Independente

Texto de Toinho Castro, para a Blooks

Allen Ginsberg é considerado um dos grandes poetas americanos, com uma obra editada e multiplicada em muitos países e idiomas. Seu primeiro livro, Howl and other poems, foi editado pela primeira vez, em 1956, por uma pequena editora, a City Lights Bookstore and Publisher, do poeta, livreiro e ativista Lawrence Ferlinghetti.

Aqui no Brasil, no começo do século 20, em 1912, outro poeta teve sua primeira edição financiada pelo irmão. O livro chama-se Eu e o poeta, o paraibano Augusto dos Anjos. Um caso de self-publishing. Mais independente impossível. Outros poetas nacionais também começaram assim, com apoio de amigos, editoras pequenas, em edições que hoje são raras. Manuel Bandeira também pagou do próprio bolso a edição do seu livro Carnaval, de 1919, numa tiragem de 310 exemplares.

Allen Ginsberg, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira e outros tantos eram independentes (ainda que esse conceito como conhecemos ainda não houvesse sido formulado), como muitas editoras/livrarias que já nem existem mais e que deixaram um enorme legado literário que hoje é mantido pelos grandes grupos editorais, num trabalho também importante demais, de natureza diferente, porém.

Vamos então falar dos livros independentes, seus autores e editores? Muita gente que anda vendendo livros mundo e tempo afora, começou numa editora pequena, local, tiragens limitadas e vendas idem. Gente que traçou um longo caminho até as editoras nacionais, ou mesmo mundiais, com tiragens massivas, prêmios e reconhecimento merecido. Mas é isso, lá no começo está a editora independente, o editor que tem aquele olhar para revelar e apostar, em poetas, na ousadia, irreverência ou até a controvérsia de certa prosa. Gente que vê um livro onde até então ninguém via algo.

Você precisa saber uma coisa super importante: a edição independente é nascedouro, máquina vibrante de fazer palavras e projetar talentos. E nem sempre é necessário sair desse circuito rumo aos grandes selos e tiragens ainda maiores. Trata-se de um universo particular, peculiar, com uma dinâmica muito própria e capacidade de revelar e consagrar sua literatura, fazendo história e leitores.

É o mais perto da gente. É aquele livro que você encontra quem o escreveu num bate-papo na livraria perto da sua casa; muitas vezes é uma edição quase artesanal ou artesanal mesmo! Se as editoras de grande porte investiram pesado na qualidade gráfica dos seus livros, com projetos cada vez mais requintados, complexos e de encher os olhos, as independentes, por sua vez, capricham na delicadeza de uma trabalho mais pessoal, delicado, com detalhes e filigranas que somente as tiragens limitadas permitem. Naturalmente o leitor só tem a ganhar com os dois caminhos, e com o eventual encontro de um com o outro.

Essa é a força dos independentes, o encontro de perto com o leitor, sempre por meio de um jeito muito pessoal de fazer um livro. Esse trabalho está na base da produção literária de qualquer país, e preservá-lo, fortalecê-lo, é tarefa cotidiana de todos nós, as livrarias, os grupos editorais que ocupam edifícios inteiros e você, o leitor. Comprar um livro independente ajuda demais o ecossistema do mercado literário, mantêm ele fresco, vívido e desafiante. E deixa a gente com a cabeça esperta porque tem coisas que você só vai encontrar no livro daquele autor quase desconhecido, da editora pequena, muitas vezes super local, que distribui poucos exemplares de cada edição.

Em 2013 foi criado o Indie Book Day, pela editora alemã Mairisch, de Hamburgo, justamente para jogar pra valer uma luz na produção independente. A ideia ganhou força e corpo, e ganhou o mundo. A cada ano mais editoras, livrarias e autoras e autores se engajam nessa missão: fazer as pessoas comprarem mais livros independentes!

O Indie Book Day é todo dia 24 de março. Mas todo dia é dia de comprar livros dos independentes e mudar a vida, o jeito de pensar e todoas essas coisas incríveis que a literatura é capaz de fazer por nós.

— Seja independente e leia os independentes!