De onde vem o que eu leio?

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4 min readJul 1, 2018

Texto de Toinho Castro para a Blooks Livraria

Literatura brasileira e literatura estrangeira. Esses são apenas dois dos muitos rótulos que aplicamos para falar sobre literatura e leitura. De onde vem uma e de onde vem a outra? Uma, dizem, vem de dentro, e a outra, juram, vem de fora. Mas onde fica o fora e onde fica o dentro? A gente que diz combater rótulos dificilmente escapa deles quando se trata de livro. Origens, gêneros, subgêneros. Onde fica a fronteira daquilo que você lê?

Fizemos mais uma pesquisa rápida no Instagram, ontem, sobre a preferência entre literatura brasileira e estrangeira. O resultado foi quase um empate, com vitória apertada para a literatura estrangeira.

Literatura, de dentro ou de fora, é feita por pessoas. Por acaso dos processos civilizatórios (Às vezes não muito civilizatórios. Na verdade coisas que nos fazem questionar a civilização!), essas pessoas, muitas vezes, falam um idioma diferente do que a gente fala, cresceram numa cultura distinta e enfrentaram e enfrentam desafios que não são os nossos. Ainda assim, o que essas pessoas escrevem nos diz respeito. A despeito das profundas diferenças, acontece o encontro. Brasileira ou estrangeira são rótulos de mercado, facilitadores para organizar livros na estante. Na hora mesmo de ler, as fronteiras desapartecem.

Outro dia li uma crônica de Antonio Maria chamada A noite é uma lembrança, que começa assim:

Boa Viagem, fevereiro. É de principiante isto de o cronista escrever que está numa janela de hotel, vendo a noite e fumando um cigarro. Mesmo havendo mar e sendo Boa Viagem um encontro muito desejado, não gosto da sem-cerimônia com que me faço personagem de mais uma crônica, como se eu, a noite e o cigarro ainda fôssemos novidade.

Você morando no Rio de Janeiro, sentado num banco de praça em Paris, ou no seu quarto em Berlim, não é difícil imaginar a si próprio na janela, contemplando a noite de uma cidade querida, talvez sem cigarro, mas participando desse sentimento universal que Maria evoca em sua crônica. Mesmo um brasileiro lerá Boa Viagem, sem saber exatamente do que se trata, certamente um lugar, e poderá mergulhar na nostalgia da cena e por um momento criar esse vínculo, essa empatia. Alguém mais curioso pesquisará no Google por Antonio Maria e logo descobrirá que Boa Viagem é uma praia da cidade do Recife, onde o cronista nasceu e viveu antes de migrar para o Rio de Janeiro.

Conhecer é o outro é derrubar fronteiras.

Essa experiência você teve com autores de fora e de dentro, não é verdade? Morar em Pernambuco e ler um conto de Dalton Trevisan é mergulhar no outro, no estrangeiro, numa Curitiba peculiar, desenha por Trevisan. O mesmo vale para quando a gente lê e travessa a América de um Walt Whitman. O Zimbábue de Rutendo Tavengerwei vai te acertar o coração com uma intensidade, como se você pudesse pegar na mãe dela enquanto ela escreve.

Então perguntar se você prefere brasileira ou estrangeira é uma provocação para você pensar na leitura, no último livro, talvez, que te marcou ou que você acabou de ler.

E para provocar ainda mais trazemos aqui uma seleção IndieBlooks de livros de literatura brasileira e estrangeira, seja lá o que isso signifique, para você continuar rompendo fronteiras e lendo o outro, se encontrando, de alguma forma, naquilo que ele é, naquilo que ele escreve.

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