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O doutorando que está virando FORÇADAMENTE youtuber

Vamos, Caio Faiad! Você tem que gravar um UNBOXING do livro que você comprou para sua pesquisa!!

Caio Faiad
Boletim Antidoto

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Esse ano, eu coloquei como uma das metas ampliar a minha presença nas redes sociais. Faço isso porque algo me preocupa: o desemprego. Em 2011, quando finalizei o mestrado, optei por não dar sequência no doutorado e ir para o mercado de trabalho. Lecionando Química atuei em cursinhos, ensino médio, EJA, Fund II. Cheguei até a trabalhar temporariamente no Instituto Federal do Mato Grosso. Quando retornei ao estado de São Paulo atuei no Ensino Superior.

Apresento esse breve currículo para mostrar que conheço com propriedade as diferentes facetas do meu trabalho na minha área de formação. Em dezembro de 2016, entrei na lista de mestres demitidos de universidade privada, onde trabalhava na Licenciatura em Química no Ensino a Distância. Em 2020 continuo desempregado e a situação que se apresenta, não é nada animadora.

A reforma trabalhista promoveu um grande sucateamento da função de professor universitário na rede privada. Muito dos contratos agora não são mais CLT e sim PJ. E a reforma administrativa de Bolsonaro, que estar por vir, vai minguar as vagas de emprego já raras nas instituições de ensino superior públicas. E aqui cabe um parênteses para lembrar que instituições públicas são as melhores para formar mão-de-obra qualificada no Brasil e também de fornecer melhores condições de trabalho para os docentes/pesquisadores.

O sucateamento é real. Eu estou desempregado desde 2017. Vivo de bolsa de doutorado que acaba em 2021. Então, pensar em forma alternativa de trabalho não me parece algo de alguém que vê a situação como pessimista, como minha orientadora disse na reunião do grupo de pesquisa. NÃO. Não sou pessimista. Estou sendo realista.

Eu poderia estar neste exato momento me dedicando exclusivamente a minha pesquisa. Tema que sei que tenho muito a acrescentar. Contudo, para SOBREVIVER (pagar aluguel e comer) tenho que dividir meu tempo com questões que nada tem a ver com meu doutorado: virar youtuber.

A melhor forma que eu encontrei, foi fazer da plataforma como meio para a divulgação da minha pesquisa. Mas para executar bem essa tarefa, e ganhar likes, comentários e compartilhamentos, preciso me adequar. Preciso adequar a linguagem da pesquisa acadêmica para a linguagem das redes sociais, onde reina a linguagem marqueteira.

Essa tarefa de traduzir a linguagem do “marketing de si mesmo” que ronda o instagram para o “marketing da intelectualidade” está sendo exaustiva. Afinal, que tipo de postagem posso fazer a partir do meu tema de pesquisa? Como transformar um tema que interessa a pouquíssima gente em algo pronto para ser consumido massivamente? Como ter paciência em trazer argumentos elaborados há anos por diferentes intelectuais e receber comentários do tipo: “eu ACHO que não é isso não”?

Essa é uma tarefa que estou descobrindo, aprendendo e me reconstruindo. Aquilo que eu considerava fútil há algum tempo, hoje está sendo minha fonte de inspiração. E isso gasta MUITO o meu tempo. Agora analiso cards, como esse ao lado, com ideias de postagem e tentando fazer essa tradução. Tem coisas aí que espero nunca fazer, como postar “citações motivacionais”, mas outras são totalmente possíveis!

Foi nessa busca de adequação de linguagem, que descobri que pessoas gostam de ver unboxing, um estilo de vídeo que você abre as caixas de recebidos ou daquilo que comprou. Pode ser de livros, de materiais eletrônicas, de qualquer coisa de acordo com a temática de vídeos que o youtuber desenvolve.

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=337620887428143&id=102794548094465

Semana passada assisti a live “Práticas étnico-raciais: culturas afro-indígenas diaspóricas” a convite de uma amiga que conheci em uma disciplina de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP e professora da rede pública da prefeitura de São Paulo, Patrícia Cerqueira. Em um momento da live, a professora Érica Ferreira cita um livro da escritora Kiusam de Oliveira. O livro citado foi O Black Power de Tayó.

Se quiser comprar esse livro, clique na imagem para ser redirecionado à Amazon.

Na hora, lembrei que eu havia comprado um livro da autora, mas não esse, um outro, um lançamento: O Black Power de Akim. Como já era quase 18h corri na zeladoria do prédio, antes que o zelador fosse embora. Eu comprei esse livro por conta da proposta que estou desenvolvendo na minha pesquisa.

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Eu simplesmente iria abrir a caixa para ver se o livro veio intacto. Até que meu companheiro me interpelou:

Você não vai gravar um UNBOXING?

E foi assim que gravei o meu primeiro vídeo abrindo uma caixa de livro que comprei para a minha pesquisa. Livro que preciso ler para verificar a possibilidade de inclusão no meu curso de formação de professores sobre Educação das Relações Étnico-raciais no ensino de Química. Se você quiser ver esse vídeo cheio de falhas porque não apresento as informações técnicas como editora, ilustrador etc. o link estará no final deste texto.

Mas eu gostaria de finalizar com alguns questionamentos: Quando foi que o Estado brasileiro achou inteligente formar mestres e doutores e parar de contratá-los? Quando foi que a comunidade científica brasileira achou interessante formar mestre e doutores sem incluir o trabalho científico como experiência profissional? Quando foi que a sociedade brasileira começou a achar interessante que a preocupação de mestres e doutores deveria ser UNBOXING? Quando foi que banalizamos a saúde mental dos jovens pesquisadores? Sim!! Saúde mental. Porque se dedicar mais de 10 anos na pesquisa científica pra ter como destino o desemprego não é algo que deixa as pessoas em plena sanidade mental.

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Caio Faiad
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👨🏽‍🔬Doutorando-USP e fã da Beyoncé ✊🏼Ciência, Democracia e Direitos Humanos. @ocaiofaiad em todas as redes sociais