Boletim do Meteoro # 1

Eduardo Nasi
Boletim do Meteoro
Published in
5 min readMay 10, 2020

Um filme no streaming para cada dia da semana:

Na segunda — Matar ou morrer, de Fred Zinnemann (Netflix)

Tá tudo muito difícil. Talvez seja bom começar a semana com um bom estimulante, como esse western protagonizado por Gary Cooper. Spoiler: fiquei com a trilha na cabeça por alguns dias.

Na terça — O homem fiel, de Louis Garrel (iTunes etc., para comprar)

Pra muita gente, o momento pede por filmes leves. Aí a pessoa vai ver uma comédia leve e sai se sentindo meio burra, como se tivesse perdido seu tempo — que por sinal pode ser mais curto do que a gente gostaria. Em tempos de coronavírus, quem sabe?

O homem fiel é perfeito pra esses dias. É uma comédia romântica, é leve, tem Louis Garrel disputado por Laetitia Casta e Lily-Rose Depp (fofoca: é a filha do Johnny Depp com a cantora Vanessa Paradis). Mas não é conservador nem careta e você não fica se sentindo um trouxa.

Em tempo: quem me recomendou esse foi o Fabrício Carpinejar, um bom amigo que vê muitos bons filmes.

Na quarta — Assunto de família, de Hirokazu Koreeda (Netflix)

Parasita não é o primeiro filme asiático a falar de classes. Talvez seja o menos sutil, e por isso tenha ressoado tanto no Ocidente e arredores. Em Assunto de família, temos outra família, uma família de ladrões, que de repente adota uma criança.

Há outros filmes do Koreeda na seção de filmes do Globoplay, um lugar que vale a pena explorar.

Na quinta — Maria Madalena, de Garth Davis (Prime Video)

Acho que esse é o mais polêmico da semana. Mas o fato é que eu acho que esse filme não é pouco subestimado, não. Acho que é muito. Há uma onda de filmes evangélicos de qualidade duvidável, e esse deu azar e entrou no pacote. Passou batido. Mas vejam só: o Jesus de Joaquin Phoenix é o melhor Jesus do cinema. É um Jesus pregador ardoroso, que é ao mesmo tempo intransigente e profundamente amoroso. É um papel muito superior ao de Coringa.

E isso não é tudo: o centro do filme é uma releitura meio feminista e 100% redentora de Maria Madalena, que é interpretada pela Rooney Mara. E a trilha sonora é dos islandeses Hildur Guðnadóttir e Jóhann Jóhannsson

Talvez seja para falar desse tipo de filme meio perdido que esse boletim exista

Na sexta — Barry Lyndon, de Stanley Kubrick (HBO Go)

É caro. O app é meia boca e travou no meio do filme. Mas o HBO Go tem uma boa seleção de clássicos que ficam meio escondidos.

Barry Lyndon fala sobre ganhar e perder, sobre longos trajetos a serem percorridos, tem cenas filmadas à luz de velas, como se Kubrick quisesse brincar de Caravaggio. Tem tudo a ver com o que andamos vivendo. Vi outro dia porque não tinha visto e não queria morrer sem ver. Em tempos de coronavírus, é melhor garantir essas coisas.

No sábado (à noite) — A ghost story (Prime Video)

Tenho visto alguns filmes de terror desde que a pandemia chegou por aqui. Vi Hereditário, REC, o Suspiria do Luca Guadanino, algumas produções da produtora independente de VHS Troma, que o Mubi exibiu há umas semanas. O hypado Midsommar me deixou um pouco mais animado. E isso é pouco.

Mas A Ghost Story me deixou vidrado. Hipnotizado. Encantado. É bonito de tantas formas maravilhosas que nem sei dizer. É daquele gênero que chamam hoje em dia de terror contemporâneo, ou seja, prefere criar clima a assustar. Pode ver sem medo.

Só outro filme faz par: o japonês One shot of the dead é profundamente emocionante. Só que saiu do Mubi e agora vocês têm que se virar pra achar.

No domingo (à tarde) — Lazzaro felice, de Alice Rohrwacher (Netflix)

Falo dele logo aí embaixo.

Não tem mais nada pra ver no Netflix, me diz uma amiga.

Já viu Lazzaro felice, da Alice Rohrwacher?, pergunto.

Alice Rohrwacher é uma diretora italiana jovem, ou pelo menos mais jovem que eu, com uma carreira curta e impressionante. Seu filme anterior, As maravilhas, está no Prime Video, da Amazon. Seu primeiro longa de ficção, Corpo celeste, ganhei de outra amiga há mais tempo, em um DVD copiado de uma cópia.

Aqui em casa vemos a série Minha amiga genial, baseado na obra de Elena Ferrante, seja lá quem for Elena Ferrante. Na segunda temporada, há dois episódios que se sobrepõem a todos os outros, e a quase tudo que vejo nas poucas séries que acompanho. Talvez eu seja conservador, mas a mim me parece que o melhor do audiovisual segue naquilo que chamamos de cinema e não de TV, mesmo que essas fronteiras façam cada vez menos sentido.

De qualquer forma, isso não importa. A questão aqui é que Alice Rohrwacher dirige esses dois episódios de Minha amiga genial, e eles são melhores que todo o resto da série. Inclusive toda a série parece uma mera desculpa para que esses dois episódios existam.

Preciosidades como Lazzaro felice se perdem dentro dessas plataformas de streaming.

Eu sei porque passo um tempão caçando. Crio uns esquemas cabulosos de catar filme. Faço listas e listas. Sei que o Amazon Prime Video tem vales de preciosidades que só podem ser encontrados seguindo certas trilhas, e que alguns desses vales têm inacreditáveis clássicos maravilhosos que estão… dublados! Não são pra mim! Além de caçar, tem que se atentar aos detalhes, fugir dar armadilhas, fazer mapas. Mas há recompensas. Pô, dentro da Globoplay tem uma seção inteira de filmes da Imovision, que geralmente são pelo menos razoáveis.

Criei o Boletim do Meteoro pra tentar compartilhar alguns desses filmes.

E falar de outras coisas também, eventualmente, quando der, quando for o caso.

O meteoro está vindo. Pode chegar a qualquer momento. Nos resta pouco tempo para ver filmes bons.

Que bom que vocês vieram.

Não falei da catástrofe que nos cerca. Mas talvez não tenha falado de nenhuma outra coisa.

AGRADEÇO:

Estou fazendo um projeto sobre sonhos durante a pandemia. Mesmo sem divulgação ou propósito, já dei uma entrevista pr'O Globo sobre ele. Se você tiver algum sonho nesse período e puder contá-lo, formulário está aqui. Agradeço se puder divulgar a amigos.

Se você assinar o Mubi usando este link, você ganha um mês grátis (e eu também).

Se você for assinar o Amazon Prime Video ou comprar qualquer coisa na Amazon, por gentileza, entre por esse link. Aí eu ganho uns trocados e você ganha a alegria de me deixar mais animado para escrever mais boletins.

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Agradeço se puderem espalhar que esse boletim existe e agradeço especialmente pela leitura.

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PS

Vou falar (ou não) nos próximos boletins, mas se alguém quiser se adiantar, está aí:

A época da inocência (Netflix)

A história de uma criança com fome (Prime Video)

Guava Island (Prime Video)

Eu, Daniel Blake (Netflix)

Mãe só há uma (Netflix)

O Jovem Karl Marx (Prime Video e Globoplay)

Paddington 2 (Netflix)

Estou me guardando para quando o Carnaval chegar (Netflix)

Branco Sai, Preto Fica (Netflix)

Imagem e Palavra (Netflix)

A Assassina (Globoplay)

Um estranho no lago (Globoplay)

É apenas o fim do mundo (Globoplay)

A frente fria que a chuva traz (Globoplay)

Acima das Nuvens (Globoplay)

Laurence Anyways (Globoplay)

Holy Motors (Globoplay)

120 batimentos por minuto (Globoplay)

O garoto da bicicleta (Globoplay)

Gainsbourg — O Homem Que Amava As Mulheres (Globoplay)

Adeus à Linguagem (Globoplay)

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