CHASING ICE

NOTA 7,0

Matheus Rego
Boite du Film
3 min readJul 9, 2018

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EUA, 2012. Dir.: Jeff Orlowski. Com Jeff Orlowski, Louie Psihoios, James Balog, Kitty Boone, Adam LeWinter e Sylvia Earle.

Para a comunidade científica não existem mais dúvidas quanto ao fato de que o aumento dos gases CO2 acumulados na atmosfera é responsabilidade do homem e que esses mesmos gases tem causado o aumento da temperatura média no planeta. Em relação as camadas polares, esse aumento da temperatura significa o derretimento do gelo e consequente elevação do nível do mar, bem como alterações em sua temperatura. Em última instancia, como num efeito dominó, esses fatores de alteração representam eventos meteorológicos desastrosos, tais como ciclones, inundações e tempestades.

Se por um lado o aquecimento global, de responsabilidade humana, é dado como um fato no meio científico, na esfera pública, do debate midiático, por outro lado, a conversa é diferente. Quer dizer, aqui, existe um debate de múltiplos lados sobre algo que é tido como concreto e de comum acordo entre os especialistas no assunto.

Por entender que o retrato em imagem de eventos isolados — sintomas de uma causa maior — tem maior impacto sobre a opinião pública do que intermináveis coletas de dados ou gráficos, é que o fotógrafo James Balog empreende uma jornada de 4 anos no Ártico, instalando câmeras nas geleiras para comprovar a considerável diminuição delas ao longo dos anos.

O resultado final dessa jornada, registrada com considerável habilidade pelo diretor Jeff Orlowski no documentário Chasing Ice, é impactante e assustador. O que em nada implica num sensacionalismo por parte de seus realizadores. É claro que em qualquer documentário um alto grau de parcialidade vai estar presente, mas Chasing Ice permite que o espectador veja através dessa parcialidade e tenha contato direto e factual com imagens incontestáveis, quase como que num flagrante inquestionável dos efeitos do aquecimento global.

É certo dizer que o propósito e a questão de ser desse filme remetem diretamente a uma preocupação em divulgar ao público um evento de proporções imensas e alarmantes. E com tantas imagens grandiosas das infinitas galerias de gelo, em toda sua beleza e imensidão, só quem assiste sabe que esse papel se cumpre muito bem. Mas se, por outro lado, falarmos da origem do documentário, ela se deve a um caso de amor entre homem e natureza. Mais especificamente, entre um homem e o gelo. James Balog é pontual ao explicar seu fascínio pela paisagem gélida do Ártico e o que sua caça fotográfica ao gelo lhe inspira:

“Cedo na minha carreira eu descobri que havia algo de muito especial em fotografar [o gelo] à noite, algo que faz com que você se sinta posicionado na superfície do planeta. Você deixa de ser apenas um ser humano andando em meio ao mundo cotidiano. Você se torna um animal humano caminhando pela superfície de um planeta que está posicionado no meio da galáxia.”

É assim que Chasing Ice ilustra algo a mais do que a questão ambiental por si só, transformando-a em objeto de interesse, preocupação e admiração pessoal de um homem como qualquer um de nós, de modo que somos capazes de simpatizar com sua causa.

Ainda que seja cabível uma critica ao documentário como propaganda liberal, acredito que esse seja um argumento reducionista, político e preconceituoso, ou seja, um conjunto de coisas que deve estar fora de qualquer comentário inteligente. Afinal de contas, acima de sua causa ambiental, Chasing Ice é uma esplêndida realização cinematográfica, construída a partir de um enorme esforço conjunto de pessoas dedicadas a darem o melhor de si para documentar um evento de escala global. E apesar de todo seu potencial argumentativo, é através do forte apelo imagético que o filme nos agarra.

Publicado em 26 de novembro de 2013.

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