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De Luciano Huck a Flávio Bolsonaro: moradia e o lucro da direita com a pobreza
A reportagem deste sábado (25) do The Intercept Brasil revelou que Flávio Bolsonaro financiou e lucrou com a construção ilegal de prédios erguidos pela milícia usando dinheiro público.
De acordo com o jornalista Sergio Ramalho, o esquema de Flávio Bolsonaro funcionava da seguinte forma: 1. Flávio pagava os salários de seus funcionários com a verba do seu gabinete na Alerj; 2. Queiroz confiscava, em média, 40% dos vencimentos dos servidores e repassava parte do dinheiro ao ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime; 3. A organização criminosa organizava a construção de prédios em Rio das Pedras e Muzema.
A matéria enfatiza:
Os dados mostrariam que o hoje senador receberia o lucro do investimento dos prédios, de acordo com os investigadores, através de repasses feitos pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega — executado em fevereiro — e pelo ex-assessor Fabrício Queiroz.
[…]
Flávio entrou na vida política em 2002, com apenas um carro Gol 1.0, declarado por R$ 25,5 mil. Na última declaração de bens, de 2018, o senador disse ter R$ 1,74 milhão. A elevação patrimonial coincide com o período em que a mãe e a mulher do ex-capitão estavam nomeadas em seu gabinete.
Essa reportagem me tocou bastante. Hoje moro em São Paulo, onde curso doutorado na Universidade de São Paulo (USP), porém sou nascido e criado na cidade de São Vicente, litoral de São Paulo, mais especificamente na favela do México-70.
Na Baixada Santista é comum ter casas sobre o rio, as chamadas palafitas. Mas também há muitas casas em “terra-firme” feitas de madeirite, os barracos. No México-70, morei durante muito tempo em casas de madeirite. O desejo da minha família era ter uma habitação em melhores condições. E não era muita coisa. Já bastava a casa ser de alvenaria. Na favela, ter casa de alvenaria significa maior segurança, pois o grande temor é perder tudo em incêndios que se propaga com maior facilidade nos barracos.
Em época de eleição, era comum partidos políticos fazerem os showmícios na favela e prometerem a melhoria das condições de toda a comunidade: rede de esgoto, asfaltamento das ruas, construção de habitações populares, etc… Obviamente, as pessoas votavam naqueles que elas acreditavam que iriam cumprir suas promessas.
Por isso tudo, me enoja saber que um político, eleito para melhorar as condições do povo, usa o dinheiro público para enriquecer em cima do sonho de pessoas de ter uma moradia com as mínimas de condições para se manterem seguras.
Nesse tema, podemos facilmente lembrar de Luciano Huck. O queridinho da “nova” direita, cotado como candidato a presidência da República em 2022, fez fama na TV espetacularizando a pobreza. Quem não se lembra do quadro Lar Doce Lar onde pobres eram selecionados para ter sua casa reformada e em troca tinham suas vidas expostas em rede nacional? Não podemos nunca esquecer que em dezembro de 2018, Huck participou de evento do RenovaBR, grupo político que se propõe a renovar a política, e declarou apoio à agenda neoliberal de Bolsonaro proposta por Guedes. Por isso cabe a pergunta: onde fica a questão da moradia para os defensores do Estado Mínimo?
O que sabemos é que a direita brasileira torceu o nariz para o maior programa habitacional do país, o Programa Minha Casa, Minha Vida. Tanto que assim que assumiu a presidência, Michel Temer (PMDB) e o seu ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB) revogaram uma portaria do governo Dilma Rousseff (PT) que autorizava a construção de novas unidades. Os integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), movimento que luta pelo respeito ao direito constitucional de moradia, tiveram que ocupar o saguão do prédio da Secretaria da Presidência da República para exigir a manutenção da portaria.
Aqui cabe um parênteses para lembrar do Deltan Dallagnol, que comprou dois apartamentos à vista. O Procurador da República chegou a receber R$ 4.377,73 de auxílio-moradia mesmo tendo casa própria. Utilizando o Programa Minha Casa, Minha Vida como forma de investimento, os apartamentos dele estavam, em 2016, a venda por R$ 135 mil cada — diferença de 59 mil reais em uma unidade (77,6%) em relação ao que ele pagou e de 55 mil na outra unidade (68,7%).
Não é por acaso que os políticos da direita brasileira escolheram Boulos (PSOL) como um dos principais inimigos políticos da atualidade. O líder do MTST é contundente na defesa de que é dever do Estado a garantia de moradia para população brasileira. Já os políticos da direita utilizam a sua ação no Estado para evitar que sejam criadas políticas públicas que possibilite os moradores pobres, de favelas como a do México-70, de conseguirem ter condições dignas de moradia.
O esquema de corrupção de Flávio Bolsonaro já seria estarrecedor por si só, contudo revela outra característica da tacanha direita brasileira: o uso dos problemas sociais como método de obtenção de fama e fortuna.