A estratégia do PSDB pra dar um xeque-mate em você de novo — em 5 passos

Com a internet, não dá mais pra confiar na falta de memória do povo. E o PSDB já sacou isso.

Patrício
Blog do Patrício

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2018 é a grande incógnita. Lula vai se candidatar? Bolsonaro vai crescer ou cair? Marina vai se apagar de vez ou renascer nas cinzas? Ciro vai decolar? Alckmin? Serra? Aécio?

Com tantas incertezas, está impossível ler o Brasil do jeito certo. Todo mundo tem uma opinião — e até mesmo os que têm maior credibilidade não se safam de errar feio em suas previsões.

É sem dúvidas um momento histórico fervilhante, sobre o qual estudiosos se debruçarão por séculos na tentativa de compreender o que realmente aconteceu durante o Golpe de 2016.

E como tá todo mundo errando mesmo, não vou me furtar de dar minha opinião. É pura teoria da conspiração ou tô acertando em cheio? Só os historiadores poderão me julgar.

Antes, um preâmbulo.

O PSDB, que saiu da eleição de 2014 com o título de maior opositor aos partidos de esquerda, colheu os frutos do antipetismo por algum tempo. Mesmo que essa mudança de imagem tenha sido totalmente adversa ao que o estatuto do PSDB prega como posicionamento político.

Pra quem não sabe, a origem do PSDB é na esquerda. Mas isso foi antes de Aécio e sua gritaria por moral e bons costumes na eleição de 2014. Hoje, o PSDB exibe Doria como seu carro-chefe — por mais embaraçoso que isso seja para lideranças internacionalmente respeitadas como FHC.

Pois bem. Veio o impeachment, os cargos, a agenda ultraneoliberal. E estava tudo ótimo pra Aécio, Alckmin, Serra e cia. Mas aí vieram as denúncias contra Aécio, a impopularidade de Temer (e as denúncias, e as votações, e a compra de deputados).

E as pesquisas.

Lula em primeiro sempre. Lula como única opção. Lula como liderança natural de um povo insatisfeito como nunca com os rumos do país. Bem, parece que a tese de que houve uma aliança entre todos os partidos para livrar o Brasil da corrupção do PT não colou.

Hora de arregaçar as mangas e refazer a estratégia. Porque 2018 tá batendo na porta. Porque as redes sociais teimam em relembrar a todos os escândalos, as opiniões descabidas e as mentiras dos políticos. E também porque não dá pra confiar só na estratégia de tirar Lula da jogada através do Moro.

Sabe por quê? Porque Lula é bom de transferir votos.

Pra quem não lembra, Dilma amargou o fiasco de 14% de intenções de voto nas primeiras pesquisas para 2010 (quando concorreu pela primeira vez à Presidência da República). E os números mostravam uma candidatura em queda livre.

Mas aí ninguém contava com o fator Lula. Através do seu carisma e dos resultados que o PT ostentava no Governo, Lula conseguiu transferir um pouco da sua altíssima popularidade para Dilma. E ela venceu.

E se Lula não se candidatar, mas apoiar alguém? E se o milagre da multiplicação de votos ocorrer de novo? Foi aí que o PSDB acordou.

O povo não quer a direita. Em linhas gerais é isso. O povo já percebeu a diferença. A narrativa do Golpe colou. Golpistas não passarão.

Então o que fazer?

Bem, o PSDB saiu na frente e iniciou sua estratégia meticulosa para apagar da história a carranca enfurecida de Aécio berrando pra Dilma que ela era uma mentirosa — carranca esta aplaudida por muitos, mas agora totalmente condenável uma vez que virou o símbolo desse Golpe: homens se passando por baluartes da moral enquanto roubam sem nenhum remorso.

É hora de mudar mais uma vez. E o PSDB já começou. A seguir, A estratégia do PSDB pra dar um xeque-mate em voce de novo. Vamos iniciar a partida?

Jogada 1: Transformar Lula num monstro irascível de extrema-esquerda

Li em algum livro de marketing político que só há dois argumentos numa candidatura majoritária: ou ela é a campanha da esperança, ou é a campanha do medo.

A última campanha de Dilma, em 2014, foi do medo: medo de perder o Bolsa Família, o Ciência Sem Fronteiras, os avanços sociais.

Aécio, por sua vez, começou 2014 com a campanha da esperança. A mudança, as novas ideias, um novo país. Mas aí descobriu um terceiro elemento (que andava meio adormecido desde a Segunda Guerra Mundial): o ódio. E olha, quase deu certo.

O ódio é, sem dúvidas, o motor de muitos eleitores para votar em Bolsonaro em 2018. É o marketing da maioria calada, expressão cunhada por Nixon que foi o cerne da estratégia de Donald Trump: os que gozam de privilégios abandonam a vergonha de serem bem-sucedidos para falar contra as minorias que, teoricamente, os oprime. Sim, isso mesmo.

Mas brasileiro é diferente do americano, né? A gente tem tanta coisa pra se preocupar antes de sentir ódio — e até sente, de certo, mas nossos problemas incluem ter o que comer amanhã, por exemplo, e é difícil alimentar o ódio quando o estômago está vazio.

Acabou que tem muita gente que não concorda com o ódio. Muita mesmo. De esquerda e de direita. Pessoas que se ofendem ao ver políticos abastados berrando suas moralidade enquanto não têm o que comer. Essas pessoas querem alguém moderado. Alguém que represente o fim da raiva.

É aí que a capa da Veja denuncia a estratégia do PSDB. Leia o subtítulo:

"Com Lula e Bolsonaro liderando as pesquisas, ganha fôlego a busca por nomes do centro, como Luciano Huck e Henrique Meirelles" Veja, edição de outubro de 2017

Tem tanto absurdo nessa frase que eu nem sei por onde começar. Mas vou me deter num detalhe: Henrique Meirelles e Luciano Huck, erigidos ao posto de representantes do Centrão pela Veja, são justamente os candidatos que o PSDB está paquerando para 2018 depois que Doria naufragou.

A estratégia de fazer de Lula um monstro extremista quase deu certo em 2002. Lembram do risco-Brasil? Lula subia nas pesquisas, o risco-Brasil aumentava. Era como se eleger Lula significasse o fim do Brasil. Mas não significou. Por onde andará o risco-Brasil, hein?

Transformar Lula no Bolsonaro da esquerda faz, automaticamente, com que o PSDB pareça moderado. Inteligente, né? Mas bem fictício.

O PSDB votou com Temer em todas as reformas absurdas que foram postas em prática desde o Golpe. Reformas essas que espelham um conservadorismo social ilimitado e um neoliberalismo anacrônico, jogando o Brasil num retrocesso de direitos quase irreversível.

Sem falar que nossos políticos do centro, do centrão mesmo, são justamente capitaneados pela bancada BBB (boi, bala e Bíblia), bancada esta responsável por excrescências conservadoras que beiram o fascismo.

Ah, sim, e não esqueçamos do apoio do MBL a Doria (moderados, sério?) e do Escola Sem Partido, projeto que prevê punição a professores por supostas doutrinações ideológicas em sala de aula (!!!) e é o carro-chefe de um deputado federal do PSDB: o potiguar Rogério Marinho.

Jogada 2: Descolar-se de Temer o quanto antes

Não é só FHC que está falando. É meio que um consenso no PSDB que se aliar a Temer foi um erro. Mas é bem fácil concluir isso depois de tudo que aconteceu, né?

A verdade é que o PSDB percebeu a merda que fez e pretende desembarcar do Governo Temer antes que a coisa afunde totalmente. Mas tem um detalhe, escondido lá no meio do artigo que FHC publicou na Folha e repercutiu por toda a imprensa: o PSDB pretende sair do Governo se comprometendo a votar com Temer em todas as reformas em pauta.

Ou seja: a gente sai, mas não sai.

É só um joguinho eleitoral mesmo. Porque o PMDB não tem um candidato viável para 2018 e o PSDB acha que ainda consegue alguém. Nem que seja o Luciano Huck.

O PSDB se descola de Temer para as eleições, mas continua ajudando o PMDB a tocar essa agenda devastadora que vem tirando direitos, aumentando a desigualdade e acabando com as conquistas sociais dos últimos anos.

Tudo fica ainda mais absurdo quando você lê a jogada 3.

Jogada 3: Reposicionar-se como partido de centro-esquerda (pode rir)

Link: https://www.cartacapital.com.br/politica/para-corrente-do-psdb-impeachment-de-dilma-nao-deveria-ter-ocorrido

Essa semana descobri a existência de Fernando Guimarães, líder da Esquerda Pra Valer (grupo dentro do PSDB que se autointitula de esquerda). É sério. Para a Carta Capital, o esquerdopata tucano disse sobre a farsa do impeachment de Dilma: "Não foi golpe, mas não deveria ter acontecido".

Em outras palavras, Fernando Guimarães falou a mesma coisa que FHC: a gente sai do Governo, mas continua votando com eles. Tá bem claro, né? A estratégia é mudar a imagem, mas permanecer o mesmo.

Nessa entrevista, o líder da Esquerda Pra Valer do PSDB resgata a memória do partido, fala das origens, do estatuto, do programa partidário, sempre comprovando que o PSDB é de esquerda. Mas pense comigo: você acha que o PSDB deixaria um membro do partido dar essa entrevista se não tivesse identificado que a direita deu ruim?

O mais legal do resgate que Fernando Guimarães faz sobre o passado de esquerdopatia do PSDB é notar que nada, absolutamente nada que o partido faz hoje é de esquerda. Desde votar a favor da Reforma Trabalhista até a tentativa de viabilizar Doria com o apoio do MBL.

E o que conta é hoje, né, migos?

Jogada 4: Fazer um mea-culpa, mesmo que seja meia boca

Oficialmente, enquanto instituição, o partido tem se posicionado assim: erramos e queremos consertar. É um posicionamento maduro que nenhum partido teve até então, e combina com a postura do PSDB.

O problema é que o ponto deflagrador dessa postura humilde do partido foram as denúncias irrefutáveis contra o Senador Aécio Neves, então presidente do PSDB.

Nenhum pedido de desculpas pelo Golpe. Ou pelo apoio a Temer. Pelos votos a favor da Reforma Trabalhista. Ou pela Reforma da Previdência. Ou pelos direitos roubados do brasileiro. Pelo silêncio diante das denúncias contra o Presidente Golpista.

Não, eles estão pedindo desculpas por Aécio. Entretanto, nos bastidores, Aécio segue dando as cartas após o partido criar uma verdadeira crise entre Legislativo e Judiciário para salvá-lo.

Que mea-culpa é esse que o PSDB faz pra sociedade salvando Aécio de qualquer punição? Qualquer mesmo: interna, externa, da opinião pública.

Mesmo com todas as provas incontestes, Aécio continua sendo presidente do PSDB! Presidente, pessoal. Inclusive, é ele próprio quem decidirá a hora de sair, como fica bem claro nesta notícia:

Mea-culpa assim até eu faço, tá?

Jogada 5: Buscar um nome que decole nas pesquisas

Diante desse novo momento em que Aécio é um nome inviável para 2018, Doria despencou para 5% de intenções de voto, Serra segue o padrão de nunca decolar e Alckmin continua não dizendo a que veio, o PSDB quer alguém do centro.

Alguém como Luciano Huck, amigo íntimo de Aécio Neves e representante-mor do jovem adulto coxinha, que tem sua visão de mundo obliterada por seus privilégios sociais.

Ou Henrique Meirelles, atual Ministro da Fazenda, nome mais conhecido por ser um seguidor fiel das regras do mercado acima de qualquer benefício social, alem de estar envolvido em negócios no mínimo escusos.

Que centro é esse? Confesso que tenho vontade de continuar a sentença dizendo que é o centro do olho dos nossos ânus, mas serei mais elegante: o que o PSDB quer é voto, independente das incoerências do seu discurso. O PSDB luta para sobreviver. E só.

Quantos xeque-mates você aguenta?

As eleições de 2018 podem marcar o fim do Golpe ou a confirmação dele. Ninguém realmente sabe o que pode acontecer.

Lula está bem nas pesquisas, mas que tipos de alianças terá que fazer para garantir a todos os setores da sociedade uma governabilidade mínima? E se for eleito, vai assumir? E se assumir, vai conseguir governar? E se conseguir, vai concluir o mandato?

Aécio parece fora do jogo, mas não esqueçamos que foi pra salvar o nome dele da fogueira que o Congresso Nacional enfrentou a autoridade do STF sem constrangimentos. Poder ele tem. Muito.

Bolsonaro parece que chegou no topo do que conseguiria de votos, mas alguém duvida que o discurso de ódio possa arregimentar mais seguidores nos próximos meses?

E ainda tem os outros. Doria, Marina, Ciro, Luciano Huck, Henrique Meirelles. Tá praticamente um Game of Thrones.

Por tudo isso, 2018 será um divisor de águas na história do Brasil. Será nessa eleição, digitando alguns números, que o você vai responder à pergunta que não quer calar:

Depois de tudo que aconteceu de 2014 pra cá, a gente aprendeu alguma coisa?

Só os historiadores saberão a resposta certa.

Gostou? Então bate palmas 👏 aí embaixo pra esse texto ser visto por mais pessoas.

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Patrício
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Escritor, jornalista, publicitário, roteirista. Autor dos romances “Lítio” e “Absoluta Urgência do Agora” e da coletânea de contos “A Cega Natureza do Amor”.