O que está por trás do perfil empresarial anunciado pelo Instagram

Mark Zuckerberg não dá ponto sem nó — e dessa vez não será diferente

Patrício
Blog do Patrício

--

Se tem uma coisa que podemos afirmar com muita segurança é: o Facebook é muito esperto. E essa esperteza é tão grande que se passa por benevolência sem levantar desconfianças.

O pacote de bondades anunciado esta semana para empresas que estão no Instagram é mais uma prova disso. É tanta vantagem que faz a gente pensar: nossa, que empresa ótima. Ledo engano.

Por trás da aparente bondade do Instagram está um plano muito bem traçado para fazer dessa rede mais uma mina de ouro de Mark Zuckerberg.

Hoje o Instagram é uma bagunça. Empresas criam perfis e promovem suas vendas para seus seguidores sem que o Facebook consiga nenhum controle acerca da quantidade de negócios e transações que passam pela rede.

Tem gente vendendo camiseta, bijouteria, artigos eletrônicos, bugingangas — mas também tem empresas enormes usando a rede para se relacionar e construir suas imagens.

O Facebook já foi assim. Anos atrás, empresas passaram a criar perfis na maior rede social do mundo e usá-la como um excelente canal de relacionamento e motor de vendas.

O Facebook agiu rápido: criou as páginas e estimulou as empresas a abandonarem o perfil pessoal com um pacote de bondades: migração de seguidores, estatísticas detalhadas, relatórios de engajamento etc. Um grande pacote de bondades.

Era uma festa para empresários acostumados a nadar no mar sem informações das redes sociais. Mas aí veio a ressaca.

Com a rede devidamente organizada (pessoas em perfis, empresas em páginas) foi bem fácil alterar o algoritmo para diminuir a visibilidade das empresas no feed. Isso aconteceu há pouco tempo. Mas aconteceu.

Agora quem quiser ser visto no Facebook tem que promover. E promover significa anunciar. E anunciar significa receita. Uma jogada de mestre que o Facebook orquestrou lá atrás, quando criou as páginas e estimulou as empresas a fazer a migração.

Agora é a vez do Instagram.

O projeto Instagram Business Tools, que já está sendo liberado para empresas dos Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália, promete entregar às empresas que migrarem para perfis empresariais dados importantes: número de visualizações e alcance de uma publicação, número de contas que tocaram no link do site do perfil comercial e atividades dos seguidores como média de vezes em que estão no Instagram em um dia comum.

Através desses dados, as empresas poderão planejar melhor sua comunicação, sabendo os melhores horários para postar, o tipo de mensagem que gera mais engajamento e a estratégia que devem seguir. Tudo vai deixar de ser achismo e ficar mais profissional. E é claro que isso terá um preço.

Alguém aí duvida que após essa limpeza o Instagram dará menos relevância aos perfis comerciais em seu feed?

O pacote de bondades anunciado pelo Instagram tem como único intuito separar o que é empresa do que é usuário comum. E de posse desses dados, o Facebook poderá alterar seu algoritmo como bem entender — e isso sempre significa ganhar mais dinheiro.

Aí você pergunta: o que posso fazer pra não cair nessa? A resposta é: nada, absolutamente nada.

O Facebook construiu um universo em que as regras são ditadas unicamente por eles. Por mais que alguns otimistas avaliem que a última mudança no algoritmo do Facebook fará com que empresas invistam mais em criatividade para se tornarem relevantes, a verdade é que somos reféns de Mark Zuckerberg.

Se amanhã ele decidir banir todas as empresas da rede social, por qualquer motivo que seja, ninguém pode fazer nada. E todo um mercado de social media e webmarketing criado ao redor da empresa simplesmente implodirá.

O Facebook tem mais de 1,71 bilhão de membros cadastrados ativos todo o mês, segundo seu último balanço trimestral. O número de usuários ativos diariamente é de 1,13 bilhão. É gente demais disposta a receber sua mensagem e não podemos desprezar isso.

O erro é embarcar nessa viagem sem se questionar se devemos mesmo substituir a internet pelo Facebook. É inegável que é isso que Zuckerberg deseja.

Os esforços do Facebook em manter o usuário preso em sua plataforma são imensos. Links que levam a outros sites, por exemplo, sempre têm menos visibilidade. Vídeos do Youtube compartilhados, por exemplo, levam uma surra de vídeos postados diretamente na rede social. A ideia é que você não saia dali. E isso tem funcionado.

O mercado comprou essa ideia. Quando se pensa em criar uma ação pra internet na verdade estamos criando uma ação pro Facebook — o glamour de construir hotsites e ações de engajamento perdeu para as curtidas.

Milhares de empresas chegaram ao absurdo de deletar seus sites e redirecionar seus domínios para as páginas que mantém no Facebook. Parecia uma ótima jogada em 2011. Hoje a gente entende que foi precipitado.

Agora colhemos os louros de depositar tanta confiança em uma única empresa. E o Facebook está fazendo o que qualquer outra empresa faz: tentando lucrar mais. Quem dita as regras da internet é Mark Zuckerberg.

A propósito, me segue no Insta. Enquanto Seu Zuca deixa.

Gostou? Então clique no botão Recommend ❤ e ajude esse texto a ser encontrado por mais pessoas.

Aproveita e segue o Blog do Patrício Jr pra ficar sempre por dentro das postagens.

--

--

Patrício
Blog do Patrício

Escritor, jornalista, publicitário, roteirista. Autor dos romances “Lítio” e “Absoluta Urgência do Agora” e da coletânea de contos “A Cega Natureza do Amor”.