Bloomsday!

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3 min readJun 16, 2018
Dublin, capital da Irlanda e do Ulisses, de Joyce. Começo do século XX.
Primeira edição de Ulisses

Hoje é o Bloomsday! Aquela data em que celebra-se, mundo afora, o Ulisses, livro do escritor irlandês James Joyce. Para quem não sabe, Ulisses é um livro de cerca de 6600 páginas que se passa num único dia, o dia 16 de junho. Narra, a seu modo, a odisseia do agente publicitário Leopold Bloom (daí o Bloomsday, Dia de Bloom), sintetizando as dores, conflitos e perspectivas humanas na jornada desse mínimo Ulisses cotidiano, transcendendo nas ruas de uma Dublin de 1904.

Você leu Ulisses? É como se fosse uma pedra fundamental da literatura contemporânea, em que quase tudo que se escreve nela se amparou de alguma forma. Muito (todos?) devem ao Ulisses, à Joyce. Seria exagero afirmar isso? Críticos, estudiosos e leitores se debruçam desde o lançamento sobre os desafios que o livro lançou. Mesmo hoje, mais de um século depois, Ulisses ainda tem muito a propor, muito a ser decifrado. É inesgotável.

Talvez você não esteja curioso a respeito desse calhamaço de 600 páginas. Mais é bom que fique curioso a respeito de James Joyce. Você pode, se ainda não o fez, conhecê-lo por meio de livros, digamos, mais fáceis. O que a gente recomendo nesse Bloomsday? Seu livro de contos, Dublinenses, que inclui o conto Os mortos, que foi adaptado para o cinema pelo gigante da 7ª arte, John Huston. Dublinenses é também um livro de Joyce sobre Dublin… Quer falar sobre o mundo? Fale sobre sua aldeia.

Joyce também escreveu poemas, que podem ser lidos nos volumes Música de Câmara e Pomas, um tostão cada, e um labirinto chamado Finnegans Wake, obra ainda mais desafiadora que Ulisses. Muitos dos seus títulos estão traduzidos para o português e disponíveis. Então comece a ler Joyce, e não precisa começar pelo topo de uma de suas duas pirâmides. Leia Dublinenses, ou Giacomo Joyce, uma curiosa e pequena oferta de amor. Não se assuste com Joyce. Lê-lo é mergulhar no conturbado século XX, cujos erros, promessas e glórias ainda pairam sobre nós, que adentramos o século XXI.

Noturno

Lúgubres na penumbra
Estrelas pálidas o archote
Amortalhado ondeiam.
Dos confins do céu, fogos-fantasmas alumbram
Arcos sobre arcos que se alteiam,
Nave pecadobreu da noite.

Serafins,
As hostes sem norte despertam
Para o serviço, até que tombem
Na penumbra sem lua,mudas,turvas, ao fim,
Assim que ela erga e vibre inquieta
O seu turíbulo.

E alto, longo, á turva,
Sobrelavada nave,
A estrela-sino tange,enquanto, calmas,
As espirais do incenso ascendem, nuvem sobre nuvem,
Rumo-ao-vazio, do venerável
Resíduo de almas

Trieste, 1915

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