PRINCE AVALANCHE

NOTA 5,0

Matheus Rego
Boite du Film
3 min readJul 9, 2018

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EUA, 2013. Dir.: David Gordon Green. Com Paul Rudd, Emile Hirsch, Lance LeGault, Lynn Shelton

A trilha sonora de Prince Avalanche, filme de David Gordon Green, é representativa do filme como um todo; minimalista, singela e generosa. Generosa pois compreende as falhas de seus protagonistas e dá espaço para que eles cresçam em cena, numa jornada de autodescoberta. Estamos falando de uma trilha elaborada, majoritariamente, em cima de um violão e de um piano, com o eventual uso de sintetizadores nas cenas mais dramáticas. E essas composições realizadas por David Wingo e o quarteto Explosions in the Sky não favorecem apenas à dupla de personagens em cena mas também ao espectador, a quem é dado tempo para contemplar e refletir. Pois então é uma verdadeira pena que, apesar da rara capacidade em respeitar sua plateia, Prince Avalanche forneça tão pouco sobre o que se refletir.

O filme se abre com longas tomadas de uma floresta em chamas mas não há qualquer urgência nisso. Pelo contrário, a trilha sonora suave e compassada logo indica que não estamos diante de um desastre, mas, sim de um fenômeno. Triste, obviamente, mas cuja beleza do fogo devastador é capaz de trazer um certo conforto diante da destruição deixada para trás. Esta é a própria natureza do relacionamento de nosso protagonista, Alvin (Paul Rudd), com sua namorada. Um relacionamento marcado pelo rompimento e pela destruição dos sentimentos, mas cujo fim carrega a beleza da possibilidade de um recomeço.

Alvin é interpretado com surpreendente sobriedade por um Paul Rudd que se mantém na tênue linha entre uma personalidade arrogante, por ocasião de sua insegurança, e um coração generoso e aflito, por ocasião de seu namoro. Ele trabalha pintando faixas de sinalização em estradas, na companhia de ninguém menos do que seu cunhado Lance (Emile Hirsch). Os dois passam a semana inteira acampando à beira da estrada, enquanto cumprem seus trabalhos. Eventualmente, encontram com um caminhoneiro e uma misteriosa senhora que diz ter perdido tudo que tinha nos incêndios recentes, mas pela maior parte do tempo estão sós, apenas os dois. Aos finais de semana, Lance retorna para a cidade para aproveitar a noite e ficar com meninas. Alvin, por sua vez, prefere ficar sozinho no acampamento, escrevendo cartas de amor em alemão para sua namorada, com promessas de um futuro generoso e viagens pelo mundo. Quando estão juntos, os dois conversam sobre os problemas amorosos que enfrentam e as banalidades da vida de Lance. Diálogos essencialmente fracos. Justamente por isso, o filme não consegue deixar de soar um tanto vazio e desinteressante, ainda que anseie por tocar seu espectador com os pequenos dramas pessoais de seus protagonistas. Sim, eles sofrem de amor e desesperança, discutem continuamente um com o outro, sendo diferentes da maneira que são, mas nada disso parece interessar a quem assiste.

É engraçado, pois a competência artística e técnica de Gordon Green está atestada através da composição das cenas e da direção de seus atores, que seguram o filme mesmo através de um diálogo pobre. Ainda assim, a fragilidade dos dramas que temos em cena, se resumindo ao coração partido de Alvin e o desinteresse juvenil de Lance, compromete o filme como um todo. Suas qualidades estéticas e sua cadencia encantadoramente suave seguram o espectador até a metade da narrativa com a promessa de um roteiro inteligente, que nunca se realiza, de modo que aquilo que é belo logo se torna aborrecido por ocasião do tédio.

Diferentemente de assistir a um filme ruim por essência, quando não nos importamos com seu resultado, é uma verdadeira pena ver um filme que aspira uma conexão honesta com seu espectador e com um grande potencial artístico ser comprometido pela fragilidade de sua narrativa e pela banalidade de seus diálogos e dramas.

Publicado em 19 de fevereiro de 2014

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