Oscar 2017: "A Chegada"

Filme de Denis Villeneuve é muito mais que uma ficção científica sobre uma invasão alienígena

Patrício
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A sinopse de "A chegada"(EUA, 2016) nos conta: "Naves alienígenas chegaram às principais cidades do mundo. Com a intenção de se comunicar com os visitantes, uma linguista e um militar são chamados para decifrar as estranhas mensagens." É um bom resumo para a história, mas não chega nem perto do que o filme realmente é.

O grande problema é que "A Chegada" é daquelas raras histórias que transforma qualquer tentativa de resumi-la em um potencial spoiler. Vou ter bastante cuidado ao escrever esse texto.

O filme é inspirado no conto História da sua vida, que dá nome à coletânea inédita do escritor Ted Chiang (que será publicada no Brasil pela Intrínseca em novembro deste ano). Isso e bem impressionante: o universo que "A Chegada" descortina parece ter saído de um tomo gigantesco cheio de detalhes, mas veio de um conto. Tapa na cara de qualquer escritor. Talvez por isso o filme seja um dos favoritos para o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

Na trama, Amy Adams é a Dra. Louise Banks, uma linguista conceituada que já prestou serviços ao Governo dos EUA na tradução de mensagens de terroristas. Quando os aliens chegam, é a ela que os militares recorrem para tentar decifrar os sons que conseguiram capturar de dentro das naves. O mais intrigante é que as tais naves pousam em 12 cidades diferentes do mundo, aparentemente numa escolha aleatória, e simplesmente não fazem nada. Ficam ali dias e dias sem que nenhum sinal seja emitido, nenhuma tentativa de invasão, nenhum movimento agressivo, nada. Quando a Dra. Banks aceita o trabalho de traduzir os áudios interceptados pelos militares, embarcamos num labirinto de suposições, tensões e descobertas. Muitas descobertas.

A ela se junta o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner sendo Jeremy Renner) com sua enorme curiosidade acerca de tudo que envolve a chegada dos alienígenas. De qual ponto do Universo vieram? Qual combustível usaram? A que velocidade viajaram? Como as 12 naves se comunicam entre si? Que tipos de tecnologias estarão disponíveis agora à humanidade? A todas essas questões do físico, a Dra. Banks responde com uma sentença que exemplifica bem do que se trata o filme: "E se ao invés de fazermos um interrogatório, nós simplesmente conversarmos com eles?"

De qual ponto do Universo vieram? Qual combustível usaram? A que velocidade viajaram? Como as 12 naves se comunicam entre si? Que tipos de tecnologias estarão disponíveis agora à humanidade?

"A Chegada" então mostra a que veio. Mostra por que é diferente dos outros filmes sobre invasões alienígenas. Mostra o motivo de suas 8 indicações ao Oscar (incluindo aí melhor direção pelo trabalho minucioso e exemplar de Denis Villeneuve). É que o filme é sobre isso: comunicação. E a cada cena vamos entendendo o recado: o ser humano perdeu a capacidade de se comunicar.

A melhor metáfora do filme é justamente a que envolve a comunicação. Como as naves pousaram em 12 cidades ao redor do mundo, o esforço em decodificar as mensagens e se proteger de uma possível ofensiva envolve todos os países. E nessa rede formada para proteger a humanidade tem americano, chinês, venezuelano, cada um lidando com o problema da forma como seus países, suas culturas e suas intenções determinam. Fica evidente que antes de aprender a se comunicar com os aliens, os seres humanos devem aprender a se comunicar entre si. E esse parece ser o real desafio.

Amy Adams: mais um acerto

Mais sobre a trama não conto. Só adianto que você vai se surpreender. "A Chegada" não é uma ficção científica esquemática como "Indepence Day", nem pretensiosa como "Prometeus". Fica bem ali no meio, no lugar certeiro, no tom ideal para fazer o espectador torcer, vibrar, se emocionar, se assustar, se surpreender e, se quiser ir além, refletir sobre como a intolerância dos dias de hoje vem acabando com a chance de sermos um mundo melhor.

DE ZERO A DEZ: ★★★★★★★★★✩

EM TEMPO:

"A Chegada" venceu ontem (20/02/2017) o Prêmio do Sindicato dos Roteiristas dos EUA na categoria "Melhor roteiro adaptado". Este prêmio e sempre um termômetro para o Oscar, que tradicionalmente ocorre uma semana depois. "A Chegada" tem 8 indicações ao Oscar 2017:

  • Melhor filme
  • Melhor diretor
  • Melhor fotografia
  • Melhor roteiro adaptado
  • Melhor edição
  • Melhor edição de som
  • Melhor mixagem de som
  • Melhor design

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Patrício
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Escritor, jornalista, publicitário, roteirista. Autor dos romances “Lítio” e “Absoluta Urgência do Agora” e da coletânea de contos “A Cega Natureza do Amor”.