Da despoetização do discurso

António Alves
Bolôr e sujidade
Published in
5 min readJun 19, 2015

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Como o discurso poético de políticos e analistas esconde e disfarça o inevitável

É de longe o problema, o foco do momento. É como se a sociedade tivesse furado uma caixa de sapatos com um pionés, e depois tivesse enfiado a caixa pela cabeça abaixo e olhasse o “seu” mundo pelo pequeníssimo buraco obtendo uma imagem invertida.

Mais, depois de tentar ver lá para fora, essa inversão da realidade é repetida até à exaustão pelos poucos que conseguem focar a imagem, ainda que uma vez mais, invertida. Falo por exemplo da primeira cabeça do país, que à laia de lorpa sabichão, diz a plenos pulmões, que na Europa do Euro não há excepções.

Vá-se fuder! O que não falta são tratamentos de excepção a toda a linha na UE. Desde défices excessivos, engenharia financeira, empréstimos com colaterais, a lista de excepções negociadas nos Euro-grupos e cimeiras é extensa. A prova disso está nos diferentes tratamentos dados a países como Grécia, Portugal, Espanha, Itália e França. Cada um pecador, mas com diferentes perdões de acordo com a proximidade “ao Eixo”.

Mas parece que todos (ou quase todos) se esqueceram da Islândia, que disse não aos credores (leia-se Bancos e fundos) que levaram a economia ao endividamento excessivo em conluio com políticos e banqueiros corruptos.

Já o FMI, controlado pela hegemonia financeira mundial anglo-saxónica com bolsos em todos os países (ou quase) vai ter dos gregos um novo putz!

Assim, depois de se informarem devidamente sobre as consequências, os Islandeses correram com os corruptos que os tinham governado desde 1944, e formaram novos movimentos cívicos (ainda se lembram do Syriza, Podemos, etc…), com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias seriam pagos pelos accionistas dos Bancos e seus credores, não por trabalhadores, desempregados ou pensionistas. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco (tal como no BES, e como não foi feito no BPN), deviam agora aguentar com as suas perdas naquilo a que Jerónimo de Sousa chama com carinho e alguma graça, a economia de casino.

Então a 25 de Abril (!!!) de 2009, depois de um referendo “forçado” que ditou um NÃO redondo (93%) às condições do FMI, a Islândia elegeu um novo governo em que não há um único membro das “linhagens” corruptas anteriores, e o FMI teve de negociar um empréstimo ao país a uma taxa de 3,3% a liquidar em 30 ANOS!!!

É pois a Islândia a maior excepção, e o exemplo mais perigoso para a canalha bafienta, corrupta e gananciosa que vós permitis que vos governe. Um exemplo perigoso demais.

Outra coisa curiosa que esta nação de 350 mil almas conseguiu foi também o mais importante, aprovar uma nova Constituição, mudar o paradigma da economia especulativa para uma exportadora e ingressar na UE e Euro zona assim que esteja em condições. Estou certo que o conseguirão, se a UE ainda existir…

Curioso é que o caminho não foi isentos de espinhos, aumentaram-se impostos, extinguiram-se serviços do Estado que só mamavam do erário (AH, se eles fossem a Portugal….!) e mantiveram-se os fundamentais e necessários. Como dizia o artigo onde me baseei, o FMI perante estas condições “não tugiu nem mugiu”.

É pois a Islândia a maior excepção, e o exemplo mais perigoso para a canalha bafienta, corrupta e gananciosa que vós permitis que vos governe. Um exemplo perigoso demais.

Citando:

Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios, mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios, sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010.

O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores.

Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas.

Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações.

Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado.

Francisco Gouveia, Eng.º…

Ora como dizem os Galegos, “se pode decir mais alto, pero no mais claro”. A Grécia, e o Syriza em particular, sabem que a UE e mais nomeadamente os bancos europeus inundados em dívida grega e com as costas quentes de quem colocaram nos lugares chave, tudo iram fazer para que a Grécia não escorregue para fora do barco. Já o FMI, controlado pelos bancos, fundos e agências de rating, por sua vez controlados pela hegemonia financeira mundial anglo-saxónica com bolsos em todos os países (ou quase) vai ter dos gregos um novo putz! Tinha a fama e agora tem o proveito de autênticos agiotas que só espezinham quem não lhes faz frente.

E ainda agora os estrategas de Putin começaram a jogar… Lembremo-nos que a Grécia é dada a ditaduras e golpes militares, que a Rússia não está nada contente com a NATO, que estes estão a armar estados marionetas no Leste Europeu (dentro da Europa), e que em alguns destes estados como por exemplo a insuspeita Dinamarca, a extrema-direita ganha terreno, depois de os cornos esquerdistas deixarem entrar uma verdadeira invasão de cidadãos, que em muitos casos apenas parasitam os nacionais, se juntarmos a isto tudo um fartar vilanagem da área financeira, e uma corrupção que em raros casos dá cadeia, estamos perante não um poema europeu, mas o prelúdio de uma tragédia grega.

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