The Invitation: um filme perturbador sobre egoísmo e generosidade

O filme da diretora Karyn Kusama consegue criar tensão do início ao fim. E isso é ótimo!

Blog do Patrício
Published in
4 min readJul 15, 2016

--

A cena inicial de “The Invitation” (2016) já é um soco no estômago. Will (Logan Marshall-Green) e sua namorada Kira (Emayatzy Corinealdi) deslizam por uma estrada à beira de um desfiladeiro enquanto conversam sobre o evento a que se dirigem.

O convite do título trata-se de um jantar na casa da ex-esposa de Will, Eden (Tammy Blanchard). O desconforto da situação se dá pelo fato de que é a primeira vez que Will retorna à casa que dividiu com Eden desde a separação.

Logo ficamos sabendo que essa separação ocorreu por causa de algo muito nebuloso que não é citado explicitamente.

No meio da estrada, o diálogo é abruptamente cortado por um forte baque. Will acaba de atropelar um coiote. Ainda que a violência seja contida através do olhar elegante da diretora Karyn Kusama, a sequência embrulha o estômago.

O coiote agonizante sob o carro precisa ser sacrificado. Quando Will desfere golpes com uma chave de roda na cabeça do animal, ainda que a câmera não mostre o ato em si, a gente sente a violência. E fica pensando: é por bondade ou por crueldade?

Elenco entrosado: todo mundo parece de verdade

É esse o tom que o filme tem: há uma violência contida em tudo que ocorre no jantar na casa de Eden, desde o momento em que Will conhece o novo marido dela, David (Michiel Huisman, mais conhecido como o bonitão Daario Naharis de Game of Thrones) até a sequência em que o jantar é servido.

Uma violência contida que vai se revelando a cada fala, a cada gesto, a cada reviravolta nessa noite que começa como uma reunião de amigos que há muito não se viam até culminar num final inesperadamente chocante.

Michiel Huisman: ele não é apenas um rostinho bonito como em Game of Thrones

Eden parece bem. Recepciona Kira com sorrisos, apresenta David com muita empolgação. Os outros convidados, amigos antigos do casal, também demonstram muita simpatia. Bebem vinho, conversam bobagens, riem do nada. Só Will parece não estar confortável com a situação.

A razão pela qual se separou de Eden, que permanece nublada durante boa parte da película, parece ser o motivo. Ou talvez haja alguma outra coisa errada na aparente perfeição daquele reencontro de pessoas queridas. Algo de errado que ainda não conseguimos compreender.

A trama de “The Invitation” segue a teoria da cebola. A cada camada retirada, uma nova revelação vai aprofundando a história. Quando Pruitt (John Carroll Lynch) e Sadie (Lindsay Burdge), únicos convidados que não pertenciam ao grupo original, se mostram pontos dissonantes naquele revival; ou quando um vídeo perturbador é exibido pela anfitriã aos convidados; ou quando Will parece não estar pronto para encarar os fantasmas do passado, as coisas vão se encaixando.

O convite começa a fazer sentido.

O elenco está afiado, com interpretações muito naturais. Chega uma hora que a gente até esquece que são atores. Todo mundo realmente parece pertencer a um grupo de amigos que não se via há tempos, o que torna a violência velada ainda mais perturbadora. Faz a gente pensar que tudo aquilo poderia estar acontecendo na nossa sala de estar, com os nossos amigos, e a gente nem perceberia.

Com ângulos elegantes, interpretações consistentes e a incrível façanha de manter a tensão do início até o fim, “The Invitation” é desses filmes que parecem falar de uma coisa mas falam de outra. No final, depois de tudo, sacrificar o coiote fica parecendo uma atitude muito generosa da parte de Will.

DE ZERO A DEZ: ★★★★★★★★✩✩

Gostou? Então clique no botão Recommend ❤ e ajude esse texto a ser encontrado por mais pessoas.

Aproveita e segue o Blog do Patrício Jr pra ficar sempre por dentro das postagens.

--

--

Blog do Patrício

Escritor, jornalista, publicitário, roteirista. Autor dos romances “Lítio” e “Absoluta Urgência do Agora” e da coletânea de contos “A Cega Natureza do Amor”.