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Ciências nas Letras #1 — Chuva De Prata

No primeiro texto da série #CiênciasNasLetras, iremos discutir o que seria a “chuva de prata” da canção Chuva De Prata

Caio Faiad
Boletim Antidoto

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Em 1984, Gal Costa lança Profana, um dos álbuns de maior sucesso da cantora, tendo a música Chuva de Prata, composta por Ed Wilson e Ronaldo Bastos, um dos destaques.

Mas você já parou para se perguntar o que seria a “chuva de prata” da canção Chuva de Prata? Por isso, decidi criar uma série de textos, onde usarei a minha dupla formação em Química e Letras para discutir alguns textos (música, poemas, roteiros, propagandas, romances, etc) em que o léxico científico aparece.

Antes de falarmos da “chuva de prata”, precisamos discutir o que é a prata. Na Química, utiliza-se três níveis de representação: simbólica, submicroscópica e macroscópica. A linguagem científica é incorporada na representação simbólica, sendo a tabela periódica a mais conhecida na Química. Por ela, sabemos que o símbolo da prata é Ag, o número atômico é 47 e se trata de um metal de transição.

Símbolo da Prata. Fonte: Tabela Periódica do Elementos Químicos

Com o nível simbólico, o nível submicroscópico costuma ser, para muitos, a síntese daquilo que se entende por Química. Nesse nível de representação, é incorporado, dentre outras coisas, os modelos atômicos, que são a forma que imaginamos como os átomos seriam a partir de determinados experimentos científicos. No Ensino Médio, costuma ser abordado três modelos atômicos (Dalton, Thompson e Rutherford-Bohr), mas no nível superior, outros modelos são discutidos.

Prata na concepção do modelo de Rutherford-Bohr. Fonte: app Periodic Table — Chemistry

Mas para discutir a música Chuva de Prata, precisamos trazer em cena a representação macroscópica, que abrange o tangível dos materiais e substâncias. A prata, assim como outros metais, é encontrada em minérios. Apenas após diversos processos químicos é possível obtê-la em sua forma pura, e assim, observar que se trata de um sólido levemente acinzentado e brilhante.

Prata. Fonte: Wikipedia

Na música Chuva de Prata a referência à Lua é constante. Sabemos que a Lua é um astro que não possui luz própria, contudo visto da Terra é possível observá-la de forma brilhante, especialmente na fase cheia, por conta do reflexo da luz solar.

Temos, então, na letra dois objetos, lua e prata, que estão equiparados pela qualidade de ser brilhante. Os compositores usam uma figura de linguagem chamada metonímia para estabelecer esse efeito de sentido. Uma vez que o “todo” da prata é um sólido brilhante levemente acinzentado, e brilhante é uma “parte” desse material, temos um tipo específico de metonímia, que é a sinédoque, onde a parte “brilhante” é substituído pelo todo “prata”.

Assim, “chuva de prata” nada tem a ver com a literalidade do termo, isto é, cair do céu pedaços desse metal precioso, mas sim expressar uma ideia de “chuva de brilho” causado pela presença da Lua, ou melhor, pelos reflexos da luz solar na superfície lunar.

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Caio Faiad
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👨🏽‍🔬Doutorando-USP e fã da Beyoncé ✊🏼Ciência, Democracia e Direitos Humanos. @ocaiofaiad em todas as redes sociais