Vai ter Mãe na Universidade Sim: Torcida Cardume conversou com mães estudantes para entender melhor essa realidade

Marcela Angelloti
blogdobruce
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5 min readJul 2, 2021

Comemoramos o Dia das Mães em maio, em um dia todo dedicado a elas, um momento para celebrar o amor, o carinho, o cuidado e o aconchego que tanto proporcionam aos seus filhos. Sabemos que muitas delas, para além de todas as responsabilidades que a maternidade traz, também são estudantes e, pensando nisso, o Coletivo Feminista da Atlética de Comunicação e Artes da UFRJ foi buscar entender melhor quem são elas e o que é ser mãe na universidade!

Ser mulher e buscar uma vida profissional, em pleno 2021, ainda é um espanto para muitas pessoas, imagina sendo mãe. São muitas funções: trabalhar, tomar conta das crianças, realizar as atividades domésticas, cuidar de si e estudar. A imagem é de uma supermulher, mas a realidade é o cansaço, o acúmulo de jornadas de trabalho, a dificuldade em acompanhar as aulas. Segundo a Pnad Contínua Educação 2019, uma a cada quatro mulheres entre 14 e 29 anos abandonaram os estudos pela gravidez. Sem a ajuda e apoio da família, companheires e das instituições de ensino, elas podem não alcançar o tão sonhado diploma.

O Ministério da Educação garante alguns direitos, como: as professoras e servidoras têm licença-maternidade remunerada de seis meses; as estudantes de graduação têm regime domiciliar de três meses, a partir do oitavo mês de gestação, segundo a Lei 6.202, de 1975; pesquisadores de pós, com bolsa Capes ou CNPq, têm a suspensão das atividades garantidas por 120 dias, também podendo registrar a causa no Currículo Lattes (antes de 2019 isso não era possível e muitas mães pesquisadoras ficavam com um vácuo nas suas pesquisas o que prejudica possíveis investimentos e contratações); e, ainda, assegura à circulação e amamentação nas instituições.

Mas isso ainda é pouco quando as próprias universidades, em geral, não possuem espaços adequados para acolher essas mães e seus bebês: falta acesso à fraldários, faltam regulamentações que permitam o livre acesso dos filhos nas salas ou em restaurantes universitários, falta auxílio e incentivo. Eleonora Ziller, presidente da AdUFRJ, viveu essa experiência e relembra que o único momento da sua vida em que se sentiu diferente em relação aos homens foi quando teve filho pois, ao contrário de seus colegas que mantiveram normalmente seus estudos e pesquisas, ela precisou parar.

Nosso coletivo ouviu duas mamães estudantes da UFRJ que, apesar de todas as dificuldades, são um exemplo de força e perseverança!

Marise, mãe do Caio e da Juju, é formada em Química Industrial pela UFRRJ. Sua escolha pela Química se deu por procurar melhores oportunidades no mercado de trabalho.

Após estar trabalhando, ela decidiu fazer a segunda graduação em arquitetura pelo seu amor ao curso. Começou a faculdade na Rural e, quando decidiu que estava na hora de ser mãe, pediu transferência para a UFRJ para facilitar sua vida e conciliar a maternidade com os estudos e o trabalho.

Ela conta que depois de dar a luz aos seus filhos trancou o curso por dois períodos, nas duas gestações, para se dedicar ao primeiro ano da criança, que é o mais delicado.

Marise, diferente de muitas mulheres, teve apoio familiar em sua decisão de cursar uma segunda faculdade enquanto cuida dos filhos. Apesar disso, ela ainda sofreu situações preconceituosas por parte de professores do curso.

“Já levei meus filhos pra aula, já recebi conselhos de professores para largar isso aqui e cuidar das crianças em casa, teus filhos estão lá esperando você. Aquele tipo de preconceito que se você tá aqui, tá deixando seus filhos largados com alguém.”

Para ela, o que falta por parte da universidade é uma maior empatia. Mães estudantes não querem privilégios e nem querem um tratamento diferenciado, apenas procuram ser respeitadas. Ser diminuída por ser mãe é uma realidade no ensino superior e mulheres ainda são julgadas por não estarem em casa cuidando dos filhos.

Ser mãe e estudante também é uma posição que carrega muitas dúvidas e conflitos internos. São questionamentos sobre tempo dedicado às crianças e à graduação, é estar o tempo todo tentando equilibrar esses lados, além de precisar saber quando cuidar de si também. Ela conta que depois de dar a luz aos seus filhos trancou o curso por dois períodos, nas duas gestações, para se dedicar ao primeiro ano das crianças, que é o mais delicado.

“A camada Marise mãe hoje é a prioridade número 1. A camada Marise mãe é inegociável e tem tido um grande peso, porque faltam 3 anos para terminar e pode parecer pouco para um jovem mas para mim 3 anos é praticamente a primeira infância dos meus filhos. Isso pesa muito: o quanto eu vou perder de experiência com ele por ter que me dedicar aos trabalhos da faculdade? É uma briga de consciência muito forte.”

Caroline é estudante de História da Arte na UFRJ e mamãe da Helena, de dois anos.

Na entrevista para o Coletivo Cardume, Carol comentou sobre como é difícil conciliar todas as camadas de sua vida com a maternidade: “A impressão que fica é que tem sempre alguma coisa que está ficando de lado e que é impossível dar conta de tudo”. Ela conta que por um momento, achou que não conseguiria seguir com seus estudos.

Caroline confirma que há falta de acolhimento e estrutura nas universidades para alunas mães, como sala para amamentação e fraldário, por exemplo, pois muitas mamães se sentem mais tranquilas e seguras quando seus filhos vão para faculdade com elas. Ela diz que o processo de obter a licença maternidade é longo e bastante burocrático e, por isso, muitas alunas desistem de concluir seus estudos na faculdade.

Apesar disso, ela conta com a rede de apoio de sua família e do namorado para ajudá-la e se sente orgulhosa por estar conseguindo levar tudo na medida do possível, mesmo que seja cansativo.

“Eu acho que eu tive muita sorte por ter muito apoio familiar e do meu namorado, sei que não são todas as mulheres que contam com isso. Nesse sentido, me considero privilegiada.”

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