“Meu nome é Malala”

Loriza Kettle
Boa de Conversa
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4 min readMay 2, 2018

A história de vida da ativista Malala Yousaifzai

Malala Yousaifzai

Malala é um dos poucos documentários que tocam a alma. O filme conta a história de uma adolescente paquistanesa que lutou pelo direito à Educação das meninas e mulheres de seu país. No Paquistão a grande maioria das mulheres são analfabetas, Malala não achava justo e passou a lutar contra isso. Mas o que parecia ser uma tradição foi além e virou um problema político. Malala Yousafzai começou a receber ameaças e posteriormente sofreu um atentado a caminho da escola quando tinha apenas 15 anos.

O papel da família

Engana-se quem pensa que Malala era de família pobre e não recebia apoio pelos seus ideais. Ela fazia parte de uma minoria, pois vivia uma vida confortável com seus pais, diferente das outras meninas de sua região. Despertou cedo como ativista pela Educação. Seu pai, Ziauddin Yousafzai, era diretor de uma escola quando a menina era pequena e, muito antes dela, sempre brigou pela educação dos paquistaneses.

Malala cresceu tendo o pai como exemplo. Quando entendeu que em seu país as meninas não tinham acesso à Educação, passou a se posicionar a respeito, mesmo com tão pouca idade. Suas manifestações públicas começaram a incomodar o Talibã e tanto ela como o pai começaram a serem ameaçados. O que impressiona nessa história é que nenhum dos dois pensou em desistir, mesmo desesperados com as ameaças. Quando tinha 12 anos Malala escreveu para a BBC sobre seu cotidiano durante a ocupação Talibã e seus pontos de vista sobre a promoção da Educação para as jovens no vale do Swat.

Trailer do documentário “He Named Me Malala”

Menina Prodígio

Nessa época a ativista já dava entrevistas e participava de eventos. Sempre era firme nos seus posicionamentos sobre o direito das crianças aos estudo. Seus pais a acompanhavam, apoiavam tudo o que ela fazia e falava, davam o suporte que ela precisava para que continuasse lutando pela causa. O curioso é perceber que o pai a apoiava incondicionalmente, o que é de admirar, pois Malala ainda era praticamente uma criança. Mas, ao observar com olhos mais atentos, reconhecemos que a adolescente não era como qualquer menina da idade dela. Era centrada, madura e sabia muito bem o que queria.

Podemos notar isso em suas manifestações públicas, quando toma a palavra nos discursos. O pai não somente apoia, mas endossa tudo o que menina fala, quando tem oportunidade. Essa parceria de pai e filha chega a emocionar. Aliás, o documentário nos leva a várias reflexões. A primeira é justamente a relação de filhos e pais hoje em dia. É muito difícil de ver, atualmente, pais e filhos numa sintonia tão perfeita como a da família paquistanesa. Mas o que nos faz pensar mais no filme é como podemos ser movidos pelos nossos valores.

Malala acreditava no que defendia. Mesmo recebendo ameaças, às vezes vivendo como fugitiva com a família, nunca, em nenhum momento, pensou em desistir. Quantas vezes na primeira dificuldade desistimos dos nossos sonhos? Outra coisa que impressiona é seu desprendimento em servir o semelhante. O sonho de Malala era ver as meninas de sua idade estudando! E nós? Quantas vezes reclamamos quando vamos “ajudar” alguém? O filme é um daqueles que nos dão esperança de acreditar no ser humano.

Imagem da capa do livro “Eu sou Malala”

Vivendo como exilada

Depois que sofreu o atentado, em 2012, Malala Yousaifzai foi viver na Inglaterra com a família. Lá ela continuou como ativista, mesmo longe de seu país. Participou de eventos, deu entrevistas, conheceu personalidades influentes que a apoiaram na causa. Malala ficou conhecida mundialmente pelo que defendia. No ano de 2013 foi eleita pela Revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do planeta e em 2014 ganhou o Prêmio Nobel da Paz pela sua luta contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à Educação.

Mesmo com tudo isso é bonito de ver que Malala não perdeu sua essência. Sempre viveu como qualquer outra adolescente de sua idade e não se deslumbrou com a fama, muito pelo contrário. Sempre se manteve serena e tranquila. Mas a serenidade em nenhum momento aplacou a garra e a vontade de mudar a vida de milhares de meninas. Não mudou a vontade de combater o que considerava uma injustiça. Malala é uma das raras pessoas no mundo capaz de abrir mão de si mesma pelo bem do próximo. É difícil não se emocionar com o discurso da ativista no final do documentário:

Eu sou a mesma Malala. Minhas ambições são as mesmas, minhas esperanças são as mesmas, meus sonhos são os mesmos. Percebemos a importância da luz quando vemos as trevas. Percebemos a importância da voz quando somos silenciados. Acreditamos no poder e na força de nossas palavras. Vamos pegar nossos livros e nossas canetas, eles são nossas armas mais poderosas.

Conto minha história não por ser única, mas por não ser a única. É a história de muitas meninas. Eu sou Malala, mas também sou Shazia. Também sou Kainat. Eu sou Mezon, eu sou Amina. Eu sou aquelas 66 milhões de meninas privadas de estudar. Não sou uma voz solitária, eu sou muitas. E nossas vozes se tornam cada vez mais fortes.

Só mais uma coisa. Malala teve sequelas do tiro que recebeu no atentado. Ela ficou paralisada no lado esquerdo do rosto e surda do ouvido esquerdo. E mesmo assim sua força não a permitiu desistir. Então, reproduzo aqui a mensagem do filme. Quando se sentir reprimido, erga sua voz.

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Loriza Kettle
Boa de Conversa

Loriza é jornalista e escritora. Para ela conhecimento é precioso e o tempo seu aliado, pois acredita que idade é sabedoria em números.