A notícia do momento é a notícia
A Cisco, em parceria com o IMD, desenvolve um estudo constante sobre a transformação do ambiente digital que se materializa num report chamado Digital Vortex. Num breve resumo, esse vortex representa uma força que lidera a transformação pelo digital nos mais diversos segmentos de mercado e, entre 2015 e 2017, a indústria de Mídia e Entretenimento se moveu para o ponto mais central desse redemoinho de disrupção, desbancando o segmento de Tecnologia.
É importante deixar esse primeiro fato em evidência para entender um pouco sobre como a indústria da informação está se moldando num momento em que a Era do Social parece começar a ruir. Mas antes de efetivamente começar a falar sobre isso, um breve disclaimer para millennials apressados:
O que você vai ler (ou não) neste texto:
- Crescimento nas assinaturas do jornalismo hard news
- Crise do Social Jornalism buzzfeediano
- Trust Makes It Simple — o conceito da gigante chinesa que não funciona quando o assunto é se informar
Num dos seus excelentes vídeos, a L2 Inc fez uma análise profunda sobre como o investimento a longo prazo em Audiência fez o The New York Times aumentar a sua base de assinantes e seu valor de mercado, enquanto o BuzzFeed sofre com a perda constante em Tráfego. Motivos? Fake News. Mais do que isso, um público cansado de ser impactado por conteúdo simples e que voltou a buscar jornalismo com credibilidade.
A liberdade que as redes sociais deram para a disseminação de conteúdo, de opinião e de informação gerou toda uma era de supercompartilhamento de tudo, inclusive notícias e notícias falsas.
Esse movimento de Social Journalism moldou toda uma era (foi tipo ontem) de criação e disseminação de informação powered by people e validada por ninguém. Hoje, as redes sociais, e principalmente o Facebook, que mais capitalizou nesse movimento, sofrem com a liberdade descontrolada do conteúdo social, algo que já falamos antes.
Então, se a era social criou uma disrupção na criação de distribuição da notícia, dando liberdade e excesso a ela, agora as coisas parecem ter assentado neste caldo e as empresas de hard news voltam a ver uma luz no fim do túnel. Os dados organizados pela L2 Inc mostram que o The New York Times cresceu 41% no seu valor de mercado no último ano, um movimento resultante da mudança da fonte de renda do veículo que hoje baseia 60% nos seus planos de assinatura. E a receita parece simples: a redução do número de publicações de graça aumenta o número de assinaturas para um conteúdo de qualidade. Foi assim para o TNYT, para o The Washington Post e para o Boston Globe.
Falando do outro lado da gangorra, empresas como o BuzzFeed, que construíram seu negócio num pilar de disseminação social de conteúdo raso, puramente pelo tráfego, veem seus números de visitantes caírem. Para o BuzzFeed são 9% menos visitantes no último ano. A solução? Foco em hard news. A empresa tem investido pesado na cobertura de fatos alinhada pelo interesse dos seus leitores, algo que se materializa no slogan do BuzzFeedNews — Reporting to You.
Toda essa movimentação tem um pé numa tendência ainda mais abrangente que foi muito bem resumida no conceito da AliPay — Trust Makes It Simple.
Todo mundo confiou no Netflix quando deu o ok para entregar os seus dados de cartão, mesmo sem ter ideia de quem era a empresa. O fato é que era simples, tinha um bom UX e todo mundo estava fazendo parte. Foi assim para o Uber, para o iFood e tantas outras empresas digitais, inclusive para o Facebook, que nos mostrou que a confiança tornaria tudo mais simples (mas bem obscuro).
A questão é que essa mesma confiança também esteve muito tempo ligada ao consumo de conteúdo oriundo das redes sociais. Estávamos tranquilos em receber o que aparecia nas nossas timelines (bolhas), mas a simplicidade não gerou a confiança prometida e tudo indica que o mercado está voltando a optar pela confiança baseada na pura credibilidade dos jornais. Anos depois de questionarmos se a internet iria matar o jornal impresso, as empresas de jornalismo, no digital, mostram que ainda possuem a confiança necessária para seguirem bem vivas no que tudo indica ser uma era de informação pós-social.
Lucas Kircher — membro voluntário do GPRS e planejamento na DZ.
Medium: Lucas Kircher
lucas@dzestudio.com.br
SOBRE O B.O DO GPRS
Um projeto desenvolvido pelo Grupo de Planejamento RS com o objetivo de abrir um canal para discutir, aprofundar e trazer assuntos pertinentes envolvendo nosso mercado. Clicando aqui você assina o B.O, uma newsletter quinzenal com conteúdo próprio, desenvolvido pelos membros.