol. Senti falta dos sofás e puffs, porém quem sabe ano que vem a gente os tenha de volta.

Diversidade

Como eu já esperava, encontrei poucas mulheres dentro do evento. Até saiu na Globo como uma das primeiras manchetes desta Campus:

A manchete faz parecer que o problema está resolvido e que lutar por uma TI mais diversa não faz mais sentido. Se você colocar tecnologia como sinônimo só de youtube, cosplay e cultura geek 40% me parece até pouco já que o brasil inteiro tem consumido tudo isso e as mulheres são representam um grande parcela dessa população.

Será que poderiam me dizer realmente quantas programadoras, makers, empreendedoras, criadoras de jogos tinham ali? Eu garanto que não dava nem metade desses 40%, porque na comunidade Women Dev Summit estávamos unidas mesmo que de escanteio da programação e não éramos 40%.

Na própria campus teve palestrante com discurso machista… Se quiser entender melhor o caso, recomendo a leitura desse post: https://medium.com/@Desprograme/como-tudo-come%C3%A7ou-a-hist%C3%B3ria-completa-a51e6051b60f

Mas também teve mulheres reagindo e compartilhando a #MeuLugarEmTI no twitter, facebook mostrando nossa força e união nessa luta por uma internet mais acessível, por uma tecnologia que seja realmente para todos.

Então, não, a Campus não conseguiu melhorar a diversidade e a participação das mulheres na construção de tecnologia. Ainda temos muito pelo que lutar, ainda quero ver muitas delas palestrando e vária sentadas nas mesas jogando, conversando e sentindo-se à vontade para interagir no evento.

Comunidades

Muitos amigos falaram que durante a madrugada, as comunidades se juntam para conversar, usam os palcos e fui sonhando com isso já que iria acampar todos os dias. No entanto, vi uma Campus muito preocupada com os youtubers e com o volume de pessoas do que com qualidade e comunidade.

Muitas comunidades fizeram programações inteiras e cheia de qualidade e sequer respeito dos participantes tiveram. No meio de uma das atividades que acompanhei do Women Dev Summit uma galera chegou gritando e atrapalhando a atividade. Eu entendo que eles não tem culpa, eles foram só um resultado da mudança de foco do evento.

Eu entendo que trazer youtubers é uma forma de atrair mais pessoas (eu acompanho váriso deles e tietei os que acompanho). Alguns vídeos tem o propósito de ensinar e outros de entreter, e talvez os últimos chamem mais a atenção que os primeiros. Culpar a Campus pela atenção aos famosos do entretenimento não adianta muito. Acredito que onde vão chamam a atenção de alguns, e como a Campus é eclética, é uma forma de atrair mais gente ao evento. É mais uma questão cultural do que do evento. Mas isso não deveria ter predominado.

Pirula (Canal do Pirula), Iberê Thenório (Manual do Mundo), Emílio Garcia (Blá blá logia) | Felipe Castanhari (Nostalgia) | Nathalia Arcuri (Me Poupe!)

Eu senti que não foi um grande evento de tecnologia, foi um encontro de pessoas que se interessam por cultura pop, Youtube, redes sociais e virais de internet. Nada contra, eu gosto muito de entretenimento, mas parem de falar que isso é tecnologia. Não é só isso. Tecnologia é comunidade sendo valorizada e querendo compartilhar e se fortalecer. Tecnologia é gente decidindo os rumos da internet e das plataformas digitais com muita conversa e empatia e não imposições.

Comunidades (Womakerscode, Women Dev Summit, Codamos e muito mais) em debate sobre diversidade e inclusão em TI #MeuLugarEmTI

Eu pude participar dos workshops e painéis do Women Dev Summit e com certeza essa foi a parte mais fod* da Campus Party. Queria que mais disso tivesse acontecido, que as comunidades tivessem espaço nos palcos para discussões, compartilhamento de conteúdo e debate sobre tecnologia.

No final, líderes de comunidades,desenvolvedores de grandes corporações, makers com muito conhecimento, grandes programadoras e programadores se renderam.

Resumindo…

Eu irei continuar participando do evento, na expectativa de reencontrar os amigos e pessoas que conheci nesta edição. Na próxima, irei tentar participar mais dos workshops, levar mais amigas junto comigo e ajudar na organização das comunidades. Para renovar aqueles votos de que a gente quer fazer uma internet mais acessível para todos e também para levar algo novo e contribuir (não com o evento), mas com quem está lá e quer ter uma oportunidade nova. Talvez isso já ajude a ter um evento mais proveitoso.

Infelizmente, as tentativas que percebo da organização em reafirmar esse espírito não geram o mesmo resultado e até pioram e desmotivam a participação. E uma palavra define a necessidade de algo urgente quanto a isso: “CUIDADO”.

Por que “cuidado”? Eu acredito que a percepção do evento vem da forma como são recebidas as pessoas e como a organização demonstra sua preocupação com as pessoas dentro do evento. Isso vale desde o credenciamento até a finalização do evento e depois no pós-evento pedindo feedback aos participantes e convidando para a próxima edição.

Espero de coração que a próxima Campus seja realmente sobre tecnologia e que as comunidades tenham mais apoio e incentivo, pois são elas que efetivamente estão mudando os rumos da tecnologia.

Queria deixar um agradecimento especial a diversas pessoas que conheci e reencontrei: Somatorio, Fernando Ike, Alissa Gonçalves, Camila Achutti, Alda Rocha, Caroline Santos, Alline Oliveira, Camila Campos, Bárbara Barbosa, Dani Monteiro, Cynthia Zanoni, Lucas Silva e muitas outras pessoas que eu não consigo lembrar agora! Obrigada por terem feito a #CPBR11 valer a pena❤

E se você participou da Campus de 2018, deixa nos comentários a sua experiência e dicas para que todos aproveitem mais ainda o evento!

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Carla Vieira
blogcarlavieira

Data Engineer @ QuantumBlack and Google Developer Expert.