Gustavo Faraon, da Dublinense e Não Editora, conversa com a Blooks sobre Indie na literatura

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4 min readJun 8, 2018

A Dublinense e a Não Editora são duas editoras de destaque quando falamos em publicações independentes. Parceiras da Blooks em iniciativas como o Indie Book Day, ambas são capitaneadas por Gustavo Faraon, que bateu um papo com a gente sobre o mercado de livros independentes!

Como vê a movimentação dos Indie hoje?

Acho que hoje tem muita coisa interessantíssima acontecendo, mas muitas delas mais focadas em nichos específicos. Então não é incomum você, de repente, se deparar com um trabalho incrível e ficar se perguntando como é possível que ainda não conhecia. A quantidade de iniciativas diferentes, provocativas, inovadoras, é enorme. E é fácil ver isso na explosão recente de feiras dedicadas aos independentes e alternativos, desde aquelas com uma abordagem mais voltada para a produção gráfica até as mais abertas à literatura dita convencional.

O que é Indie o que não é?

Bom, aqui o papo é complicado e as visões são múltiplas. Gosto de pensar que o editor independente é aquele que assume integralmente os riscos, editoriais e financeiros, da aventura editorial que decidiu trilhar, e está de alguma maneira atuando em maior ou menor grau por fora do que vou chamar aqui de esquemão. Sei que essa visão pode significar coisas diferentes para cada um, mas vamos deixar assim mesmo. Claro que isso é só a pontinha do iceberg de uma discussão talvez sem fim. A Aliança Internacional de Editoras Independentes tem um verbete no qual tenta definir com maior precisão aquela que é a sua visão de independente.

Como vê o posicionamento da Blooks como livraria independente?

Acho importante que as livrarias, de maneira geral, tomem de volta para si a sua tarefa de serem curadores de livros, e não apenas um entreposto logístico-comercial qualquer. O trabalho do livreiro não pode ser confundido com o de alguém que simplesmente recebe caixas, lê o código de barras e passa o cartão de crédito. O livreiro tem a responsabilidade tremenda de escolher o que ele vai e, sobretudo, o que ele não vai ofertar na sua livraria (o espaço é cada vez mais limitado, ao passo que a oferta é cada vez maior); a própria disposição dos livros nas mesa, vitrinas e estantes tem uma influência brutal sobre as escolhas dos leitores e sobre as chances de determinados livros serem lidos ou ficarem para sempre empoeirando no depósito. Assim, a visão da atividade do livreiro como um ente neutro, que serve como um escoador desinteressado da produção editorial direto para o consumidor, é completamente ingênua e só serve pra manutenção dos piores esquemas, das piores práticas, dos piores modelos.

Por isso, fico realmente feliz de ver o caminho que a Blooks tem tomado. Muito mais que uma postura comercial, levantar a bandeira independente — mas, na verdade, qualquer bandeira — é fazer uma escolha. E escolher, comunicando essa escolha em forma de recomendação e em cada detalhe da livraria, é exatamente o que nenhum livreiro jamais deveria ter parado de fazer. Longa vida à Blooks!

Veja as publicações da Dublinense e da Não Editora na IndieBlooks.
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A Dublinense tem como objetivo formar um catálogo eclético, de valor literário e comercial. Temos duas caras. A Dublinense, que aposta em literatura estrangeira contemporânea, humanidades e artes. E a Não Editora, que é totalmente voltada para a literatura brasileira contemporânea, sempre com um quê de descomportamento e provocação. Desde a fundação da casa, já fomos agraciados ou finalistas dos prêmios literários mais importantes, tais como Jabuti, Portugal Telecom, São Paulo, Biblioteca Nacional e Açorianos. Dublinense é basicamente uma homenagem à cidade que é super literária, cheia de autores que admiramos e também pegamos emprestado o título daquele que era (talvez ainda seja) à época o meu conto favorito. E o nome Não Editora era uma forma de radicalizar na diferença, de negar tudo, de deixar claro que se buscava coisas que as outras editoras não queriam lá atrás, quando foi criada, há 10 anos!

Gustavo Faraon

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Contemporânea e inovadora, a Blooks é uma livraria que aposta na diversidade e que encara o livro não como produto comercial mas como fonte de cultura.