As mulheres do puropirão conversam com a Blooks

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4 min readJul 16, 2018

Leïla Danziger, Masé Lemos e Patricia Lavelle, três mulheres, três poetas, com suas leituras insistentes para fazer uma “reflexão sobre a escrita poética em suas múltiplas interfaces — em particular com as artes e com a filosofia.” Depois de dois anos de conversas que foram amadurecendo o diálogo, o puropirão vem agora à tona e conversa com a Blooks sobre esse belo trabalho e seus desdobramentos.

Leïla Danziger, Valéria Lamego (Mediando o bate-papo), Masé Lemos e Patricia Lavelle na Blooks

Como surgiu a ideia do coletivo e o nome?

Há quase dois anos nos encontramos regularmente para pensar e trocar ideias, reflexões e leituras sobre a escrita poética em suas múltiplas interfaces — em particular com as artes e com a filosofia. Uma das primeiras leituras que fizemos foi do Paul Valéry sobre a poesia pura, então, meio de brincadeira a Masé Lemos inventou o nome “Poesia pura, meu pirão primeiro”, alimentando o debate sobre a pós-poesia contemporânea e suas impurezas. Finalmente, depuramos para “puropirão”, assim em caixa baixa, tudo junto. E assim, aos poucos, fomos sentindo a necessidade de sair da esfera privada e atuar de modo público e político. Quanto à ideia de coletivo, depois de algumas conversas entre nós, decidimos que não éramos propriamente um coletivo, pois nossa dinâmica é mais solta, talvez apenas um grupo de estudos, um quase coletivo, que sentiu necessidade de atuação pública, enfim, algo sem muita definição.

Qual o conceito principal?

O conceito principal está marcado em nosso nome: “puropirão”. O pirão é um alimento feito a partir da mandioca, planta ancestral brasileira, assim contrapomos não apenas a tradição de poesia europeia, mas também o lugar da poesia, para nós algo tangível, coisa no mundo, “pura mistura”. A partir deste conceito, giram nossas conversas sobre a poesia, como explicamos na resposta anterior. Como grupo queremos promover debates que visam sobretudo a conferir visibilidade à autoria feminina, associando escrita literária e produção intelectual. Recentemente lançamos pela 7Letras, respectivamente, “C’est loin Bagdad [fotogramas]” — Leïla Danziger, “Belo Horizontes boulevards” — Masé Lemos, e “Bye bye Babel” — Patrícia Lavelle, livros de poesia atravessados por certas geografias e afinidades eletivas. Para nós, a escrita vem sendo experimentada como “leituras insistentes” de outras poetas, em um demorado contato que insiste em abrir-se a elas. É preciso dizer que temos perspectivas bem diversas sobre poesia, acerca do fazer poético, assim como da chamada vida literária. É o atrito necessário para alimentar nossas discussões, para além das nossas convergências.

O evento que aconteceu na Blooks Rio foi o primeiro encontro público das poetas que fazem parte do coletivo. A escolha da livraria se alinha com o conceito de independente do coletivo?

A Blooks Rio vem fazendo um trabalho pioneiro e importante na promoção de debates sobre poesia e literatura em geral que ressaltam aspectos políticos do fazer artístico. Agradecemos a Blooks Rio pela acolhida e pela liberdade que nos foi dada na organização do nosso primeiro evento público.

Poetas que falam de poetas — como foi o encontro das integrantes do #puropirão e a escolha das poetas comentadas, ou melhor, reveladas: Orides Fontela, Adilia Lopes e Tamara Kamenszain ?

No dia 5 de julho de 2018, falamos de algumas de nossas filiações — Leila Danziger de Tamara Kamenszain, Masé Lemos de Adília Lopes e Patrícia Lavelle de Orides Fontela. Em seguida passamos a leituras de poemas e depois houve uma conversa com o público. A mediação foi feita pela editora e pesquisadora Valéria Lamego. A casa estava cheia, público diversificado, muitos amigos leitores de poesia, e outros que são também poetas como Lu Menezes, Paulo Henriques Britto, Simone Brantes, Luiza Leite, Maria Cecília Brandi, entre outros.

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Como vê o movimento da Blooks em lançar o Indie Blooks, plataforma para editoras e autores independentes?

Nestes últimos anos, em que as publicações artesanais — com costuras diferenciadas, dobras ou intervenções manuais diversas — vem despertando grande interesse (e mesmo edições mais tradicionais tiveram suas produções facilitadas pelos meios digitais), a dificuldade quase instransponível continua sendo mesmo a distribuição dos livros. Plataformas como a Indie intervém justamente nessa barreira para os que publicam por pequenas editoras ou de forma independente. Esse tipo de plataforma é um meio maravilhoso de encorajar experimentações editoriais e de contornar a distribuição deficitária das pequenas e médias editoras. É mesmo uma iniciativa excelente.

Quais os próximos passos?

Nosso grupo é movido pelo desejo de convivência em torno das diferentes etapas do processo de escrita, que é sempre extremamente singular, diferenciado e inapreensível. Estamos organizando uma plaquete com nossas leituras comentadas das autoras que são relevantes na elaboração de nossos projetos. O que nos interessa é desenvolver textos em registros distintos daqueles exigidos pelas revistas especializadas. Buscamos um tom bem próximo da experiência de leitura que nos move, cada uma de nós com suas dicções. Pensamos em construir interlocuções com autoras e autores que admiramos, convidando-os para estarem conosco em leituras e discussões. O mais importante é mesmo afirmar a singularidade e a potência da autoria feminina, inscrevendo-nos criticamente em diferentes tradições e evitando as armadilhas de antagonismos.

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Contemporânea e inovadora, a Blooks é uma livraria que aposta na diversidade e que encara o livro não como produto comercial mas como fonte de cultura.