Literatura não é privilégio!“O Rio de Clarice”: o passeio e o livro
Texto de Teresa Montero sobre seu livro O Rio de Clarice
“As editoras deviam ser mais generosas, inclusive para receber os novos talentos que surgem. É verdade que sempre foi difícil publicar um livro: o editor não se arrisca.” (Clarice Lispector — Jornal do Brasil, 10/12/1977)
Em entrevistas, Clarice revelou seu descontentamento com a falta de oportunidades para os jovens autores publicarem seu primeiro livro. Muitos bateram à sua porta na Gustavo Sampaio. Depoimentos dão conta de que ela foi sempre generosa com todos.
Clarice sabia o quanto era difícil publicar. Seu primeiro livro, Perto do Coração Selvagem (1943), foi editado pela A noite, editora do jornal em que trabalhava, graças a um movimento de colegas da redação.
Mesmo depois da ótima recepção de Laços de família (1960) e A maçã no escuro (1961), ambos editados pela prestigiada Francisco Alves, ela penou para ver as suas obras nas livrarias. Se não fossem seus amigos Fernando Sabino e Rubem Braga, proprietários da editoras do Autor e Sabiá, um livro como A paixão segundo GH (1964) poderia ter ficado na gaveta.
Meio século depois, as dificuldades da jovem autora Clarice Lispector permanecem atuais, mas há sempre “um livro no fim do túnel” e pessoas que arregaçam as mangas e abrem novas estradas. É o que fez a Blooks Livraria ao abrir uma loja online para autores e editoras independentes, a IndieBlooks, trazendo um novo alento para quem acredita na circulação de livros além de um produto comercial e descartável, como o são tantas coisas no dia a dia de uma sociedade consumista.
O passeio “O Rio de Clarice” vê o livro como um formulador de ideias, de comportamentos, um estímulo ao espírito crítico. Por isso, lançar “O Rio de Clarice — passeio afetivo pela cidade”(Autêntica) na Blooks de Botafogo está repleto de simbolismo.
O passeio, que originou o livro, completa dez anos, e vem estimulando o cidadão a sair de sua zona de conforto. “O Rio de Clarice”mostranão somente o itinerário literário e biográfico da escritora, mas tambémfala dacidaderefletindo sobre temas como educação, patrimônio, artes e meio-ambiente.
O livro “O Rio de Clarice — passeio afetivo pela cidade”(Autêntica)abreum novo canal de diálogo com o Rio de Janeiro, não explorado pelo mercado editorial. Umguia que conduz o cidadão a percorrê-lo sob a ótica de seus artistas, impulsionando o leitor a abarcá-lo com todos os sentidos, fortalecendo a sua cidadania.
Movimentos como o da Blooks e de “O Rio de Clarice”ignoram modismos e geram leitores cidadãos.
Teresa Montero é professora, atriz e biógrafa de Clarice Lispector. Idealizadora e guia dos passeios O Rio de Clarice e O Rio de Carmen Miranda. Informações sobre seu projeto de passeios: www.oriodeclaricelispector e oriodeclarice@gmail.com