Jogos Memoráveis do JUCS: domínio da ComArtes UFRJ e a criação da música “a ESPM amanhã não joga”

Felipe Angelicci
blogdobruce
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6 min readMay 24, 2018
Atletas do time de vôlei feminino comemorando a vitória contra a ESPM, em meio ao mar azul, no JUCS de 2016

O que é necessário para a criação de uma música que faça sucesso? Um talentoso compositor? Rimas profundas e reflexivas? Arranjos complexos e bem feitos? A torcida da Comunicação e Artes da UFRJ provou, em 2016, que o sentimento extasiante de seguidas vitórias em cima de um rival é suficiente para que se crie, quase de forma espontânea, um hit que aquece as gargantas de todos até hoje.

O canto “a ESPM amanhã não joga” ecoou incessantemente em Campos — cidade sede daquele ano –, e é o tema do quarto episódio da série “Jogos Memoráveis do JUCS”. Se você ainda duvida que torcida realmente ganha jogo, ou ainda não está convencido do poder e influência que os espectadores têm nas partidas, senta aí, fica bem confortável e leia com atenção as histórias contadas abaixo.

HEGEMONIA NO VÔLEI FEMININO

A ESPM, por ser uma das faculdades fundadoras do JUCS (Jogos Universitários de Comunicação Social) e ter times muito fortes, sempre rivalizou com os Reis da PV ao Fundão, e essa rivalidade se acirrou ainda mais em 2016, com seguidos confrontos no vôlei feminino.

Tudo começou com uma vitória do time da Federal no Super 15, campeonato disputado no segundo semestre de 2015. Após a ocasião, as duas equipes ficaram frente a frente em abril de 2016, na final da Liga Univerteams, com mais um triunfo das nossas guerreiras — dessa vez, muito suado, no tie break por 16 a 14. Pouco mais de um mês depois, elas voltaram a se enfrentar, agora pela maior competição do ano, o JUCS. Os consecutivos êxitos da UFRJ trouxeram um tom de revanchismo, e a partida ficou muito mais dramática.

Time do vôlei feminino celebrando o título da Liga Univerteams, em abril de 2016

O jogo se desenrolava como o esperado: extremamente equilibrado, sendo decidido em um detalhe. Esse detalhe, na ocasião, foi a torcida do Tubarão. De alguma forma, os torcedores descobriram o nome de uma das jogadoras da ESPM, e ficaram gritando seu nome o jogo todo, desestabilizando a atleta. O fato inusitado foi lembrado pela líbero Maria Carolina Sampaio.

“Acho que a melhor parte, o que mais me lembro do jogo foi a participação da torcida (risos). Alguém descobriu o nome de uma jogadora da ESPM, a Tereza, que estava errando muito passe. Daí a torcida começou a gritar “saca na Tereza!”, sendo que a gente que estava em quadra nem sabia quem era a tal da Tereza. Foi muito engraçado, a gente ficava se perguntando quem era e como eles tinham descoberto. No final das contas a torcida tirou a Tereza de jogo”, disse.

Já a central Katryn Dias fez questão de ressaltar a boa atuação do time, apesar da ajuda da torcida: “A gente entrou muito forte, então elas sentiram o jogo e depois sentiram a torcida também”

O jogo acabou com vitória da UFRJ por 2 sets a 0 e, devido aos triunfos anteriores, os torcedores começaram a cantar, em alto e bom tom, “um dos três, essa porra é freguês!”, logo após a famosa overdose, comemoração típica das equipes russo-negras, como mostra o vídeo abaixo.

O SÁBADO DOS BASQUETES

O que se pode fazer em menos de um segundo? Bom, quase nada, né? Mas no jogo do basquete masculino essa foi a diferença entre o céu e o (quase) inferno. A partida foi disputada ponto a ponto durante todos os quartos, e o ala-pivô Felipe Mittelman falou sobre a importância que a equipe dava para esse jogo: “A gente tinha perdido para eles na semifinal dois anos antes, praticamente na última bola. E grande parte da galera que estava no jogo, estava naquele de 2014, então era uma revanche para a gente”

Apesar de estar na frente no último quarto, o time deu mole e deixou a ESPM empatar. Com o relógio quase zerado, o melhor jogador e cestinha dos rivais sofreu uma falta, e foi cobrar o lance livre. A festa, que já estava sendo celebrada pela Federal, virou de lado, e os seguidores do Jacarito já comemoravam a provável vitória. Afinal, era praticamente impossível seu melhor jogador errar dois lances livres seguidos.

Mas aconteceu. Ambos foram no aro, e o ginásio explodiu com os torcedores de laranja e preto, que agora acreditavam cegamente na vitória. Jogo terminado. 49 a 49. Prorrogação. Mais tensão pela frente, mas, dessa vez, com final feliz: 58 a 55 para a Maior do Rio. Todos estavam em êxtase e, nesse momento, alguém puxou: “A ESPM amanhã não joga e perde sempre pra UFRJ” e, em questão de minutos, todos cantavam sem parar o cântico que ironizava os rivais, que haviam perdido todas as semifinais do dia e não jogariam no domingo, dia das finais.

Luan Knaya em ação pela UFRJ (Foto: Pedro Fávero)

Engana-se, porém, quem acha que a participação da torcida se resumiu a criação dessa música. Uma história no mínimo curiosa acontecia paralelamente ao jogo, nas arquibancadas. O banco de reservas da ESPM ficava perto do local onde nossa torcida estava e, toda vez em que eles pediam tempo — ou nos intervalos entre os quartos — a Bateria Zuêra chegava do lado de onde eles estavam e tocava todos os instrumentos o mais forte que podia, para distraí-los. Vendo isso, alguns torcedores adversários atravessaram o ginásio e vieram para o lado da torcida do Tubarão, afim de fazer um cordão para impedir que a bateria chegasse perto do banco. Isso gerou uma tremenda confusão, que quase terminou em briga. Matheus Meyohas, ala-armador do time de basquete, lembrou de um inusitado acontecimento: “Acho que o Kinho lambeu a cara do Fontes, da ESPM”.

Foto icônica do momento em que Marcus Padilha (Kinho) lambeu o rosto de um integrante da torcida da ESPM

Com os nervos à flor da pele, o jogo do basquete feminino começou logo depois, contra o mesmo adversário. Também muito igual, a partida foi tensa do início ao fim, mas confirmou o fim de noite perfeito para a universidade que carrega a Minerva no peito: mais uma vitória das atletas de ComArtes UFRJ e a consolidação da música que alfinetava as adversárias da Rosário.

“Não joguei nessa ocasião, mas me lembro da alegria de todas ao final da partida. Comemoramos demais, todo mundo se abraçou, chorou junto. Era um sentimento muito bom de união. Quem ficava ali no banco torcia tanto que arriscava tomar esporro do árbitro (risos). Foi realmente uma sensação de alma lavada sair do ginásio com a galera entoando o ‘a ESPM amanhã não joga, e perde sempre pra UFRJ’” conta Maíra Macedo, pivô da equipe.

A ala-armadora Isabela Jaloto também falou sobre a sensação do jogo.

“Tinha o bônus de ser o último jogo da noite. Terminamos o dia com dobradinha do basquete em cima da ESPM e com legado musical (risos), a sensação foi muito boa”

A ex-presidente da Atlética, Marina Menezes, nos contou como a música foi além da simples zoeira com os rivais.

“Até as nove horas da manhã (depois da festa) tinha gente cantando “ a ESPM amanhã não joga, e perde sempre pra UFRJ”, e ficou um lema muito legal. Foi uma coisa que eu acho que uniu muito a delegação”

O JUCS começa em menos de uma semana e, depois de ouvir essas histórias, você ainda tem dúvidas da diferença que a torcida faz nos jogos? Então trate de aquecer as cordas vocais e cuidar bem da garganta, porque vamos precisar da voz de cada um de vocês para empurrar os times rumo ao título Geral. Porque, se depender dos torcedores, a ESPM não joga no domingo de novo.

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Felipe Angelicci
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Estudante de Jornalismo na UFRJ. Escrevendo sobre qualquer assunto que mova meu coração.