OPINIÃO: “Carta às minhas jogadoras favoritas (parte 2)”, por Marina Menezes

Atlética ComArtes UFRJ
blogdobruce
Published in
5 min readJul 1, 2018
Vôlei feminino da ComArtes UFRJ no JUCS 2018

Pouco antes do JUCS 2016, a nossa musa do bloqueio, Katryn, escreveu uma carta emocionante para o time do vôlei feminino (é sério!). Nela, falava sobre como, mais importante do que ganhar, era sobre estar com pessoas e conseguir dar nosso melhor em quadra, juntas e sorrindo.

Nós vínhamos de uma amarga derrota em 2015. E, nesse JUCS de Campos dos Goytacazes, um jogo que poderíamos ter ganho, mas perdemos, nos impediu de chegarmos à tão almejada final. Mas essa derrota foi diferente, porque ainda que perdendo, nós conseguimos nos ver como um (bom) time!

Ao enxergarmos isso, passamos a trabalhar incansavelmente para sermos o melhor time que poderíamos ser. Se antes tínhamos afinidades, passamos a ser amigas/família. Nos deslocávamos por todo Rio de Janeiro se fosse preciso. Nos metíamos em treinos alheios, dobrávamos os nossos e ainda tinha dias em que sobrava energia para uma pelada amiga. Tinha gente vindo do Recreio, Curicica, Vila Isabel, Tijuca, Laranjeiras, Ipanema, São Gonçalo, entre outros. E tinha treino às 8h, às 12h, às 19h, às 21h. Aos domingos, às segundas-feiras ou aos sábados. Não tinha tempo ruim e, quando tinha, a gente achava um tempo para comer e resolver.

Muitas vezes, fico sem palavras para descrever o que a gente se tornou ou, às vezes, acho que foi um processo tão natural que falar sobre não faria sentido — fica visível a olhos nus. Eu costumo dizer que nosso grande mérito é ser de fato aquilo que os outros veem, sem mistérios ou presunções: somos em quadra o que somos fora dela, seja a amizade, as superações ou, até mesmo, os defeitos.

Nesse tempo em que dedicamos nosso tempo e esforço em estar juntas, construíamos, paralelamente, algo sólido e duradouro também em quadra. E aprendemos com a sensibilidade (ou a falta dela) a encontrar em nós mesmas a solução para nossos pontos fracos. Se alguém desmoronava, logo era reerguida. Se alguém não estava bem, logo era motivada por alguma palavra. Era ter confiança em quem estava ao seu lado em quadra e ter a tranquilidade de saber que, no banco, tínhamos atletas tão competentes quanto aquelas que estavam jogando.

Essa confiança, que conquistamos ao longo dos nossos treinos intensos e jogos, foi o fio condutor de nosso crescimento exponencial nos últimos anos. Ela foi essencial para criar um espaço de verdades e superação. E, claro, incluo em todos esses aspectos a participação fundamental da nossa comissão técnica que era a primeira a ver na gente todo potencial que tínhamos. E no qual a gente começou a acreditar também.

Somados, esforço, confiança e dedicação formaram a tríade que levou a gente para um novo patamar. Entretanto, acabamos caindo no JUCS 2017 para o forte time da FACHA, ainda que em nosso elenco não houvesse uma atleta federada. Apesar de perdermos, nesse jogo, foi visível nosso amadurecimento.

Desde o meio do ano passado, as atletas que chegavam pareciam completar, com precisão, esse quebra cabeça que está em constante transformação. Assim, se fortaleceu ainda mais esse coletivo. Nesse novo momento, criamos dois ou três times completos e equilibrados: tínhamos a incrível marca de 22 atletas treinando. Chegamos ao JUCS 2018 mais leves do que nunca. Parecia que finalmente tudo fazia sentido e que estávamos conscientes do que era preciso fazer para atingir nosso objetivo. Bastava, então, colocar em prática.

Em nosso caminho, havia jogos que iriam testar todo esse preparo e evolução. O primeiro adversário, a ESPM, com todo histórico de confrontos e por ser um time qualificado dentro de quadra e uma torcida expressiva fora dela. Em seguida, a UVA, que era o último fantasma do qual precisávamos nos livrar. Por fim, a PUC, um time com boas peças e que havíamos derrotado pela primeira vez menos de seis meses antes. Era preciso confirmar essa vitória. Passar cada confronto era como expurgar qualquer tipo de dúvida de que a gente caminhava para o lugar em queríamos (e batalhamos tanto) estar.

Por toda essa trajetória, uma grande aliada esteve sempre presente: nossa torcida. Sempre tivemos na torcida um grande apoio e uma grande fonte de inspiração. Em todo final de jogo, sentíamos que eles realmente haviam sido tocados e se empolgavam com o nosso jogo — as vezes era mais tenso do que necessário, confesso. Em algum, essa torcida era determinante pra levar o time para frente. A troca era e é sincera. Na derrota ou na vitória, sempre encontramos na torcida um motivo a mais pra se doar. E nesse JUCS não foi diferente.

Como se houvesse sido combinado, entramos em quadra com uma sintonia incrível entre torcida, time e banco, como se fôssemos um só em quadra. Entramos mostrando aquilo que sempre quisemos: fomos para vencer. E só vencemos porque não jogamos individualmente, jogamos por nós e por todo trabalho que tivemos todos esses anos.

Jogamos com a seriedade de quem sabe que para um fim, há um meio. E me deu orgulho ver cada ponto conquistado nesse caminho, toda a força de quem entrou em jogo, cada comemoração, cada esporro que surtiu efeito. Foi lindo, mais uma vez, compartilhar essa aventura com vocês. Foi gratificante perceber que temos um bom futuro garantido e que promete ser tão brilhante.

Me perguntaram se a medalha de ouro estava pesando no meu pescoço. Pensei, pensei e só consegui responder: como pode pesar algo que a gente lutou tanto para conquistar? O ouro está onde deveria estar. Até porque, essa foi apenas a materialização da nossa maior conquista: um time unido e que tem certeza que se deixar cair pro volume, não vai deixar fácil.

Eu amo muito vocês e tudo que compartilhamos a todo momento. Vida longa ao vôlei feminino e que esse seja apenas o começo do que vamos conquistar!

*Carta publicada por intermédio de Lucas Mathias, redator do Blog do Bruce

--

--

Atlética ComArtes UFRJ
blogdobruce

Perfil oficial da Atlética de Comunicação e Artes da UFRJ no Medium.