Uma breve análise dos dados das músicas do Iron Maiden

Vitor Pestana Ostrensky
Jarvis
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4 min readFeb 8, 2019

Inspirado pelo artigo do Evan Oppenheimer, que busca, por meio de dados, encontrar a música mais “raivosa” do Death Grips, resolvi juntar duas das coisas que mais gosto: análise de dados e Iron Maiden.

Os dados de cada música são obtidos por meio do pacote do R Spotifyr, criado por Charlie Thompson¹, que permite fazer a extração em larga escala de dados do API do Spotify. As informações disponíveis são as mais diversas, desde a duração e o tom, até uma variável chamada “valence”, que, segundo o programa, mede a “positividade musical” de cada gravação.

Diferentemente de Evan, a análise aqui será mais exploratória do que objetiva. Irei mostrar apenas algumas curiosidades encontradas nos dados das 152 músicas dos 16 álbuns de estúdio. Cabe citar que apenas estão incluídas as músicas que estavam nos discos originalmente. Portanto, não há Sanctuary no primeiro disco, ou Total Eclipse no The Number of the Beast.

Olhando os dados a primeira ideia que me ocorreu foi a questão da tonalidade das músicas, já que a minha impressão (e a de outros) é de que a maioria delas é em Mi menor, assim como boa parte das bandas de metal. Aparentemente não estávamos errados:

Frequência de tonalidade das músicas do Iron Maiden

Para quem não entende muito a diferença entre as tonalidades maior e menor, a melhor maneira de aprender é ouvindo ambas. O canal do youtube Happy Metal, transforma músicas de metal da tonalidade menor para maior (Hallowed be thy name, por exemplo), tornando-as mais“felizes”.

A tonalidade de Mi menor é realmente a mais frequente no Iron Maiden, mas algo chama a atenção: a quantidade de músicas em tonalidade maior. Não é que não existam músicas do gênero em tonalidade maior, como a própria The Number of the Beast, por exemplo, mas é bem menos comum.

Várias destas músicas que a base de dados identifica como tonalidade maior na verdade são em tom menor, como Wrathchild, El Dorado e Hallowed be thy name, o que nos mostra que esse algoritmo de detecção de tonalidade não funciona perfeitamente. Lição: muitas vezes é preciso desconfiar dos dados.

A base também traz uma variável que mede, de 0 a 100, a popularidade de cada música. O gráfico abaixo traz a popularidade de cada música, de acordo com o ano de lançamento do álbum.

De imediato percebe-se a discrepância do álbum The Final Frontier, de 2010, para o resto da discografia. De fato, não é um álbum amado pelos fãs, mas seria menos popular do que os álbuns da era Blaze? Estranho. Talvez tenha sido abafado pelo lançamento do The Book of Souls, primeiro álbum gravado já nos tempos de Spotify.

Do outro lado, as músicas mais ouvidas do Iron Maiden não são surpresa, em ordem: The Trooper, Run to the Hills e Fear of the Dark.

Continuando a análise, utilizaremos as medidas valência e energia. O Spotify define valência:

“Músicas com alta valência soam mais positivas (e.g. felizes, alegres, eufóricas), enquanto as que tem baixa valência soam mais negativas (e.g. tristes, deprimidas, raivosas).”

Já energia:

Tipicamente, músicas com alta energia soam rápidas, altas e barulhentas.

Colocando essas variáveis em uma linha do tempo, podemos observar um padrão curioso ao longo dos álbuns da banda. A energia está sendo representada pela cor de cada observação.

Claramente, existe uma sonoridade antes da saída do Bruce Dickinson, em 1994, e uma depois. A diferença nas duas variáveis é bastante significativa. Não surpreende também que o álbum X-Factor seja o álbum com menor média em ambos os indicadores, já que é um disco muito influenciado pelo momento ruim que Steve Harris, líder da banda, passava em sua vida pessoal. Para se ter ideia, das cinco músicas com menos “energia” da banda, quatro são deste álbum. Abaixo, estão as cinco músicas com mais e menos valência e energia, respectivamente.

Iron Maiden — Valence (top and bottom)
Iron Maiden — Energy (top and bottom)

As letras das músicas poderiam até ser objeto de uma análise em separado, em outro momento. De maneira bastante simples, com o pacote wordcloud construí uma nuvem de palavras com as letras de todas as 152 músicas. O resultado mostra as 200 palavras mais recorrentes, que dizem muito sobre os temas mais recorrentes e o sentimento de introspecção presente na maioria delas.

Muito mais pode ser explorado com estes dados e com o API do Spotify. Para quem usa R, o spotifyr facilita muito a obtenção das informações. Por hoje, deixo-os com a música com maior “danceability” do Iron Maiden, acreditem ou não.

[1] Agradeço ao Charlie e ao Evan por terem me auxiliado de prontidão com um erro que estava ocorrendo no R. Por conta deste erro, o código ficou mais confuso do que o normal.

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Vitor Pestana Ostrensky
Jarvis
Editor for

Economista e mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Federal do Paraná.