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Nova política e o critério técnico no Ministério da Educação

Em campanha, Bolsonaro prometeu implementar uma ”nova política” para a escolha dos ministros. Será que ele conseguiu?

Caio Faiad
Boletim Antidoto

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Ainda quando em campanha, Bolsonaro disse que se fosse eleito iria nomear apenas ministros técnicos. Essa fala está conectada com a ideia criada por Bolsonaro de que faria uma “nova política”, isto é, sem o “toma lá dá cá” (dar cargos em ministérios em troca de apoio parlamentar). E isso foi repetido várias vezes por Bolsonaro:

“O critério para preencher (os ministérios) é técnico, não é festa. Não tô lá para fazer um governo como os anteriores, não vou jogar cargo pra cima e quem se jogar na frente pega”

Eis que chegamos a um ano e meio de governo Bolsonaro, e estamos na terceira troca de ministro da Educação. Quando Decotelli foi anunciado como novo ministro, algumas manchetes vieram assim: “Bolsonaro nomeia técnico ligado aos militares para o Ministério da Educação”.

Será que, de fato, Bolsonaro adota critérios técnicos para a pasta de Educação?

Bolsonaro costuma designar a si mesmo como um representante da “nova política” onde a escolha dos ministérios seria por critérios técnicos a despeito dos critérios políticos. Para avaliar se o modo atual de fazer política é realmente nova, é preciso analisar também como os presidentes anteriores faziam política. Por isso, fiz um levantamento dos ministros a partir da redemocratização do Brasil.

De 1985 até hoje tivemos 22 Ministros da Educação. Ao tabular a formação desses ministros chegamos no seguinte resultado:

Por uma análise rápida, observamos que dos 22 ministros, mais da metade foram formados em Direito ou Economia. Sem contar as demais profissões não especializadas da área de Educação. Assim, é de praxe que profissionais da área de Educação não sejam elencados ao posto máximo da Educação nacional. Será que isso não é algo que possa ser correlacionado com os índices educacionais?

A título de comparação, de 1985 pra cá, tivemos 26 ministros da Saúde. No entanto, o resultado é bem diferente do que vemos no Ministério da Educação, pois 20 desses ministros são médicos.

Assim sendo, quando Bolsonaro escolhe Weintraub, um economista, e Decotelli, também economista, o presidente não só não cumpre sua promessa de campanha, mas procede da mesma forma como os demais presidentes procederam. E quando Bolsonaro escolhe Mandetta e Teich, ambos médicos para a pasta da Saúde, o presidente também procede como os demais. Que “nova política” é essa?

Atualmente, a pasta da Saúde é comandada interinamente pelo General Pazuello. O fato do ministro não ser médico é debatido na imprensa. É debatido também a composição do segundo escalão por militares não especializados na área da Saúde. Contudo, o segundo escalão do ministério da Educação também está ocupado por não especialistas da área, mas infelizmente a imprensa não noticia dessa forma. O que falar de Carlos Nadalim, formado em Direito, como secretário da Alfabetização por ser defensor do método fônico de alfabetização? Nadalim não tem formação sobre o tema, apenas um blog e canal no YouTube. Ter blog e canal no YouTube de Educação virou critério técnico?

Quando Bolsonaro escolheu os economistas Weintraub e Decotelli para o cargo, a justificativa era que ambos eram professores. Mas, ser professor já dá um aval técnico para ocupar o Ministério da Educação? A gente poderia aprofundar essa questão se discutíssemos a diferença entre Ensino e Educação, mas isso será tema de uma outra conversa. Vale só lembrar que técnico de futebol é chamado de “professor” pelos jogadores. Olavo de Carvalho, que nem terminou o Ensino Fundamental, também é chamado de professor pelos seus seguidores. Seriam essas pessoas tecnicamente aptas a ocupar o Ministério da Educação?

A verdade é que a questão é complexa e não abarca só ao Bolsonaro, mas a sociedade brasileira como um todo. Por aqui, todo mundo vira especialista em Educação da noite pro dia. Até mesmo Sérgio Moro foi convidado para uma live sobre o tema e só falou generalidades sobre a questão. Quando, de fato, daremos espaço para as pessoas que dedicam uma vida de estudo e de trabalho na Educação para ocupar um cargo tão importante como o Ministério da Educação?

A troca do economista Weintraub pelo economista Decotelli na pasta da Educação implica em uma troca ideológica do governo onde sai um olavista e entra um militar. Assim, a “nova política” de Bolsonaro é igual à velha política, pois prevalece os critérios políticos a mercê dos critérios técnicos. A diferença é que Bolsonaro ao invés de fazer política para o Brasil buscando diálogo com o parlamento, Bolsonaro faz política com a base que o elegeu como se ainda estivesse em campanha eleitoral.

Vocês podem até pensar que é difícil achar alguma pessoa, de fato especialista na área de Educação que aceitaria a fazer parte do governo Bolsonaro. Mas existe! Mirlene Damázio, seria um bom exemplo. A professora da Faculdade de Educação da UFGD foi designada como reitora pro tempore mesmo sem ter concorrido ao cargo e, por tanto, não fazendo parte da lista tríplice enviada ao MEC. Por isso, ela é chamada de primeira interventora do governo Bolsonaro. E um de seus atos como interventora, quer dizer, reitora foi reintegrar seis estudantes de Medicina desligados por fraude na lei de cotas.

Os Ministérios abarcam a parte política e técnica. Enquanto não se compreender que a escolha de ministro não se trata de algo político ou técnico, mas sim político e técnico, Bolsonaro, com apoio da mídia, continuará com suas artimanhas para tentar nos enganar com essa “nova política” à la Tati Pirigueti.

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Caio Faiad
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👨🏽‍🔬Doutorando-USP e fã da Beyoncé ✊🏼Ciência, Democracia e Direitos Humanos. @ocaiofaiad em todas as redes sociais