Há mais variáveis no processo criativo do que acreditamos.

É importante olhar para o todo e não só o início e o final.

Grupo de Planejamento RS
BOdoGPRS
9 min readMar 19, 2018

--

Indo além da primeira imagem (foto)

Pensando que a necessidade de inovar, de aprimorar e tornar o processo criativo cada vez mais produtivo vem se tornando mais importante no dia a dia do nosso mercado, decidimos abrir uma frente para falar do assunto.

Nas próximas edições, vamos trazer conteúdos que possam contribuir com essa necessidade a partir de diferentes perspectivas.

O primeiro é tradução de um artigo publicado na Co Design chamado “Want To Build A Culture Of Innovation? Master The Design Critique”. Jon Kolko, escritor, professor e especialista em design estratégico há 15 anos trata de desenvolver uma cultura crítica em seus alunos. Para ele, tão importante quanto a concepção do trabalho e a execução é a cultura crítica e a capacidade de lidar com ela.

Abaixo fizemos uma tradução livre do artigo publicado pela Co.Design escrito pelo próprio professor.

Para aqueles que se interessarem pelo assunto, sugerimos ler este artigo do Adweek que mostra o que a agência que desenvolveu uma das ações mais interessantes de 2017 aprenderam com o processo criativo dela. Antecipando, se relaciona completamente com o artigo abaixo ;)

A habilidade de dar e receber crítica de forma eficaz é uma parte crucial do processo de design. E tendo que as empresas cada vez mais incorporam o design, não só como um produto, mas como uma competência central, a crítica construtiva ganhou importância como nunca antes. Em alguns casos, pode ser inclusive a diferença entre um produto fazer sucesso ou não.

Mas muitas empresas podem não estar acostumadas com a arte de criticar. Por exemplo, é comum buscar a expertise de design em terceiros. Uma organização contrata alguém para provocar, inovar, mas que no final pode não fazer diferença nenhuma, dependendo de como o processo acontece. Isso porque caso a empresa não goste das ideias vinda da contratada, ela provavelmente culpe a equipe de design, como se ela, a empresa, não tivesse corresponsabilidade com tal criação.

Mas isso não acontece só com empresas vindas de fora. Mesmo em casos que o processo de design acontece na estrutura interna. Dos gigantes da tecnologia até os bancos, é comum encontrar uma equipe interna de design. Pessoas de todas as áreas, do marketing até a produção, seguidamente estão apresentando conceitos criativos em suas atividades. Isso, contudo não significa necessariamente que eles são mais produtivos do que uma empresa contratada, porque provavelmente eles não tem a cultura ou a linguagem da crítica.

Acontece, que crítica é um dos principais pilares de uma equipe de design eficiente. De certa forma, tá no mesmo nível da execução e da concepção. E também, é a evidência de um grupo de trabalho produtivo, porque externaliza uma das partes mais importantes de um execução criativa: confiança.

Rachel Hinmam, gerente de design de produto na Stitch Fix, descreve a diferença entre uma equipe com confiança e outra não. Se alguém diz alguma coisa sobre trabalho que é potencialmente negativo, você acredita que está vindo de uma intenção positiva, quando confia. Se você não tem essa confiança nas equipes, é muito difícil ter uma crítica produtiva. Porque as pessoas não dizem aquilo que é mais difícil para não lidar com o confronto, pois não se sabe como o outro vai reagir, ou quando o dizem, se produz quase que uma competição relativamente agressiva pelas partes.

Ben Fullerton, vice presidente de design na OpenTabel concorda. Para construir confiança, ele diz que a crítica precisa vir de alguém que é apaixonado e investe tanto quanto o criticado no trabalho.

“O problema, é que em muitos casos o designer recebe feedback de alguém que ele não necessariamente valoriza e confia, porque sente que não está vindo de um lugar que tem um interesse genuíno pelo trabalho como ele”.

A crítica precisa encontrar a metade do caminho.

“Como designer, você tende a ser muito protetivo com o que você faz. Você obviamente investiu, inclusive emocionalmente, no trabalho. Mas, parte da maturidade do designer começa com a capacidade de se desprender um pouco disso e falar, ‘ok, legal. Eu estou aberto a receber feedback sobre meu trabalho, porque eu entendo que o básico do design aqui é mover o trabalho para frente e tornar ele melhor.’”

O QUE É VERDADEIRAMENTE UMA CRÍTICA?

Uma crítica enfatiza o que é negativo com o objetivo de ajudar o designer a melhorar seu trabalho. Durante uma critica, o designer apresenta seu trabalho para um grupo. O grupo identifica lugares onde o trabalho pode melhorar. Discute-se alternativas, problemas, possibilidades para esses problemas e colaborativamente se trabalha para explorar mudanças que vão beneficiar o trabalho.

O EXPOR

A crítica começa quando o designer dispõem a apresenta seu trabalho. Quando eu estou ensinando como criticar aos alunos, eu reforço que o façam de forma física, peço a eles que imprimam seu trabalho e pendurem na parede. Isso é verdade mesmo para itens digitais, como delas, apresentações ou até animações. Quando o trabalho é disposto na parede, uma série de coisas acontecem.

Ao expor o trabalho na parede, você testa uma série de questões do trabalho, principalmente a simplicidade e objetividade para apresentar.

Primeiro, todo o grupo consegue observar ao mesmo tempo. Isso significa que todos tem a mesma base no que o designer fez. Todos respondem ao mesmo tempo ao trabalho, e todos compartilham um entendimento do escopo e da amplitude do material criativo da mesma forma.

Depois, o grupo pode ver o trabalho no contexto da história. Design sempre existe num contexto narrativo, e ver o trabalho na parede faz com que todas percebam esse contexto. Geralmente é uma série de frames; por exemplo, se o designer apresenta a concepção de um aplicativo mobile, ela pode mostrar cada frame em sequência. Isso significa que todo o grupo pode responder não só para a interface de alguma das telas, mas a todo a experiência de usuário do produto — isso ajuda com que a crítica aconteça nos dois lados, no detalhe mas também no comportamento.

Ainda, pendurando o trabalho fisicamente ao invés de mostrar em uma tela ajuda o designer a aprender o melhor caminho para comunicar ideias complexas para uma audiência. A primeira vez que um estudante pendura, ele invitalmente percebe que o trabalho é muito pequeno, muito leve, que falta anotações e geralmente é incompreensível para outras pessoas. Isso dá a oportunidade de discutir como apresentar e persuadir, e como todas as formas de apresentar, incluindo a crítica, é uma oportunidade para formar como as pessoas pensam e entendem o trabalho.

O PROCESSO CRÍTICO

Uma vez que o trabalho está exposto a crítica começa. É tentador para o designer explicar o seu processo de criação. Mas eu encorajo a ele a apenas descrever “as regras da interação”, e depois dar um passo atrás e deixar o grupo começar. O trabalho precisar ser autoexplicativo. E uma explanação parece inofensiva, mas na verdade apresenta uma posição de defesa, como se o designer precisasse dar razão para suas decisões. Isso cria uma dinâmica de “eu versus eles”, e isso não é saudável para a crítica.

Ao invés, eu ensino o designer a descrever os parâmetros da crítica. Isso pode ser a descrição do tipo de feedback que ele está procurando, ou a mecânica real que ele espera da crítica. Por exemplo, ele pode dizer:

“Para essa crítica, eu quero que o foco seja na forma como eu desenvolvi a experiência de navegação do usuário. Eu gostaria de um feedback se isso ficou claro. Por favor, não se foquem na forma gráfica, pois eu ainda estou trabalhando”.

Isso coloca os limites da crítica, dizendo o que está fora dela no momento.

Depois de ter estabelecido as regras da crítica, eu peço para o designer ficar quieto. Dependendo de como é o avanço da classe ou eu mesmo tomo um paço atrás, ou eu começo a crítica. No início da jornada educacional dos estudantes, eles costumar ter receio em falar o que pensam. Nesses casos, eu começo a crítica apontando algum elemento que não está funcionando e ofereço sugestões de como melhorar. O benefício de começar a crítica é que os estudantes veem e conseguem simular o que exponho meus comentários. Existe um desafio, apesar; jovens ou menos experientes vão geralmente seguir minha fala — vão concordar com que eu estou dizendo e dificilmente vão apontar alguma opinião dissidente.

Não importa se eu começo a crítica ou outra pessoa, eu exemplifico o comportamento que eu quero que os outros tenham — por exemplo, eu sempre esboço diretamente no trabalho do designer exposto as minhas sugestões. Quando um estudante oferece uma crítica, eu faço com que ele nos mostre, não apenas diga. Desenhar uma solução tem uma série de benefícios. Acaba capturando a ideia para que o designer tenha a lembrança depois. E força um nível de especificação a quem faz a crítica; ele não pode simplesmente dizer, “isso não está funcionando”.

Durante a crítica, eu presto atenção na linguagem dos estudantes, até para corrigir. Quando eles dizem coisas como “eu não gosto disso” ou “isso é estranho”, eu peço: “O que você quis dizer com isso?”. Eu peço que eles foquem no problema, não em elementos ou coisas que não estão funcionando. Eu peço que expliquem porque eles reagiram de certa forma. O que existe de ruim no design? Por que surgiu esse comentário de que algo está “estranho”?

Às vezes, a crítica parece algo muito pessoal. Nesse caso, a pessoa que está expondo seu trabalho acaba ficando defensiva — defendendo o trabalho e ignorando o benefício da crítica.

Quando isso acontece, eu logo paro a crítica e começo uma meta conversação. Ao invés de criticar o trabalho, eu vou criticar a crítica em si. Eu vou apontar como a pessoa fica defensiva e buscar formas e caminho para evitar esse tipo de reação no futuro.

Assim que a crítica continua, eu vou constantemente lembrar os designer sobre as regras da interação e das melhores práticas. Isso, tipicamente incluem sugestões para melhorias, para esboçar soluções e identificar problemas e não apenas boas qualidades.

DEPOIS DA CRÍTICA

Quando a crítica acaba, eu geralmente peço aos designer se ele entendeu e captou o que ele vai mudar no futuro. Isso causa um nível de reflexão — acaba encorajando ela a reproduzir a crítica, rapidamente, e garante que ela vai sintetizar o conteúdo com destalhes suficientes para que ele possa mover o trabalho para frente.

O designer menos experiente vai ter perdido muito dos detalhes da crítica. Eles vão se sentir sobrecarregado com a quantidade de feedback que receberam e em casos vão fazer com que a crítica seja menos direta do que quando começou. Eu antecipo isso durante a crítica quando eu não vejo estudantes capturando e escrevendo a conversa. De novo, eu vou para a crítica e digo algo como: “eu percebi que você não estava fazendo anotações. Você provavelmente não vai conseguir lembrar isso depois. Enquanto a crítica continua, existem algumas formas de lidar com isso. Podes anotar as ideias você mesmo ou pedir que algum de seus colegas o faça. Dessa forma, você vai poder captar o máximo de valor dessas conversas.”

FREQUÊNCIA

Nas minhas aulas, eu mantenho a crítica quão frequente for possível. Eu não espero o estudante terminar o trabalho antes de encorajar a crítica em relação a ele. Dessa forma, o objetivo de manter a crítica na aula não é apenas melhorar o trabalho. Mas também instaurar uma cultura de envolvimento com a crítica, para que estudantes parem de ver seu trabalho como algo precioso.

Design é um processo que nunca para, caso o estudante comece a tratar o trabalho dele como pronto, ele nunca vai aceitar mudar, mesmo que seja uma solução melhor.

Falar em cultura de crítica, significa que a crítica se torna uma outra parte do processo de design, assim como pesquisa, esboço ou teste de usuário. E isso é de extrema importância para o resultado final.

Esse artigo, originalmente, foi adaptado a partir do “How I Teach: Reflecting on 15 Years in Design Education, disponível de graça clicando aqui.

SOBRE O B.O DO GPRS

Um projeto desenvolvido pelo Grupo de Planejamento RS com o objetivo de abrir um canal para discutir, aprofundar e trazer assuntos pertinentes envolvendo nosso mercado. Clicando aqui você assina o B.O, uma newsletter quinzenal com conteúdo próprio, desenvolvido pelos membros.

Tradução livre por Nicolás de Arriba

--

--

Grupo de Planejamento RS
BOdoGPRS

Conteúdo sobre planejamento, estratégia e gestão de marcas feito por profissionais no Rio Grande do Sul