Eu e tu

Patrício
Blog do Patrício
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2 min readMar 2, 2017

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Estando eu e tu despidos, podemos finalmente ser sinceros.

Austeros.

Inteiros.

Podemos rir de nossas gorduras, beijar nossos defeitos, despertar nossas reentrâncias e seguir adiante.

Podemos fazer poema do que é carne e nos canibalizar — afinal, o que realmente importa, nem mais disfarçamos, é nos celebrar um no outro.

Estando eu e tu despidos, podemos nos provocar a dor.

O ardor.

O andor.

Podemos sacralizar para blasfemar sem medo do pós-vida, esse segredo.

Podemos entregar o que guardamos sem nem saber por quê — esses mistérios que a terra nos impõe como instinto de sobrevivência.

Estando eu e tu despidos, podemos finalmente ser colonizadores.

Coronéis.

Cruéis.

Podemos atingir um ao outro com a força de mil planetas e por fim nos implodir num só naco.

Podemos os imponderáveis. Os impossíveis. Os indubitáveis.

Podemos, quem diria?, sermos quem somos de verdade. A tarefa mais dura de todas.

Estando eu e tu despidos, podemos ser bardos.

Bêbados.

Bebês.

Podemos estourar nossas bocas uma na outra. Estourar nossos peitos. Nossos pleitos.

Estourar o guardado para que se exploda em nossas faces.

Estando eu e tu despidos, que maravilha esse dom de te ver.

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Patrício
Blog do Patrício

Escritor, jornalista, publicitário, roteirista. Autor dos romances “Lítio” e “Absoluta Urgência do Agora” e da coletânea de contos “A Cega Natureza do Amor”.