Tendências do Brasileirão na era dos pontos corridos

Vitor Pestana Ostrensky
Jarvis
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3 min readMay 26, 2019

O que os dados nos mostram sobre o nível de competição entre os clubes.

Em 2006, 3 anos após o Brasileirão (Série A) passar a ser disputado por pontos corridos, o número de clubes disputantes chegou aos atuais 20 clubes, em sintonia com boa parte dos principais campeonatos do mundo. Instigados por este tweet (https://twitter.com/GwilymLockwood/status/1128247780273790977), colhemos os dados das pontuações obtidas pelos clubes da elite do futebol brasileiro desde a edição de 2006 até a edição de 2018 por posição final no campeonato. O resultado gráfico pode ser observado abaixo.

Primeiramente, é notável a tendência de aumento da pontuação necessária do campeão brasileiro. Nos 6 primeiros anos do campeonato com 20 clubes, a pontuação média do campeão era de, aproximadamente, 73 pontos. Nos últimos 6 anos, esta pontuação subiu para 78 pontos. Entretanto, isso não significa que a disputa pelo título tem sido mais acirrada, já que nos 6 primeiros anos a pontuação média do vice-campeão foi de 67 pontos, ao passo que, nos últimos 6 anos, esta mesma pontuação subiu para 68 pontos. Isto demonstra algo que tem sido notado por todos que acompanham o campeonato: a disputa pelo título tem sido menos intensa, com os campeões garantindo a taça com 2 ou 3 rodadas de antecedência.

Pode-se observar, também, que há uma tendência forte de aumento da pontuação necessária para terminar o campeonato entre os 4 primeiros colocados, que, até 2015, eram as posições que garantiam vaga na Copa Libertadores da América. A partir de 2016, há uma leve tendência de aumento na pontuação final dos clubes que terminam o campeonato entre as 5ª e 7ª posição. Esta tendência de aumento pode ser fruto do aumento do número de vagas na Libertadores aos clubes brasileiros, de modo que as 6 primeiras posições do campeonato passaram a classificar os seus “ocupantes” à competição continental. Para que haja uma certeza desta tendência, será necessário aguardar mais alguns anos, uma vez que o número de observações ainda é pequeno para tirar qualquer hipótese.

Da 8ª posição para baixo, verifica-se uma forte tendência negativa de pontuação, o que pode significar o surgimento de uma barreira à disputa de vagas na Libertadores e, em função da nova distribuição do dinheiro da televisão aberta (https://www.torcedores.com/noticias/2018/12/saiba-como-vai-funcionar-o-novo-sistema-de-cotas-de-tv-do-brasileirao-em-2019), a geração de uma pequena “elite” de 7 clubes dentro do próprio Brasileirão — o que já ocorre na Premier League, mas com 6 clubes.

Por fim, pode-se concluir que o Brasileirão tem perdido um pouco da sua “emoção”, que tem sido destinada à disputa contra o rebaixamento, sobretudo pela tendência de queda da pontuação do 16º colocado e a pontuação estável do 17º colocado — “1º colocado” da zona de rebaixamento.

Esta “perda de emoção” pode acarretar na queda do valor de mercado da competição, atrair menos torcedores aos estádios e diminuir as vendas dos pacotes de pay-per-view, o que gerará muito outros efeitos negativos aos clubes. Assim, é necessário que a CBF e os clubes busquem uma maneira de reverter as tendências observadas para salvar o Brasileirão.

*Análise feita em parceria com https://twitter.com/augustorb

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Vitor Pestana Ostrensky
Jarvis
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Economista e mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Federal do Paraná.